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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Mulheres organizam luta por dignidade e trabalho

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“Excluídas, em maioria, do mercado de trabalho formal, para as mulheres dos territórios explorados pela mineração só restam os postos de trabalho mais precários, na informalidade e mal remunerados.” – O que restou para essas mulheres foi se organizar para combater a precariedade e lutar por trabalho justo e com direitos.

Helen Oscarina
Mariana, Minas Gerais


Foto: Jornal A Verdade


MINAS GERAIS – Nos Municípios de Ouro Preto e Mariana a riqueza gerada pela mineração, que abastece o mercado internacional das commodities, contrasta com a pobreza, o descaso do poder público e a degradação ambiental. É neste cenário que, desde 2016, o Movimento de Mulheres Olga Benário constrói a luta ao lado das mulheres trabalhadoras e estudantes da região. A falácia do “desenvolvimento” engendrado pela mineração, ao contrário do que se diz, só resulta em postos de trabalho precarizados, majoritariamente ocupados por homens, e na prostituição induzida nos entornos dos sítios de extração mineral.

Excluídas, em maioria, do mercado de trabalho formal, para as mulheres dos territórios explorados pela mineração só restam os postos de trabalho mais precários, na informalidade e mal remunerados. Não obstante, as mulheres ainda têm que lidar com o assédio e a violência praticada por homens que se deslocam de diversas regiões para trabalhar nas mineradoras. Com frequência, esses trabalhadores se envolvem com as mulheres das localidades, as engravidam e, ao terminar o contrato com a mineradora, vão embora sem deixar nenhuma assistência aos(às) filhos(as).

Essas mulheres, em sua maioria jovens, abandonam os estudos para cuidar dos(as) filhos(as) e, desamparadas e sem nenhuma perspectiva de futuro, acabam se envolvendo com o tráfico de drogas e a prostituição.

Esse é o retrato do distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto, e de tantos outros explorados pela mineração. O distrito, um dos maiores arrecadadores de royalties do munícipio, vive sob o descaso do poder público e não conta, sequer, com uma ginecologista para atender as mulheres, que têm que se deslocar para os centros urbanos de Mariana e Ouro Preto. Além disso, a poeira decorrente da atividade, a diminuição da oferta de água potável e o risco constante de rompimento da barragem de rejeitos da mina de Timbopeba, de propriedade da Vale S.A, atingem diariamente as moradoras do distrito.

Não bastassem os problemas causados pela mineração, a violência de gênero também fez vítimas fatais nos últimos anos. Em 2017, Caetana Aparecida Felipe e Ingrid Michele de Rosa, moradoras do distrito de Antônio Pereira, foram vítimas de feminicídio. Seus corpos só foram encontrados 12 dias após o desaparecimento, ambos nus e com marcas de violência.

Para marcar o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher (28/05), o Movimento de Mulheres Olga Benario realizou no distrito de Antônio Pereira um dia de atividades voltadas para a atenção e os cuidados com a saúde da mulher. A atividade, realizada em parceria com o CRAS, ofereceu às mulheres da comunidade oficinas de “Ginecologia autônoma e sexualidade” e de confecção de “Absorventes de Pano: conquistando autonomia e saúde”. Contou também com diversas atividades para as crianças e adolescentes. Em torno de 40 mulheres e 60 crianças do distrito estiveram presentes nesse dia. O diálogo com as mulheres da comunidade possibilitou diversas trocas e o entendimento das principais demandas, principalmente no que tange à saúde, tema central das oficinas.

São diversas as contradições que envolvem a mineração e sua relação com as comunidades e, principalmente, com as mulheres. Sob esta perspectiva é que se faz fundamental a organização e luta das mulheres trabalhadoras, camponesas e estudantes. É preciso lutar por um novo modelo de mineração que nos conduza à soberania popular. Mas não somente isso! É preciso lutar para que, dentro desse novo modelo de mineração, nós, mulheres, tenhamos autonomia e não sejamos vistas como objetos sexuais ou como mão de obra secundarizada, mas sim como seres humanos que requerem dignidade e igualdade.

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