Créditos da foto: João Paulo Brito/Conectas
Centenas de pessoas se aglomeravam dentro e fora da simbólica Sala dos Estudantes no Largo São Francisco, São Paulo, na manhã do dia 20, durante o lançamento da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns.
Composta por 20 personalidades, juristas, intelectuais e históricos defensores dos Direitos Humanos, a Comissão Arns – como foi apelidada – se organiza, não por acaso, numa conjuntura de claros ataques aos direitos adquiridos pela população, comprometida com a defesa dos mais vulneráveis.
Trata-se de uma Comissão bastante ampla politicamente, composta, inclusive, por seis ex-ministros do período de redemocratização do país, de governos distintos, e se autodeclara “não oposição” ao governo atual. Apesar isso, a Comissão já nasce com posição marcada denunciando o projeto de lei do ex-juiz, agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, que supostamente serviria ao combate à criminalidade. “O Brasil hoje tem mais de 700 mil presos, sendo que 270 mil deles não têm sentença”, afirmou o presidente da Comissão, Paulo Sérgio Pinheiro, ex-ministro do governo FHC.
Acompanhar casos emblemáticos de violação de direitos humanos, atuando em rede de apoio, buscando dar visibilidade e fortalecendo as denúncias e seus desdobramentos, será o trabalho da Comissão, segundo seus membros.
Presidenta de honra da Comissão Arns, Margarida Genevois fez um enfático discurso no ato de lançamento. Com 96 anos de idade e uma trajetória reconhecida nesta luta, Margarida trabalhou com muito afinco e coerência na Comissão de Justiça e Paz, ao lado de D. Paulo.
A Comissão leva o nome do cardeal arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns (1921-2016), figura importante na defesa dos direitos humanos no país, atuando de forma especial na denúncia das torturas da ditadura militar de 1964 e na defesa das Diretas.
Arns foi criticado pelo atual presidente, o fascista Jair Bolsonaro, em 1998, quando se posicionou contra a nomeação de um médico, reconhecido agente de tortura da ditadura, para um cargo na área da saúde do exército e também alertou para os perigos da escolha de Jair para a comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Arns foi qualificado como “desocupado”, “vagabundo”, “megapicareta” e “demagogo” durante discurso no plenário da Câmara na ocasião. Nada mais justo que a Comissão levar seu nome e reconhecer seu papel no lado certo da história, o lado dos que lutam por justiça.
Mais informações sobre a comissão disponíveis no site comissaoarns.org.
Vivian Mendes, São Paulo