Dia 10 de junho, ocorreu, na capela ecumênica da UERJ, a audiência pública da ALERJ para debater o projeto de lei que visa extinguir as cotas raciais, proposto por Rodrigo Amorim (PSL).
O PSL, mesmo partido do presidente da república, trava uma guerra contra todos os setores da educação em nome do obscurantismo. Defendem que a saída para a crise é o sucateamento da educação, como demonstram os cortes do ministro Weintraub, e o ataque às políticas de ações afirmativas. Trata-se, portanto, de um ataque coordenado nas diferentes esferas federativas.
Os estudantes, porém, não deixaram barato: diversos coletivos, partidos, estudantes independentes, setores diversos do movimento negro, e profissionais do direito defenderam de maneira bem fundamentada a constitucionalidade, a necessidade e, sobretudo, o sucesso da política de cotas raciais.
A UERJ foi a primeira universidade brasileira a implantar as cotas raciais, em 2003 [1]. As previsões eram de que as cotas prejudicariam o ensino, formariam turmas desniveladas e promoveriam uma divisão tóxica ao ambiente acadêmico.
Hoje, mais de 15 anos, a experiência da UERJ provou que todas essas previsões não passavam de fantasias racistas. O desempenho acadêmico dos cotistas, em média, é igual aos não cotistas e, em alguns cursos, chega a ser superior [2]. Quando ocorrem desníveis, são solucionados, em geral, antes do fim do primeiro período. O ambiente acadêmico se enriqueceu, sendo construída uma sociabilidade diversa ao castelo da Elite que eram as universidades anteriormente [3]. A evasão entre os estudantes cotistas é drasticamente menor do que entre os que entraram por ampla concorrência. [4]
Pode-se dizer que a primeira universidade a implantar as cotas raciais é, hoje, a universidade com mais abertura às camadas populares do Brasil, ainda que com todos seus problemas e limitações. E, não a despeito, mas por causa disso, alcança os melhores índices acadêmicos da América Latina. De acordo com o Ranking Web of Universities – 2019, a Universidade ocupa a 23ª posição entre as melhores universidades da América Latina e a 15ª posição no País [5]. Não atoa, a lei de cotas foi renovada ano passado pela ALERJ, tamanho seu sucesso. Dos 70 deputados, apenas um votou contra: ele mesmo, Flávio Bolsonaro, hoje senador.
O obscurantismo que circunda o PSL, porém, se nega a qualquer análise racional dos dados e das vivências de superação que a UERJ produziu. O deputado que rasgou a placa de Marielle demonstra não ter nenhum apreço por justiça social nem educação pública, gratuita, de qualidade e, sobretudo, inclusiva. Pelo contrário, na audiência, tanto Rodrigo Amorim quanto sua dupla, Alexandre Knoploch, expressaram seu desdém pela luta dos negros e dos estudantes. Pudera, o histórico da relação de ambos com a luta da educação pública no Brasil é inexistente.
Acuados com o naufrágio do governo frente às crises institucionais e a ampla construção da Greve Geral do dia 14 de Junho [6], os pesselistas tentaram, a todo custo, implodir a audiência pública. Criaram confusão, chamaram estudantes “para a mão”, bateram na mesa, interromperam mulheres negras e parlamentares com violência verbal e gritaria.
Diferentemente do vídeo que fizeram logo após, em que afirmaram respeitar o espaço, os parlamentares chamaram a UERJ, casa acadêmica, intelectual e afetiva de milhares de alunos, de LIXO, além de ofender todos os presentes de “palhaços”. Não bastasse, os dois, rodeados de seguranças armados, ameaçaram os estudantes presentes mais de uma vez. Antes do final, os dois deputados saíram da audiência acompanhados pelos seguranças, empurrando todos que se encontravam a frente no auditório lotado. No processo, duas pessoas se machucaram. O ato foi gravado, e uma reportagem da TVT mostra com nitidez que o deputado estadual Alexandre Knoploch agrediu com um soco na cara um dos estudantes presentes. No momento da agressão, um de seus seguranças ameaça sacar a arma para os estudantes, desarmados. Ao reparar que estava sendo filmado, tenta “disfarçar”. [7]
A mobilização estudantil, porém, mostrou que o campo do obscurantismo não nos calará. O Correnteza parabeniza todos os setores envolvidos nessa luta necessária, e aplaude todos os estudantes que se posicionaram na audiência pública. É essa a UERJ que queremos.
Nenhum passo atrás.
A UERJ Resiste!
#MaisCotasMenosRacismo
Movimento Correnteza UERJ
[1] Para saber mais sobre a lei que rege a política de cotas da uerj, acesse: http://www.uerj.br/a-uerj/a-universidade/sistema-de-cotas/
[5] http://www.uerj.br/noticia/uerj-melhores-universidades-brasil-al-mundo/
[6] https://averdade.org.br/2019/05/trabalhadores-se-unem-pelo-direito-de-se-aposentar/