Durante meses, os grandes meios de comunicação da burguesia e seus partidos afirmaram que era necessária uma mudança de governo para pôr fim à corrupção e ao caos na economia. Tudo mentira!
Com Temer na Presidência, a corrupção ganhou ainda mais força e a crise econômica se aprofundou. O Brasil é hoje governado por uma quadrilha, que se encastelou em postos estratégicos da administração pública a fim de proteger seus negócios criminosos e impedir qualquer investigação séria contra a corrupção.
Sem dúvidas, essa é a marca registrada do Governo Temer. Já na formação do “novo” Ministério, o presidente golpista mostrou a que veio: nenhuma mulher ou negro foi nomeado ministro, mas, em compensação, muitos corruptos foram promovidos. Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Raul Jungmann (Defesa), Romero Jucá (Planejamento, Desenvolvimento e Gestão), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Mendonça Filho (Educação e Cultura), Eliseu Padilha (Casa Civil), José Sarney Filho (Meio Ambiente), Henrique Alves (Turismo) e José Serra (Relações Exteriores e Comércio Exterior) compõem um time de fazer inveja à máfia. A maioria dos 22 indicados responde a processos e acusações de crime.
De fato, em apenas 30 dias de governo, Temer perdeu três dos seus ministros por conta de maracutaias. O próprio Temer, ao contrário da presidenta afastada Dilma Rousseff, foi citado diversas vezes na Operação Lava Jato, enquadrado na Lei da Ficha Limpa e está inelegível por oito anos, por decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
A ficha corrida do vice-presidente não é nada decorativa: em documentos confiscados pela Polícia Federal na casa de um executivo da construtora Camargo Corrêa, o nome de Temer aparece 21 vezes entre 1996 e 1998, ao lado de quantias que somam US$ 345 mil. Em 2014, investigadores da Lava Jato descobriram uma nova planilha que também relaciona o vice-presidente a dois pagamentos de US$ 40 mil. Já em 2015, Júlio Camargo, ex-consultor da empresa Toyo Setal, afirmou que o lobista Fernando Baiano era operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras, representando o presidente do Senado, Renan Calheiros, da Câmara, Eduardo Cunha, e Michel Temer. Ele também recebeu ao menos R$ 5 milhões da construtora OAS, segundo indícios apontados pela Procuradoria Geral da República, e se envolveu em um caso de aquisição ilegal de etanol por meio da BR Distribuidora, ocorrido entre 1997 e 2001, ainda no Governo FHC (PSDB).
Também postos estratégicos do governo interino foram ocupados por aliados de Cunha, afastado pelo STF por corrupção. São indicações dele os nomes dos ministros Maurício Quintella (Transportes), Ronaldo Nogueira (Trabalho), Ricardo Barros (Saúde) e Marcos Pereira (Indústria). Cunha ainda articulou a nomeação do deputado André Moura (PSC) como líder do Governo na Câmara. Moura é investigado na Lava Jato e réu em processos criminais no Supremo Tribunal Federal (STF) sob a acusação de improbidade administrativa e até de assassinato.
O Ministério da Justiça também foi ocupado por um aliado de Cunha, Alexandre de Moraes, ex-advogado do deputado que, em 2014, conseguiu que Cunha fosse absolvido no STF em uma ação por uso de documento falso.
A força e influência de Cunha no Governo Temer são tão grandes que o senador e ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), um dos principais articuladores do impeachment e tido, à época, como homem forte do governo interino, afirmou em uma das gravações divulgadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que “Michel (Temer) é Eduardo Cunha”. Jucá renunciou ao cargo e, após o vazamento das conversas que o flagraram articulando o fim da Lava Jato.
Em sua delação premiada à Justiça, Sérgio Machado ainda cita o ex-presidente José Sarney (PMDB) 52 vezes e o senador Aécio Neves (PSDB), 40 vezes, além do ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PSDB), morto em 2014, do senador José Agripino Maia (DEM) e do deputado federal Felipe Maia (DEM).
Um governo comandado por Eduardo Cunha e Michel Temer não poderia ser diferente. Além do presidente interino e do ex-ministro Jucá, ao menos outros seis de seus ministros foram citados nas investigações da Operação Lava Jato.
A lista começa por Henrique Eduardo Alves (PMDB), nomeado ministro do Turismo nos Governos Dilma e Temer, e acusado de receber propina da OAS em troca de favores na Câmara dos Deputados. Continua com Geddel Vieira Lima (PMDB), ministro da Secretaria de Governo, que participou do escândalo dos “Anões do Orçamento”, em 1993, e hoje é acusado de usar sua influência para atuar em favor dos interesses da OAS.
Já os ministros Mendonça Filho (DEM), Raul Jungmann (PPS), Bruno Araújo (PSDB) e Ricardo Barros (PP) são figurinhas carimbadas na famosa “Lista da Odebrecht”, apreendida pela Polícia Federal na sede da construtora, em março.
Tem mais: Alexandre Moraes, da Justiça, foi ex-secretário de Segurança Pública do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, e é conhecido por advogar a favor de criminosos. A lista de clientes de Moraes vai de diretores da multinacional alemã Siemens, envolvidos no esquema de propinas do cartel de trens em São Paulo, ao PCC.
Na Agricultura, a pasta é de Blairo Maggi, que, antes de ser ministro, já era o “rei da soja” em Mato Grosso e recebeu de ambientalistas o prêmio “Motosserra de Ouro”. Segundo o Greenpeace, Maggi é responsável por, pelo menos, metade da devastação ambiental brasileira entre os anos de 2003 e 2004. Atualmente, é investigado pela Justiça por lavagem de dinheiro, dano ao erário público e improbidade administrativa.
Ao mesmo tempo, Eliseu Padilha (PMDB), que assumiu a Casa Civil, é alvo de ações no STJ e no STF por ocultação de bens, formação de quadrilha, corrupção passiva, peculato e improbidade administrativa. Seu colega, José Serra (PSDB), nomeado ministro das Relações Exteriores e Comércio Exterior, é macaco velho em matéria de corrupção: era governador de São Paulo quando da formação do cartel e da fraude em licitações para a compra de novos trens, o conhecido como “trensalão tucano”, e, durante o Governo FHC, foi o idealizador do processo de privatizações que entregou a preço de banana parte importante do patrimônio público brasileiro.
Engana-se, porém, quem pensa que apenas o Congresso Nacional, o Planalto e a Esplanada dos Ministérios estão ocupados por golpistas e corruptos. No Supremo Tribunal Federal eles também mandam. Apesar de todas as evidências de que o impeachment de Dilma se trata, na realidade, de um golpe, nenhum dos ministros do STF se levantou contra esse processo, pois também se beneficiam dele.
Michel Temer tem se mostrado um servo fiel dos interesses do capital e dos agiotas. Em poucas semanas à frente do governo, publicou medidas provisórias que visam a entregar à iniciativa privada o que resta de nosso patrimônio público, afirmou que sua prioridade é garantir o pagamento da dívida pública e tem se empenhado em fazer uma nova Reforma da Previdência para retirar ainda mais direitos da classe trabalhadora.
Por isso, não podemos esperar nenhuma medida séria de combate à corrupção deste ou de nenhum outro governo capitalista.
Heron Barroso, Rio de Janeiro