Várias organizações de mulheres da Argentina (Multisectorial de Mujeres de Jujuy, Casa de La Mujer María Conti, Mujeres Unidas en Lucha, entre outros) estão convocando para 8 de março uma greve geral de mulheres reivindicando um basta aos femicídios e exigindo a declaração de emergência na violência sexual e doméstica contra a mulher e que se garantam os recursos necessários para que o Estado atue contra esses crimes. O movimento também exige justiça pelo assassinato de Nahir Agustina Mamani, Yolanda Velázquez e Magdalena Solange, ocorridos em 2017.
Na Argentina, a cada 18 horas, uma mulher é assassinada e as mulheres trabalhadoras recebem 27,2% menos que os homens. Para conhecer melhor essa luta, A Verdade ouviu María Rosário, que participou e foi uma das dirigentes da tomada da fábrica de alimentação Terrabussi, atual Mondelez, em 2009, contra as demissões. O resultado do movimento foi a tomada da comissão interna da fábrica, atualmente dirigida por uma aliança da qual participam membros da CCC. Atualmente, Rosário se dedica ao trabalho entre as mulheres.
A Verdade – Ocorreram várias jornadas com a bandeira “Nenhuma a Menos” na Argentina, inclusive com uma greve geral das mulheres. Como foi essa mobilização?
María Rosário – O movimento de mulheres na Argentina tem uma longa luta de muitos anos por suas reivindicações. Há 31 anos são desenvolvidos os Encontros Nacionais de Mulheres e, no último deles, na cidade de Rosário, participaram 70 mil mulheres. Isso teve um grande impacto nos movimentos de mulheres. E assim não pôde haver um “Nenhuma a Menos” sem a existência dos encontros. Os dois “Nenhuma a Menos” foram grandes mobilizações contra a violência às mulheres, motivadas por femicídios ocorridos cada vez com maior crueldade. Também houve mobilizações locais, como a ocorrida na cidade de Mar del Plata, onde um dos executores de um crime acreditou ter amparo por ser de uma família “tradicional”. Com este movimento a violência pela qual nós mulheres nos vemos afetadas foi ganhando visibilidade e aí foi possível elaborarmos uma Lei de Emergência Contra a Violência, com orçamento e medidas de prevenção urgentes, como refúgios onde as companheiras vítimas de violência possam ir resolvendo suas necessidades e um subsídio que as possibilite subsistirem, entre outras medidas.
Este ano, quais são as perspectivas do movimento de mulheres na Argentina?
A última paralisação de mulheres foi bem recebida e foi trabalhada para que fosse exitosa. Isso permitiu que as mulheres discutissem suas necessidades em cada local de trabalho e houvesse pronunciamentos contra a violência às mulheres. Entre as perspectivas, estamos trabalhando de forma direta a paralisação e mobilização no 8 de março, quando pretendemos debater, em cada local de trabalho, dois eixos: as reivindicações próprias e o pronunciamento contra a violência. Apesar disso, fica um longo caminho por percorrer e seguimos lutando: salário igual por trabalho igual, jardins materno-paternais, licença paga em casos de violência, redução da idade da aposentadoria, eliminação do imposto aos lucros, fim dos femicídios, criação de uma lei que declare a emergência sobre a violência às mulheres, educação sexual para decidir, anticoncepcionais para não abortar e aborto legal para não morrer.
Da Redação