Ato fecha Habib’s e exige justiça para João Victor

Na última quinta-feira, 16 de março, famílias e amigos do João Victor, criança assassinada pela Habib’s, se reuniram mais uma vez para exigirem justiça. João Victor foi cruelmente assassinado por pedir comida no Habib’s no dia 26 de fevereiro. Desde então nada foi feito para punir os criminosos, pelo contrário. O Habib’s, apoiado pela grande mídia burguesa, vem legitimando a morte de João Victor com alegações de que ele teria atentado contra a lanchonete, que ele teria morrido na verdade em decorrência de uso de drogas, corroborado recentemente pelo laudo do IML.

Nas escadarias da Catedral da Sé, no centro de São Paulo, várias falas repudiaram o assassinato de João Victor e a política de legitimação de sua morte feita pelo Habib’s. Para o advogado Ariel de Castro Alves, que acompanha o caso e é membro da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo (CONDEPE), o laudo do IML que levanta a hipótese de morte por infarto decorrente do uso de substâncias tóxicas será questionado em um novo laudo, que deve ser realizado para que a verdade apareça. Um perito contratado pelos advogados, em avaliação do laudo do IML, constatou irregularidades no documento, como o pouquíssimo tempo de análise, apenas um dia, e que a morte provavelmente é resultado das agressões, a partir do que aponta o próprio laudo. Segundo Ariel, “este laudo lembra os laudos da ditadura militar assinados pelo médico Henry Chibata que era feito para encobrir os crimes de torturas e assassinatos do regime ditatorial”.

Já Fernanda, mãe de João Victor, falou para todos os presentes que não teve oportunidade de abraçar seu filho e nem ver seu corpo que foi entregue para a família em um caixão lacrado. Para Fernanda “à nenhuma mãe pode ser negado o direito de ver seu filho, mas eu não pude ver meu filho. Apenas vi seu resto pelo vidro do caixão fechado”, se emocionou a mãe que afirma com convicção que o filho foi morto e que existe uma fraude para encobrir a verdadeira causa da morte, amplamente conhecida através das testemunhas e imagens de câmeras de segurança que mostram a criança quase sem vida sendo arrastada e jogada na calçada pelo segurança e pelo gerente da lanchonete Habib’s.

 Outras falas lembraram que o caso de João Victor está longe de ser isolado. Dados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo revelam que de 2010 a 2014 aumentaram 91% os registros de assassinatos de jovens com menos de 18 anos, isso considerando informações dos hospitais, do IML (Instituto Médico Legal) e do Serviço Funerário do Município. Esse fato reflete uma realidade muito presente entre a juventude periférica de São Paulo: a política de extermínio de jovens da periferia, principalmente da juventude negra.

Entre as falas de denúncia foram declamados alguns poemas e cantados alguns raps em homenagem a João Victor. Em seguida o ato saiu, com palavras de ordem como “Ei, João, o povo tá na rua” e “Habib’s assassino!”, em cortejo até uma lanchonete do Habib’s próxima à Catedral da Sé. Várias pessoas que passavam pelo ato se integraram à manifestação dando seu apoio à família e fazendo coro no pedido de justiça à João Victor.

Chegando na filial, foi feita mais uma vez a denúncia do caso aos funcionários e clientes que estavam na lanchonete, com pedidos de sensibilidade à família e amigos de João Victor. Vitorioso em fechar a filial do Habib’s, a luta ainda vai seguir até os culpados serem punidos por esse crime tão bárbaro.

Rafaela Carvalho, São Paulo