UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Na força do povo encontramos as respostas

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“Muitas das vezes, quando não sabemos mais onde encontrar forças para continuar na dura jornada de destruir esse falido e ultrapassado sistema, é na fé do povo que precisamos nos agarrar, ouvindo os seus ensinamentos”.

Victor Aicau, Movimento de Luta nos Bairros,Vilas e Favelas – Bahia


Foto: Unidade Popular Pelo Socialismo (UP)


RELATO – Na noite de 3 de setembro de 2019, eu tive a minha fé renovada na revolução. Fazia o caminho para casa e estava no terminal de ônibus. Um trabalhador ambulante que me conhecia dos tempos de coleta de assinatura da Unidade Popular estava lá.

No terminal da Lapa, onde eu estava esperando meu ônibus, trabalham homens e mulheres e, até mesmo, crianças, vendendo água e todo tipo de comida. Esses ambulantes precisam ficar o dia todo trabalhando para que possam levar o pão de cada dia para casa.

Há dois anos, eu conheci o Alex, homem negro, jovem trabalhador, ambulante da Lapa. Muitas das vezes, quando não sabemos mais onde encontrar forças para continuar na dura jornada de destruir esse falido e ultrapassado sistema, é na fé do povo que precisamos nos agarrar, ouvindo os seus ensinamentos. Encontrei o Alex ontem, ele veio em minha direção, me perguntou como eu estava. Respondi que estava bem, mas não pude perguntar como ele estava, não tive tempo, pois veio uma segunda pergunta dele:

– E o partido, vocês conseguiram legalizar?

Aquela pergunta me fez entender o papel e a postura que nós precisamos ter nesse momento. O sorriso no rosto do Alex pedia firmeza na resposta.

– Conseguimos, sim.

Faltavam somente algumas questões do registro, mas estava tudo certo, nós cumprimos todas as exigências que a lei dos ricos impôs para que a gente fundasse a Unidade Popular, falei. Alex não parou, me fez uma afirmação.

– O Bolsonaro não vai terminar o governo.

– Concordo com você. Agora, cabe a nós o papel de tirar ele de lá. Não só ele, mas todos que exploram nosso povo.

Ele concordou.

Avisto meu ônibus entrando no terminal. Ele leva de dois a três minutos para ir da primeira à terceira linha, onde eu estava.

– Você quer alguma coisa? – Alex falou.

Respondi que não, estava sem grana.

– Pode pegar o que quiser.

Fiquei encabulado, dei um sorriso, ele insistiu.

– Pode pegar uma água, um guaraná, um salgadinho…

Aceitei a água.

– Alex, posso voltar aqui para a gente conversar mais sobre política? Vou trazer um documento da UP para você.

Ele disse que sim. Meu ônibus já fazia curva para entrar na terceira linha. Os trabalhadores informais de Salvador entram nos coletivos todos os dias para poder vender, passam o dia inteiro nos terminais, gritando, carregando peso nos dois ombros, arrastando carrinhos com mercadorias.

Esse mundo em que estamos vivendo é o mundo da miséria, da podridão, a concentração de riqueza num polo gera pobreza no outro.

Nunca vou esquecer do Alex me oferecendo um pouco do ganha pão dele sem problema algum, dividindo o pouco que tem, mesmo que tire um pouco do seu sustento. Os milionários pouco se importam com nossas vidas, não dividem, não repartem, não pensam no próximo. Esse é o mundo construído pelos capitalistas, o lucro vale mais do que a vida. Só que a vida vive nos dando grandes respostas para os nossos problemas.

Quantos Alex existem no nosso país, querendo conhecer política, se organizar?

Naquela noite, eu não tinha dinheiro para a passagem e pediria carona. O trabalhador, o Alex, falou que era para eu ficar tranquilo, ele falaria com o motorista. O ônibus parou.

– Motorista, esse aqui é trabalhador igual a gente na Lapa.

Lembro-me de passar o dia inteiro coletando assinaturas com meus companheiros e companheiras. É verdade, sou trabalhador igual a Alex. Enquanto ele conversava com as pessoas para poder vender seus produtos, eu conversava com as pessoas para coletar assinaturas.

– Motô, ele tá sem guia, mas é sangue bom. Pode deixar ele entrar no fundo.

– Entra pela porta da frente.

Entrei e me despedi do Alex, prometendo que voltaria lá.

No terminal rodoviário Lapa até minha casa são quarenta minutos, talvez mais. 300 mil pessoas passam por ali e se amontoam em ônibus velhos e sucateados e eu passei o caminho todo refletindo que o socialismo, o mundo novo, o mundo da paz, não mais tardaria. Essa luta titânica entre o velho e o novo, entre o que morre e o que nasce, não pode ser subestimada. Minha convicção foi renovada, porque vi o aço sendo temperado diante dos meus olhos.

Nós venceremos ao lado de milhares de Alex.

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