O povo catalão, que vive na região nordeste da Espanha, há anos luta por independência. No dia 30 de setembro milhares de pessoas foram às ruas para protestar tanto contra, quanto a favor de um referendo que irá decidir pela independência. Grupos organizados ocuparam os locais de votação à noite para tentar garantir a realização da votação, mas isso não foi o suficiente para que todos os colégios eleitorais fossem abertos.
O clima de tensão já se estendia desde o início da semana quando a justiça declarou o referendo inconstitucional e o governo espanhol enviou mais de 10 mil agentes das forças de segurança para ocupar as ruas da região. Isso foi o suficiente para quebrar o falso ar de paz existente na Espanha.
A polícia e a Guarda Civil espanhola invadiram as ruas e usaram de uma violência desproporcional para impedir que o referendo acontecesse. Jovens, mulheres e idosos foram espancados, resultando, segundo balanço oficial, em 761 feridos até o momento, alguns levados ao hospital em estado grave. Chutes, empurrões, socos e balas de borracha foram usados para reprimir os manifestantes desejosos de abrir os locais de votação. Um detalhe importante é que o uso de balas de borracha pela polícia estava proibido na Catalunha desde 2014, quando uma mulher perdeu um dos olhos devido ao objeto em uma manifestação em Barcelona em 2012.
O porta-voz do governo catalão, Jordi Turull, culpou o primeiro-ministro Mariano Rajoy pela violência policial. Segundo ele, apesar disso, 73% dos locais de votação estava funcionando normalmente. Mas os catalães que conseguiram votar, perderam cerca de 3 horas nas filas. O presidente do governo regional da Catalunha, Carles Puigdemont, também culpou o Estado espanhol, e acrescentou que “o uso irresponsável, irracional e desmedido da violência fará com que a vergonha os acompanhe para sempre”.
A busca pela independência catalã
A Catalunha representa hoje uma das regiões mais ricas da Espanha, abrigando grande parte dos setores industriais e financeiros do país, que representam um quinto do PIB nacional. Os nacionalistas catalães pressionam há décadas por maior autonomia, há posições controversas como a de que a região não deve ser responsável por subsidiar áreas mais pobres da Espanha mas é certo que todos os povos tem direito à autodeterminação.
Em 2014 foi realizado um referendo que aprovou a independência por 80% dos votos. Apesar da participação de menos de 40% da população, esse primeiro referendo foi suficiente para unir os nacionalistas no controle do Parlamento local, em 2015. O presidente do governo local, Puigdemont, convocou um referendo oficial, aprovado pelo Parlamento catalão em setembro para votação no dia 1º de outubro.
Cai por terra a falsa democracia burguesa
Apesar de ficarem claros os interesses financeiros que envolvem essa disputa, o que fica mais claro ainda é a fragilidade da “democracia” burguesa. De fato, estão em conflito interesses da burguesia que controla a Espanha em primeiro lugar e não os interesses do povo pobre, mas da luta pela independência, as camadas mais pobres da população catalã podem criar uma alternativa ao poder da burguesia. O governo catalão afirma que “independente do resultado do referendo, irá se desencadear uma batalha legal e uma luta pelo poder entre Madri e Catalunha”.
A Organização Espanhola de Organizações Empresariais através de nota oficial expressou “profunda preocupação com o impacto que o referendo ilegal pode ter sobre a confiança dos empresários e investidores na Catalunha e no resto da Espanha”. Ou seja, em nenhum momento se pensa no povo, em sua vontade e soberania, e muito menos na violência e repressão policial que, mais uma vez, prova a quem serve o Estado e suas instituições.
A verdadeira saída é a revolução
Assim, não devemos acreditar na falsa democracia burguesa, ou que através de eleições e referendos será respeitada a vontade do povo. Também não devemos acreditar que a resistência pacífica é a saída, visto o tratamento que foi dado aos que ocuparam pacificamente os locais de votação e as ruas da Catalunha. O que precisamos mesmo é construir um governo dos trabalhadores, uma revolução que torne realmente independentes os povos: não independentes apenas uma região, nem com vistas a concentrar para a burguesia local as riquezas produzidas, mas independentes do governo burguês. Uma revolução socialista, que transforme profundamente os alicerces da sociedade e que divida a riqueza entre todos os trabalhadores que a produziram.
Ludmila Outtes, Recife.