Bradesco lucra de R$ 42 bilhões e demite milhares de bancários

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Herdeira do Bradesco, Lia Aguiar, em sua casa

Em 2015 e 2016, o Bradesco teve R$ 32, 274 bilhões de lucro líquido. No primeiro semestre deste ano, foram mais R$ 9,352 bilhões de lucro. Assim, em dois anos e seis meses, o maior banco privado do Brasil acumulou um total de R$ 42,626 bilhões de lucro. Esta fortuna ganha em apenas 30 meses vai para os bolsos de algumas poucas pessoas: os donos do Banco, entre eles Lina Maria Aguiar e Lia Maria Aguiar, filhos e netos, e Cleide Campaner Aguiar.

Esse fabuloso lucro foi alcançado pelo Bradesco com a exploração dos seus trabalhadores, a cobrança abusiva de juros e taxas dos clientes e ao dinheiro recebido dos pagamentos de juros da dívida pública realizado religiosamente pelo Governo Federal. Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, em 2015, o Governo pagou de juros e amortizações da dívida R$ 962 bilhões, 42% do Orçamento público.

Destaque que esse mesmo governo, que gasta R$ 962 bilhões por ano com os banqueiros, corta verbas do Sistema Único de Saúde (SUS), da assistência estudantil nas universidades públicas e impede 525 mil famílias que estão vivendo na miséria de terem direito ao programa Bolsa Família. Não tem dinheiro para os pobres, mas tem para os banqueiros.

Mas, apesar desses enormes lucros (cada acionista do Bradesco recebe por mês R$ 5 milhões livres de qualquer imposto e sem bater um prego numa barra de sabão), os donos do Bradesco decidiram demitir dez mil funcionários, a quem eles chamam “carinhosamente” de colaboradores. O programa de demissão do Bradesco visa a adaptar o banco aos benefícios da reforma trabalhista aprovada pelo corrupto Congresso Nacional e pelo Governo Federal e com total conivência das Forças Armadas. Como a reforma retirou vários direitos dos trabalhadores, o banco está demitindo para contratar funcionários temporários ou terceirizados, sem carteira assinada, com salário menor e jornada de trabalho maior.

Esse criminoso plano dos patrões do Bradesco foi chamado de Plano de Demissão Voluntária (PDV), mas é mais apropriado defini-lo da seguinte maneira: “se você pedir demissão, ganha mais um salário de bônus e se não pedir, vai para rua de qualquer jeito”. Até a última semana de agosto, mais de cinco mil trabalhadores já tinham sido demitidos pelo banco. São “colaboradores” que, após anos trabalhando para crescer a fortuna desses ricaços, ficarão agora desempregados. Como são bancários e os outros bancos também estão demitindo – no ano passado, os cinco maiores bancos demitiram mais de 13.600 trabalhadores e fecharam 422 agências bancárias – é de se perguntar: onde conseguirão emprego?

Ademais, de acordo com levantamento do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), o Brasil tem 15,2 milhões de lares onde ninguém tem trabalho.

No dia 31 de julho, o jornal Valor Econômico publicou o drama do desemprego vivido por uma família da cidade de São Caetano, São Paulo:

“Há dois meses, Carla Fernanda Bastos, de 22 anos, chegou de manhã para trabalhar no laboratório em que atuava como técnica de enfermagem, ganhando R$ 1,2 mil por mês. Minutos depois, recebeu a notícia de que estava sendo demitida. A empresa precisava cortar custos. Triste, ligou para a mãe, que trabalhava como recepcionista em São Caetano. As duas combinaram de conversar pessoalmente no começo da tarde. Quando se encontraram, Carla tomou o segundo susto do dia: a mãe também fora dispensada do emprego.

A situação deixou a família dependendo exclusivamente do pai de Carla, que trabalha como autônomo fazendo entregas, já que o irmão dela também havia perdido o emprego de instalador de portas e janelas no começo do ano. ‘A gente está tentando, mas não está fácil’, resume.”

Mas, diante dessa tragédia social, em que milhões e milhões de trabalhadores e trabalhadoras estão sem emprego e não têm dinheiro para comprar comida e garantir pelo menos três refeições por dia, uma única família, que é dona de um banco, para obter “ganhos de eficiência”, ou seja, aumentar ainda mais seus já gigantescos lucros, demitem milhares de bancários.

Essa é a lei suprema da sociedade capitalista: o lucro acima da vida das pessoas.  Uma sociedade em que o que é sagrado é a propriedade privada dos meios de produção, e o rico ficar mais rico. Se, para continuar enriquecendo, os patrões precisam demitir funcionários, aos quais hipocritamente chamam de colaboradores, fazem isso sem derramar uma só lagrima.

Por isso, enquanto a economia, as fábricas, as empresas, os bancos (e também o governo) forem propriedade de uma minoria de patrões, continuará existindo desemprego, pobreza, violência, prostituição e crianças e adultos revirando lixos à procura de comida. É preciso, portanto, organizar uma revolução popular para derrubar a república dos banqueiros e construir a república operária, o estado da liberdade.

Foi por essa causa, a causa da revolução socialista, que morreu, em 4 setembro de 1973, o fundador do Partido Comunista Revolucionário (PCR), Manoel Lisboa de Moura, torturado e assassinado de forma covarde e cruel pela ditadura militar. Também foram assassinados por lutar por um Brasil sem a exploração do homem pelo homem, Emmanuel Bezerra, Amaro Luiz de Carvalho, Manoel Aleixo, Amaro Félix, entre outros. Porém, eles não morreram em vão.

A luta para transformar verdadeiramente nosso país, para acabar com o capitalismo e estabelecer o socialismo, é uma luta que cresce a cada dia, pois mais e mais trabalhadores estão compreendendo que é pura demagogia defender o crescimento econômico e a distribuição de renda, mas manter as fábricas, a terra, as grandes empresas e os bancos sob o controle da grande burguesia.

Com efeito, ser favorável à continuidade do capitalismo em nosso país é, na verdade, ser partidário da escravidão assalariada, do agronegócio continuar expulsando os camponeses do campo, de perpetuar o Brasil como um exportador de commodities e paraíso para banqueiros e empreiteiras, enfim, é ser cúmplice dos crimes da burguesia contra os trabalhadores.

Lula Falcão, diretor de A Verdade e membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR)