À medida que passa o tempo e novas evidências aparecem, vai ficando mais claro que golpe de 2016 contra a Dilma, a Operação Lava Jato e o gigantesco esquema de manipulação da opinião pública que permitiram a eleição de Bolsonaro em 2018 têm a mesma origem e são fruto do mesmo projeto político. Tais processos levaram ao desgoverno Bolsonaro, seu inacreditável servilismo aos interesses estadunidenses e seu empenho em destruir nossa economia, políticas sociais e instituições democráticas.
Os três eventos vêm sendo responsáveis pelo mergulho do país em sua maior crise econômica e política de sua história. Os mais de 13 milhões de desempregados, são parte de um contingente gigantesco de 64 milhões de brasileiros em idade ativa que não estão no mercado de trabalho. A essa situação terrível se sobrepõem o ataque aos direitos trabalhistas, previdenciários e a redução do financiamento das políticas sociais.
Este preço enorme em termos de desalento, sofrimento e miséria imposto à população brasileira é o resultado, em primeiro lugar da imposição de um modelo econômico centrado na produção de matérias-primas agrícolas e minerais e, em segundo lugar, da sanha em subordinar o país aos interesses norte-americanos em sua cada vez mais acirrada disputa com a China.
O modelo econômico centrado na produção e exportação de matérias-primas – ou commodities – não gera empregos em número suficiente nem de qualidade. O resultado é o desemprego recorde e o abandono e desalento de 64 milhões de cidadãos em idade de trabalhar.
A entrada do Brasil no grupo dos BRICS em 2009 representou para os interesses estadunidenses o risco do desequilíbrio em favor do bloco China-Rússia, em função tanto da dimensão da economia brasileira, quanto da sua localização nas Américas. Desde então começou um intenso movimento de desestabilização econômica e política do Brasil, facilitada por erros do PT.
Assistimos a partir de 2010 a uma campanha de descrédito do PT e da economia sem paralelo na mídia e nas redes sociais. O erro do PT em subestimar a dimensão da crise mundial de 2008 e tentar responder à mesma meramente com estímulo ao consumo, invés de promover o investimento na nossa ultrapassada e combalida infraestrutura facilitaram o início da atual crise econômica e deram oportunidade à sua exploração pela mídia e pela campanha nas redes orquestradas dos EUA e promovidas pelas organizações direitistas brasileiras a seu serviço.
O golpe direitista, articulado desde 2014, a Operação Lava Jato e a campanha de Bolsonaro foram os instrumentos para consumar a nossa subordinação aos EUA na disputa internacional. São instrumentos da doutrina de Choque e Pavor já utilizada pelos EUA na antiga Iugoslávia, no Iraque, Líbia e Síria entre outros.
A destruição da economia brasileira e o ataque aos direitos da população são ações complementares desse projeto. O desemprego em massa e os cortes dos direitos visam gerar um sentimento de impotência e humilhação a população brasileira para tentar quebrar a capacidade da sociedade de entender os acontecimentos e se mobilizar contra os mesmos. A quebra da economia derruba o valor da nossa moeda e do valor das empresas que podem ser compradas a preço de banana como aconteceu com a estratégica EMBRAER. A Lava Jato se encarregou da desmoralização e do desmonte das gigantes brasileiras do setor da construção civil. Essas empresas tinham porte mundial e desenvolviam obras de grande porte e complexidade tecnológica em todo o mundo. As práticas comerciais reprováveis dos seus dirigentes não justificam a desmoralização e desmonte das empresas. Ao invés do processo de desmoralização e desmonte, por que a Lava Jato não promoveu a intervenção pública nas mesmas para preservá-las assim como aos empregos e tecnologia que geravam e detinham?
O gravíssimo momento em que o Brasil vive exige que se tome consciência dos interesses que estão por trás dessa crise para que se possa desenvolver capacidade de unir as forças da grande maioria da sociedade e promover a mobilização necessária para pôr fim ao atual desgoverno e seu destruidor servilismo.
Paulo Henrique Rodrigues, Rio de Janeiro