A Revolução Russa e a transformação na Educação

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Em Petrogrado, então capital do decadente Império Russo, milhares de operários, camponeses e soldados, sob a direção política do Partido Bolchevique, tomaram o poder na Rússia em 1917 e instauraram um novo regime político e passaram à construção do socialismo, no qual todas as riquezas passaram a pertencer ao povo. Contudo, a revolução não pode ser vista apenas como um evento limitado àquela data de 25 de outubro (7 de novembro), mas sim como um processo que teve recuos e ápices, antes e depois. Um exemplo disso foi a educação e a ciência, pois, por séculos, a maioria dos russos e demais nacionalidades tiveram negado o direito à formação acadêmica e profissional, sem contar que, mesmo com mentes brilhantes vivendo em solo russo, os incentivos à ciência eram irrisórios.

Isso não ocorreu por acaso. Para manter sob as mais duras rédeas e condições 100 milhões de russos, ucranianos, cazaques, finlandeses, uzbeques, poloneses, armênios, entre outras nacionalidades, o czarismo negava qualquer tipo de incentivo à educação, visando a manter na ignorância e no obscurantismo milhões de indivíduos. As poucas universidades e centros de educação eram mantidos pela Igreja Ortodoxa, aliada do czar, que perseguia as lideranças, fossem estudantes ou professores, que questionassem a ordem vigente. Muitos camponeses, em pleno século 20, ainda acreditavam que o czar Nicolau II fora escolhido por intervenção divina como “líder” do país. Essa mentalidade precisava ser combatida com um gigantesco processo de educação popular tanto nas cidades quanto no campo.

Grandes nomes na área da ciência e da educação, como o do fisiologista Ivan Pavlov, e do psicólogo Lev Vygostky, foram financiados pelo Estado após a revolução, com suas pesquisas sendo destinadas ao bem comum da sociedade, não para enriquecimento individual. A grande mentora deste novo modelo de educação e ciência na Rússia Soviética foi a educadora comunista NadezhdaKrupskaya que, muito antes da Revolução de Outubro, já vinha fazendo um enorme trabalho de alfabetização de operários e soldados, seguindo um modelo que fez sucesso entre milhares de pessoas, no qual aqueles que obtinham sucesso na alfabetização tinham, como única condição de contrapartida, a tarefa de ajudar os demais colegas nesse processo de educação popular.

Educação gratuita

Krupskaya entrou para a história como uma das primeiras mulheres a ocupar um alto cargo de Estado, a de comissária do Povo de Instrução Pública, equivalente ao cargo de ministra da Educação. Sua formação em Pedagogia a ajudara na elaboração de um projeto de ensino formador e emancipador, definindo as bases do novo sistema educacional. Teve artigos publicados no jornal Pravda (A Verdade), em meados de 1917, nos quais abordava a importância da juventude na construção do socialismo. A União Soviética, em pouco tempo, não apenas erradicou o analfabetismo a índices decimais, como também se tornou o primeiro Estado a garantir educação gratuita e com amplo acesso, desde a creche até a universidade.

O lema “Que aquele que sabe ler e escrever ensine àquele que não sabe” era a diretiva repassada às instituições de ensino e distritos do imenso território soviético. Comissões de acompanhamento e orientação foram criadas, como a Comissão Extraordinária de Eliminação do Analfabetismo, em 1920. Além disso, para a industrialização que o país necessitava, desde os transportes até a eletrificação, apenas a formação profissional dos operários e da juventude era capaz de tornar vitoriosa a construção da indústria socialista. A NEP, e depois os planos quinquenais, foram a sequência de um projeto econômico que tinha a educação como principal aliada. A planificação da economia, em substituição à antiga anarquia capitalista da produção, era essencial ao funcionamento do país, no qual o ensino politécnico, ligando a teoria à prática, era a base educacional deste projeto.

Ao camponês, a distribuição das terras e a extinção do latifúndio não poderiam ser consideradas como o fim dos conflitos agrários. Para o fortalecimento da consciência de classe dos trabalhadores do campo, fez-se necessário não apenas alfabetizar, como também construir mecanismos de formação profissional e incentivo econômico aos pequenos agricultores e cooperativas de camponeses. Enquanto que, no czarismo, eles tinham suas plantações roubadas e suas vidas constantemente ameaçadas, no socialismo o Estado se punha como protetor e como financiador do trabalho do camponês. O acesso às escolas politécnicas, a fabricação em larga escala de tratores e a promoção da cultura, com a instalação de cinemas nos mais remotos vilarejos, são exemplos da intervenção do Estado na melhoria das condições de vida do povo do campo.

Uma nova mentalidade nas escolas

Nas cidades, grandes universidades foram erguidas, pois dali sairiam professores, engenheiros, médicos, advogados, psicólogos, biólogos, filósofos, antropólogos, entre outros, todos comprometidos com a sociedade a que pertenciam, comprometidos com o seu próprio povo, recebendo uma educação de alta qualidade, com todos os direitos garantidos, desde o transporte gratuito aos estudantes até a garantia da alimentação e da moradia. Totalmente diferente é a mentalidade no sistema de educação capitalista, o qual apregoa o acesso à universidade como uma forma de promoção individual, no qual o conhecimento ali adquirido servirá para enriquecimento pessoal e/ou das empresas que o contratarão.

O sistema de educação socialista, na URSS, foi, é e será referência a todos os povos que lutam contra as grandes lacunas existentes de profissionais preparados para enfrentar os desafios dos mais diversos ramos. A derrota da Alemanha Nazista, uma potência mundial, foi fruto do esforço e do sacrifício de dezenas de milhões de homens e mulheres soviéticas nas frentes de batalha. Contudo, as modernas armas, os modernos transportes e a moderna tecnologia, todas socialistas, foram essenciais na derrota da besta nazista na Segunda Grande Guerra. Tudo isso foi possível graças às grandes realizações no campo da educação e da ciência, realizadas pela juventude e pelos trabalhadores soviéticos profundamente ligados à construção do socialismo, com a edificação da sua própria pátria, defendendo-a de todas as formas possíveis, mantendo viva a chama da liberdade.

Matheus Nascimento, Belém