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terça-feira, 19 de novembro de 2024

Descaso de governantes faz madrugada de chuva intensa se transformar em pesadelo para moradores da periferia de São Paulo

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Na noite deste domingo (10/03), uma forte chuva que se estendeu até a manhã de segunda-feira (11/03), causou estragos e deixou desabrigados e desaparecidos na periferia de várias cidades do estado de São Paulo.

Foram registrados mais de 400 ocorrências de alagamento em São Paulo

O mês de março é conhecido por suas chuvas intensas, que são responsabilizadas por enchentes e deslizamentos nos bairros periféricos das cidades brasileiras, mas o que os jornais da burguesia não apresentam, é que os verdadeiros culpados por esses desastres são a especulação imobiliária e a negligência dos governantes.

Nos primeiros 11 dias de março, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) registrou níveis de precipitações mais altos do que a média histórica de todo o mês. Foram registrados hoje (11), 59 pontos de alagamento só na capital e a interdição de importantes vias transformaram a Região Metropolitana em um verdadeiro caos.

Um dado ainda mais alarmante é o descaso do ex-prefeito e atual governador João Dória e seu sucessor Bruno Covas, representado pelo corte substancial da verba investida no combate e minimização dos efeitos de enchentes durante seu governo. Nos últimos dois anos, as gestões do PSDB cortaram para menos da metade os investimentos na área. A verba destinada à realização de obras de drenagens foi cortada em 66%, dos R$824 milhões que estavam destinados, apenas R$ 279 mi foram empregados. O que se repete nas obras e monitoramento de enchentes, que sofreram um corte de 61%, dos R$575 mi que estavam previstos, apenas R$222mi foram gastos.

Além das enchentes e alagamentos, os deslizamentos afetaram as famílias mais pobres da cidade. Empurradas pelos interesses dos ricos a construírem suas casas em locais inapropriados, dezenas de famílias têm sofrido com deslizamentos que ameaçam a segurança e suas vidas. Segundo o Corpo de Bombeiros, quatro pessoas morreram e seis ficaram feridas no desabamento de uma casa em Ribeirão Pires, na noite de hoje. A Prefeitura e o governo do estado que deveria atuar na construção de políticas habitacionais, moradias populares e na prevenção desse tipo de incidente, apenas entram em contato com as famílias para removê-las de suas casas, geralmente depois que já ocorreram os desastres. Já passa de dez o número de mortos por deslizamentos no estado.

ABC Paulista

Por volta das 22:00 de ontem (10), o Córrego da Mooca e o Rio Tamanduateí na Avenida do Estado transbordaram, deixando todas as saídas da região para a capital paulista interditadas. Ainda foram registrados 302 acionamentos aos bombeiros por enchentes, 121 por quedas de árvores e 23 por desabamentos ou deslizamentos.

Até a tarde de hoje, em São Bernardo, bombeiros, a Defesa Civil e voluntários,  trabalhavam no resgate de famílias de suas casas ou vias interditadas no Centro, Rudge Ramos, Paulicéia, Seleta. No bairro do Taboão, um motociclista morreu após tentar atravessar a correnteza.

No Cafezal, bairro da Região do Montanhão, há notícias do deslizamento de uma das casas da Viela cinco, além de outros prejuízos. Conhecido como Jamaica, um dos moradores do bairro, militante do MLB, em entrevista ao Jornal A Verdade disse:

 

“O que aconteceu aqui foi uma tragédia, a água não tem pra onde ir direito, a situação é precária. O pessoal mora aqui porque não tem condições de morar outro lugar, ninguém queria estar aqui. Ninguém mora em área de risco, com o barranco caindo, porque gosta. Mas estamos na luta, junto com o MLB e o resto dos moradores.”

Moradores da região, entidades e movimentos sociais se solidarizaram e estão arrecadando doações de alimentos, roupas e produtos de higiene pessoal para as famílias afetadas pela chuva.

Mutirão no Montanhão

Alto Tietê

Na região de Mogi das Cruzes, conhecida como Região do Alto Tietê, de ontem para hoje, choveu 99 mm. A Média histórica para o mês é de 172 mm, ou seja, em 12 horas choveu mais de 50% do previsto para todo o mês.

Trabalhadores da prefeitura de Suzano ajudando as vitimas do alagamento

No bairro Palmeiras, em Suzano, a água chegou a níveis acima do joelho, fazendo com que as famílias tivessem a infraestrutura de suas casas comprometidas, ficando ilhadas nesta trágica noite.

Durante a manhã, quando o nível da água já havia diminuído, os moradores reuniram-se para avaliar suas perdas, organizar uma limpeza geral e se solidarizar com os maiores atingidos. Tratores chegaram para tentar nivelar o chão, que agora está coberto de lama,  chegaram também movimentos sociais e igrejas locais, fazendo o possível para ajudar as famílias atingidas.

Fabrício Braga, morador do bairro, contou ao Jornal A Verdade, que teve todo o primeiro andar de sua casa alagado, perdeu vários móveis e teve de passar a noite aguardando que o nível da água baixasse e ainda teve que arriscar sua saúde ao tentar salvar alguns alimentos no andar inferior de sua casa.

As famílias do bairro Palmeiras em Suzano foram vítimas não só das chuvas, da água e do clima. São vítimas da negligência do Estado, da priorização dos interesses das empresas às necessidades dos pobres moradores do bairro. Os tratores da prefeitura só chegaram no bairro para aterrar a lama, mas não são vistos executando obras de saneamento e drenagem, que impeçam os alagamentos e outras tragédias sociais.

Os responsáveis pelos desastres registrados são os ricos que especulam com a vida dos trabalhadores

Em entrevista ao Jornal A Verdade, a militante do MLB e pesquisadora do Observatório de Remoções da UFABC, Isabella Alho, disse que “O setor privado, utilizando o Estado como ferramenta, é responsável pela transformação das cidades em espaços de maximização de seus lucros, sem importar os custos em vida e direitos que isso vá causar. As cidades brasileiras são palco da luta entre as classes sociais.”

A acumulação de riqueza nas mão dos ricos, se expressa nas cidades pela acumulação de terras e imóveis, com finalidade única de gerar mais riqueza, muitos deles sem sequer cumprir função social, enquanto as trabalhadoras e os trabalhadores são empurrados para as periferias das grandes cidades, obrigados a morar em áreas que não deveriam ser destinadas a moradia. Tudo pela garantia de lucro dos capitalistas.

Os desastres registrados na última noite nada têm a ver com a quantidade de chuva ou sua intensidade. A organização capitalista da sociedade e a submissão do planejamento urbano ao interesse do capital financeiro são os verdadeiros responsáveis pelas perdas que nossa classe sofreu nos últimos dias.

As cidades brasileiras devem se transformar no lugar onde se expressam os interesses da classe trabalhadora que a constrói com suas próprias mãos. A solução para os problemas urbanos, passam obrigatoriamente, por uma profunda reforma urbana. E tal reforma só pode ser conquistada através da luta popular, da luta por moradia digna, através de ocupação de terrenos ou construções que hoje não atendem aos interesses do povo.  

Redação São Paulo

Deslizamento em São Bernardo do Campo
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