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sábado, 23 de novembro de 2024

Vestibular deixará milhares de jovens fora das universidades

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Estudantes do convênio do Colégio Pedro Amazonas Pedroso são treinados para passar em vestibulares há anos, apesar da escola não passar por uma reforma ou melhorias há um tempo maior ainda.

O Colégio Estadual Pedro Amazonas Pedroso (CEPAP), em Belém, reconhecido na rede estadual do Pará por ser a unidade que mais aprova nos vestibulares, possui uma infraestrutura com sérios problemas, porém, para fins de propaganda do governo, ocorre um ensino exclusivamente voltado à prestação de processos seletivos, negligenciando diversos instrumentos formativos na educação.

Qual a função da educação? A educação é o principal fator na construção social do ser. Se a escola reproduz valores mercadológicos, temos um punhado de estudantes preocupados em apertar parafusos. Porém, se a escola tiver um papel integrador e transformador, teremos estudantes conscientes do seu papel social na construção de uma sociedade diferente.

Deve-se tratar a educação como um instrumento de conscientização, apresentando colocações importantes, como a que diz que “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética.” A educação deve ter lado, o lado da maioria da população, para, conhecendo o quadro de problemas, lutarmos pela sua transformação. Entretanto, não é isso o que vemos. O ensino médio brasileiro, e parte do fundamental, têm a grade curricular e o conteúdo voltados para a preparação para o vestibular.

No CEPAP, por exemplo, os alunos do convênio estudam de segunda a sábado, fazem cursinho no contra turno e até aos domingos, o dia inteiro. Estudam 12 horas por dia, as provas são em quatro dias, no modelo ENEM, de múltipla escolha, várias disciplinas da mesma vez, quem chega atrasado não faz a prova e depois do ENEM alguns alunos nem assistem mais aula, pois o aprendizado perde sentido.

Para quê tudo isso? Três milhões de jovens disputam 200 mil vagas, e, para milhões de deles, essas vagas insuficientes representam um sonho, uma última luz no fim do túnel, a alternativa contra uma vida de miséria e desemprego que esse sistema falido proporciona a dezenas de milhões de trabalhadores.

E que jovens são esses? São os mesmos jovens que estudam no CEPAP, no IFPA, no Colégio Estadual Paes de Carvalho, enfim, são jovens de escolas publicas que sofrem com o roubo de merenda do PSDB, que penam com a falta de ar-condicionado das salas do Colégio Profissional Integrado Francisco da Silva Nunes, pois o governador só tem dinheiro para o Sophos, Moderno ou Universo, escolas particulares que recebem recursos públicos.

São jovens de periferia, é a juventude negra que tem muito mais chances de fazer parte de 65% da população carcerária paraense na faixa etária de 18 – 29 anos, sendo 53% de negros faixa. Contudo, quando se trata da população universitária, apenas 7,6% são negros. Fazem tudo isso, pois, se não passarem nessa única alternativa, nessa única “migalha” cedida por um governo medíocre, canalha e golpista, o futuro deles é tão incerto quanto o do Brasil.

Transtornos de ansiedade, fobia e pânico

O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) é utilizado como o único modo capaz de provar que um estudante “merece” estar na universidade. A grande dúvida sempre vem com relação à sua eficácia. Como um aluno pode, sob pressão psicológica, demonstrar todo o seu aprendizado respondendo a uma bateria de 180 questões, com um tempo médio de 3 minutos para cada resposta? Como vencer a pressão psicológica de saber que o resultado desse exame será decisivo para alcançar a tão desejada vaga em uma universidade? Estudantes dedicam anos de suas vidas escolares se preparando para o dia da prova – e a importância do teste gera uma expectativa que pode levar à ansiedade.

Segundo Patrícia Tasca, psicóloga da Santa Casa de Misericórdia do Pará, os problemas mais comuns entre vestibulandos são fobia, pânico e transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Segundo ela, os sintomas são parecidos: taquicardia, mão suando, perna tremendo, respiração ofegante, tensão muscular. E não só a mente sofre com isso. A psicóloga acrescenta que pessoas mais frágeis tendem a somatizar, tendo reações negativas nos sistemas respiratório e digestivo.

José Galvão Alves, chefe do serviço da clínica médica da Santa Casa, alerta que uma doença comum entre vestibulandos é a dispepsia funcional, que apresenta os mesmos sintomas da gastrite: dor de estômago, desconforto, náuseas e vômitos. Toda essa pressão transforma o ENEM em um processo de alta preocupação, um terrível “teste psicológico”, e é importante lembrar que nem todos os adolescentes suportam grandes pressões psicológicas como essa, pois o crivo do vestibular deixará milhões de pessoas fora da universidades e institutos.

Há também o momento hormonal e social turbulento pelo qual passa o indivíduo na adolescência, somado à necessidade de escolher uma profissão e, portanto, os rumos de sua vida adulta, em muitos casos, aos 17-18 anos. Um estudo, publicado em 2003 por pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina, entrevistou cerca de 400 vestibulandos e identificou que mais da metade deles sente, nos meses anteriores à prova, dificuldade frequente de concentração. Pelo menos um terço reporta também inquietação, dores de cabeça e musculares.

A educação que queremos, pública, gratuita, laica, socialmente referenciada, politécnica, libertadora, deve ensinar ao sujeito que ele tem direitos e voz dentro de uma sociedade, a qual deveria priorizar a colaboração coletiva e não a competição individualista e desesperada por uma vaga na Universidade.

Não deve ensinar apenas que as crianças devem passar na 1°, 2° ou 3° avaliação, e sim ir além, relacionando o aprendizado na sala de aula com a nossa realidade, com o nosso cotidiano. Apenas dessa forma conseguiremos iniciar um grande processo de luta contra o funil do vestibular, contra os tubarões da educação e os fascistas que querem destruir os sonhos da juventude e enriquecer através da miséria do nosso povo, jogando-o na ignorância e no desemprego.

Por isso é necessário entoar, em alto e bom tom, “livre acesso à educação, lutar para ganhar, a palavra de ordem é, abaixo o vestibular!”

Israel Souza, estudante do CEPAP e diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Belém

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