Há 130 anos, em um treze de maio, era decretada a Abolição da Escravatura pela Princesa Isabel, entrando para a História brasileira como alguém de grande caráter, capaz de pôr fim à dor, à tortura às quais os povos escravizados eram submetidos. Os livros de História distribuídos nas escolas de todo o país reproduzem esta versão.
Uma parte da nobreza brasileira não concordava com a escravidão, não era a favor de sua permanência e, somada à pressão dos interesses capitalistas da Inglaterra, encontrou uma solução “mais humana” para a situação: transformar os seres humanos escravizados em força de trabalho assalariada.
A obviedade dessa história de “liberdade” é escondida pela burguesia do nosso país, não permitindo que a grande maioria do nosso povo, principalmente a classe trabalhadora e pobre, conheça a nossa história de forma sincera. Devemos nos perguntar quantos heróis e heroínas brasileiros, como Zumbi dos Palmares, Dandara, LuisaMahin, Teresa de Benguela, João Cândido (o Almirante Negro), Francisco José do Nascimento (Dragão do Mar), João Pedro Teixeira, Carolina Maria de Jesus, Amaro Luiz de Carvalho, Manoel Aleixo da Silva, Valdete Guerra, Marielle Franco, entre outros, ainda não receberam o reconhecimento merecido.
A bondade e a caridade da Princesa não foram a motivação da assinatura da Lei. A realidade era que, em 1888, o Movimento Abolicionista no Brasil já havia conquistado importantes vitórias, como: a Lei do Ventre Livre (1871), tornando livres os filhos de escravos nascidos dali em diante; a Lei dos Sexagenários, que libertou os escravizados com mais de 65 anos de idade; as fugas em massa e revoltas nas fazendas; ações jurídicas a favor da liberdade, com compra de alforrias (que não foram determinantes, mas existiram). Desta forma, podemos dizer que a lei somente legitimou um fato consumado e inevitável.
Por isso, devemos reivindicar que a nossa história seja contada de maneira correta, espalhar aos quatro cantos que o Povo negro, durante todo o século XIX, não baixou a cabeça esperando que as elites brasileiras decidissem sobre a sua liberdade ou não. Nada nos foi dado de graça. Muito sangue negro foi derramado até que pudéssemos estar onde estamos, e essa história de luta que deve guiar as nossas vidas, por mais difícil e duro que seja o momento que vivemos hoje.
Após estes 130 anos da formalização da abolição da escravatura, é evidente que precisamos ficar inspirados com a história de luta dos negros escravizados do Brasil e continuar mudando as coisas. Basta observar as condições de vida dos trabalhadores em 2018 para percebermos as armadilhas do discurso daquela liberdade. Devemos estar atentos às novas formas de exploração capitalista, como: a terceirização, a jornada intermitente de trabalho, os baixos salários, a reforma da previdência, os altos índices de acidentes e doenças do trabalho, entre outras.
Tudo sem nem comentarmos sobre a precarização das moradias, do extermínio da juventude negra, da política de encarceramento em massa, falta de representatividade estética/política/econômica, etc. Paira sobre nós a obrigação de derrotarmos este novo sistema de exploração que nos esmaga, humilha, mata de fome e de frio por causa da ganância de um punhado de capitalistas sanguessugas.
Que neste ano, o treze de maio não seja somente mais um dia de comemoração da boa vontade da Princesa Isabel, que possamos lembrar de onde viemos e dos exemplos de guerreiros e guerreiras que tivemos. Precisamos mostrar que estamos longe de ficar satisfeitos, que a nossa luta segue viva e que uma sociedade nova e igualitária é possível e se chama Sociedade Socialista.
José Roberto e Ariane dos Reis, militantes da Unidade Popular