Relacionamentos abusivos são modelos de comportamentos violentos e destrutivos com intuito de controlar a parceira ou parceiro. Muitos acreditam que relacionamentos abusivos se configuram pelo ato de agressão física, mas o abuso remete a um contexto de violência muito maior. Pesquisas apontam que 70% das mulheres sofrem violência ao longo da vida. A violência física imposta por um parceiro íntimo, como espancamento, estupro e outras condutas abusivas, é a forma mais comum de violência sofrida pelas mulheres no mundo.
No Brasil, a cada quatro minutos, uma mulher é vítima de violência. No ano de 2013, o Instituto Avon e o Data Popular lançaram a pesquisa “Percepções dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher”. A pesquisa foi realizada em todas as regiões do país e apontou que 41% da população diz conhecer um homem que já foi violento com a parceira, mas apenas 16% dos homens assumem terem sido violentos. Dos homens, 53% já xingaram a parceira; 19% já as empurraram; 9% já as ameaçaram com palavras; 8% já lhes deram um tapa; 7% já impediram suas parceiras de sair de casa; 6% já arremessaram algum objeto durante uma briga; 5% já humilharam sua companheira em público; 4% já deram um soco nelas; 2% já as obrigaram a fazer sexo contra a sua vontade; e 1% já as ameaçou com uma arma. Um recorte de classe mostra que 53% dos homens de classe baixa, 55% dos homens de classe média e 59% dos homens de classe alta já cometeram alguma dessas agressões contra uma parceira. Ciúmes/possessividade/desconfiança, falta de respeito, falta de diálogo/compreensão, falta de amor/carinho e traição/infidelidade parecem ser os cinco maiores motivos pelos quais os homens (segundo eles mesmos) se tornam violentos.
Os diferentes tipos de abuso
Por vezes, a palavra abuso remete muito ao abuso sexual ou à agressão física. Mas, como apontam os dados, existem variações de abusividade dentro de um relacionamento que são mais frequentes que a própria agressão física.
Violência sexual: forçar o(a) parceiro(a) a fazer qualquer tipo de ato sexual quando ele(a) não se sente confortável ou apenas quando não gostaria de fazer.
Violência física: qualquer agressão no corpo do(a) parceiro(a). Não necessariamente deixa marcas no corpo, ainda assim, não significa que é saudável.
Violência emocional ou psicológica: inclui diversos tipos de comportamentos não físicos, como xingamentos, mentiras, traições, descumprimento de acordos, insultos, monitoramento constante, perseguição, humilhação, intimidação e até mesmo isolar o(a) parceiro(a) de outras pessoas próximas como família e amigos.
Violência financeira: controlar as contas e os gastos do(a) parceiro(a). Dizer o que ele(a) deve ou não fazer com seu dinheiro. Exigir que faça gastos que não necessariamente dizem respeito a ele(a). Impedir que ele(a) seja independente financeiramente também é uma forma de agressão.
Violência digital: práticas de assédio, perseguição ou intimidação de parceiros controlando suas redes sociais, seu telefone, mantendo contato constante através de telefone, SMS ou outras formas de comunicação. Agredir verbalmente ou emocionalmente, mesmo que de maneira virtual.
Perseguição: seguir, assediar, observar, fazer o(a) parceiro(a) se sentir com medo ou inseguro(a) também é uma forma de abuso. Pode ser realizada pelo(a) ex-namorado(a) ou até mesmo um(a) estranho(a).
Como conseguir ajuda?
Existe hoje no Brasil uma Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência que busca garantir o atendimento humanizado e qualificado às mulheres em situação de violência.
Quando pensamos em todas as formas de abuso e como elas se dão, logo nos perguntamos: “por que não romper com essa relação?”. Precisamos ter consciência de que não é uma tarefa fácil identificar uma pessoa abusiva nem sair de um relacionamento de abuso. Por isso, por mais que existam espaços que possam ajudar nessa difícil situação, é necessário, mais do que tudo, muita coragem, força e principalmente um resgaste do que a pessoa era ou é capaz de se tornar após um período em que se sente constantemente diminuída. E sabemos que isso não é nada fácil de encarar, pois a violência é tão banalizada e naturalizada que, ao invés de a lei e a sociedade protegerem as mulheres, elas sempre são culpabilizadas.
Mas é importante entender que o Estado capitalista serve para manter a mulher em situação de dominação, submissão, sem conseguir enxergar e ter forças para romper as correntes que a prendem. Então, o abuso em relacionamentos acaba se tornando uma faceta comum da violência contra a mulher.
O machismo e o patriarcado afastam as mulheres de qualquer lugar de destaque, de decisão sobre sua própria vida e sobre o futuro que queremos para nós e para o restante do mundo. Somos mais da metade da população do país e, organizadas, faremos uma grande diferença. Por isso, convém para o sistema nos manter caladas, submissas e apassivadas, inclusive nas nossas relações pessoais.
Mais do que coragem, atitudes individuais não bastam. Apenas a organização das mulheres conseguirá romper com esse sistema de exploração e opressão. O Movimento de Mulheres Olga Benario se dispõe na luta por uma sociedade em que as nossas vidas importam e estejam acima de qualquer lucro, por uma sociedade igualitária, sem classes, sem exploração e sem abusos.
Thainá Battesini Teixeira, Movimento de Mulheres Olga Benario do Rio Grande do Sul