UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Entrega da base de Alcântara ameaça famílias Quilombolas

Outros Artigos

O acordo com a potência imperialista norte-americana afetará na região, em média, cerca de 792 famílias quilombolas.

Pedro Dragoni


Foto: José Cruz/Agência Brasil

MARANHÃO – Se em 2017, o fascista e então deputado Jair Bolsonaro proferiu que “quilombola não serve nem pra procriar”, agora em 2019 – sua cria -, o igualmente reacionário da pior espécie, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pronuncia que o “acordo” (leia-se subserviência ao imperialismo norte-americano) para com a base de Alcântara no Maranhão será para “melhorar as vidas dos quilombolas”.

Não poderia se esperar algo diferente deste verdadeiro escárnio que é tal pérola bolsonarista e o acordo que, com o requerimento do deputado Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA) apresentado essa semana, procura agilizar a votação do AST (Acordo de Salvaguardas Tecnológicas) com a mudança de que ao invés de serem cedidos 8 mil hectares para as atividades dos militares ianques, seriam agora 20 mil hectares. Tal modificação afetaria cerca de 2 mil quilombolas que seriam então despejados de suas terras.

A aprovação o pedido de tramitação com caráter de urgência nessa alteração do “acordo” significa que o Projeto de Decreto Legislativo (PDL 523/2019) pode ser aprovado diretamente em Plenário, sem precisar passar por comissões.

Os ataques contra as comunidades quilombolas não é tema novo e, particularmente no caso de Alcântara, quando da criação da base na década de 1980, já naquela época foram expulsas 300 famílias de suas terras. Se o histórico se mostra amplamente desfavorável à situação das comunidades, agora, com o novo acordo – ademais das perdas de seus territórios –, prejudicaria “o equilíbrio das relações econômicas, sociais e culturais entre as comunidades quilombolas. Ela [expansão] limitará o livre e permanente acesso das comunidades às áreas do litoral de Alcântara frente à proposta de criação de corredores nas áreas de lançamento. E o mais grave, se instalará em Alcântara uma situação de insegurança alimentar sem precedentes”, como alerta o Advogado na Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos (SMDDH) Diogo Cabral.

2011: Wikileaks e o Domínio Imperialista

Segundo a revelação de telegramas da diplomacia dos EUA feita pelo WikiLeaks em 2011, “a Casa Branca toma ações concretas para impedir, dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel antinacional da grande mídia brasileira”.

O veto dos ianques para a transferência de tecnologia espacial ao Brasil – na negociação com a Ucrânia realizado no ano de 2009 –, foi tácito. Mesmo com a requisição por parte de representantes ucranianos através de sua embaixada em nosso país, a posição dos EUA foi de total boicote ao uso da base de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado ou que contivesse material produzido nos Estados Unidos.

Relembrando este caso gravíssimo que veio à tona há 8 anos e a atual política do governo federal em relação à base na cidade maranhense, fica mais do que claro que a intenção dos norte-americanos e seus fiéis serviçais encastelados no Estado brasileiro e do monopólio dos meios de comunicação  é de bloquear qualquer possibilidade de haver uma real independência econômica e tecnológica do nosso país, nos mantendo como verdadeira nação dependente e associada ao império assassino que são os EUA.

Defender os Quilombolas e a Cultura Africana

O protesto dos quilombolas na última terça-feira (03) no aeroporto de Brasília no esforço em pressionar os parlamentares a não cederem diante deste retrocesso em solo maranhense mostra que a luta pela defesa do sagrado direito a um pedaço de chão – que em teoria lhes é garantido pela Constituição Federal de 1988 –, pela cultura, os costumes de matriz africana, ou seja; a própria história brasileira, só será vitoriosa nas ruas, com um forte movimento organizado e politicamente consciente de que esta é uma batalha não tão somente pela garantia do direito conquistado pelas comunidades quilombolas, mas que é também um embate em defesa de toda a população negra brasileira, ainda oprimida pelas chagas do racismo e da escravidão que se fazem tão presentes em pleno ano de 2019.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes