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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Acordo não garante paz na Colômbia

O povo colombiano conquistará a paz com o triunfo da revolução e do socialismo

acordo farcNo dia 23 de junho, o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc-EP) firmaram o “Cessar fogo e de hostilidades bilateral e definitivo e de deposição de armas”, que constitui o passo prévio da assinatura do acordo de paz iniciado no último dia 22 de agosto. No País e em nível internacional celebrou-se este fato como um acontecimento histórico que “devolverá a paz e a tranquilidade” aos colombianos, desconhecendo que o agudo conflito político-social existente nesse país tem origem em causas que não foram superadas.

A ação das forças insurgentes colombianas vem desde pouco mais de meio século e as razões que motivaram a luta armada ainda estão presentes: a exploração e a opressão a que se encontram submetidos os trabalhadores e povos pela ação do sistema imperante; a dependência estrangeira, que não permitiu nem permite um desenvolvimento soberano do País; e a necessidade de conquistar uma sociedade que liberte os povos e o País dessas ataduras e lhes outorgue liberdade, democracia e bem-estar.

As distintas organizações guerrilheiras da Colômbia, como as Farc-EP, o Exército Popular de Libertação (EPL), o Exército de Libertação Nacional (ELN), reivindicam e lutam pelas aspirações do povo colombiano com a mira posta em derrotar política e militarmente a burguesia colombiana, que conta com um dos maiores exércitos regulares da América, que, por sua vez, recebe assessoramento e financiamento do imperialismo norte-americano. Durante todos esses anos de luta armada, as forças insurgentes tiveram vitórias de distintos calibres, momentos de desenvolvimento e crescimento de suas forças, de incremento da simpatia e apoio popular a suas ações. Também enfrentaram episódios nos quais foram golpeados e tiveram afetadas suas forças e influências. Apesar dos esforços de todos os governos que, nestes últimos anos, revezaram-se no Palácio de Nariño e na Casa Branca, nenhuma das organizações foi derrotada militarmente, mas tampouco desenvolveram a capacidade necessária para conquistar o poder.

Ainda que as causas estruturais que motivaram e justificaram a luta das organizações guerrilheiras se mantenham, não podemos deixar de levar em consideração que o cenário político colombiano mudou notavelmente. Durante 50 anos, a sociedade colombiana foi testemunha da luta guerrilheira revolucionária, mas também da resposta militar do exército burguês desde o início e, mais adiante, de grupos paramilitares organizados e financiados pelos setores belicistas mais reacionários da burguesia desse país, que atuaram também contra a população civil não participante do conflito armado. Desta maneira, a classe dominante colombiana e o imperialismo foram capazes de criar um cenário de violência permanente e sistemática, no qual, para a maioria da população resulta muito difícil de diferenciar entre violência revolucionária necessária de ser utilizada para libertar o povo, da violência reacionária para manter o domínio do sistema. Para o povo colombiano, o país está sendo consumido pela violência e isso esgotou a sociedade, que levanta massivamente as bandeiras da paz, ainda que existam muitos temas e aspectos nos quais a divisão e a polarização social são evidentes.

Essa circunstância implica que o cenário ou as condições políticas para a ação das forças insurgentes são adversos. A luta armada como via para conquistar o poder não fracassou; as circunstâncias político-sociais obrigam priorizar outras formas de luta das massas que permitam uma maior e mais rápida acumulação de forças para tomar o poder. A luta armada, como toda forma de luta, não pode ser aplicada de maneira voluntarista, mecânica, quer dizer, com seu uso determinado só pelo desejo dos atores políticos, sem levar em consideração as condições político-sociais existentes em uma sociedade determinada: correlação de forças, grau de consciência política das massas, níveis e formas organizativas do movimento popular, limitações extremas para a utilização de outras formas de luta das massas, etc. Na luta política, e na luta armada como expressão da luta política por outros meios, há ocasiões em que é necessário fazer concessões, retiradas estratégicas, e nem por isso podem ser qualificadas como traição à luta.

A decisão adotada pelos representantes das Farc-EP de subescrever o “Cessar fogo e de hostilidades bilateral e definitivo e de deposição de armas” leva em consideração esse desejo de paz dos colombianos, mas: deixa de lado que existem graves problemas econômicos, políticos e sociais sobre os quais o Governo não faz nada para resolvê-los e, pelo contrário, sua gestão os agudiza; outorga muitas concessões para alcançar sua reinserção, incluindo a aceitação de que alguns de seus integrantes sejam julgados como criminosos de guerra; permite que o Governo descumpra compromissos acordados durante as negociações, como a execução de uma reforma agrária que ajude a resolver a grave situação em que vive o campesinato colombiano. A “deposição de armas”, na realidade, constitui uma entrega das mesmas, pois a Organização das Nações Unidas as receberá para construir com elas três monumentos: em Cuba, na ONU e na Colômbia. Confiar que o Estado burguês aplique as reformas sociais e políticas que constam nos acordos alcançados durante as conversações e que respeite a vida e a segurança dos combatentes é uma perigosa ilusão.

É justa a busca das Farc-EP em dar uma saída política ao conflito existente nesse País, mas não abandonar as propostas e o programa que motivaram seu surgimento, senão buscando mecanismos que permitam continuar essa luta em melhores condições. Uma negociação com esse tipo de concessões aceitas por quem subescreve o acordo implica uma derrota política para essa força insurgente e não uma vitória, e pode alimentar o discurso promovido pelo imperialismo e pela burguesia internacional de que 50 anos de luta não serviram para nada, que foi uma luta em vão.

A assinatura deste acordo não traz por si mesma a paz na Colômbia, pois o Estado colombiano foi tomado pelo narcotráfico que atua junto a bandos criminosos, a grupos paramilitares que operam amparados por altos chefes militares e, ademais, porque existe uma sistemática violência estatal aplicada contra o movimento popular e social que luta por seus direitos e reivindicações. O movimento social não baixa suas bandeiras de luta; não permitirá que se estabeleça uma paz de cemitérios, sua voz se manterá firme e sonora. Junto a eles, mantêm sua luta organizações como o Exército Popular de Libertação, braço armado do Partido Comunista da Colômbia (marxista-leninista), a quem expressamos nossa solidariedade pela valorosa luta que mantêm.

A luta armada revolucionária tem vigência na Colômbia e em todo o mundo onde o capitalismo não foi derrotado. Esta, com a participação do povo e em condições históricas concretas, levará à conquista do poder aos trabalhadores e ao povo para a construção do socialismo e do comunismo.

Fonte: Em Marcha

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