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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Angela Davis defende visão classista em coletiva de imprensa

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Gabriela Torres e Julia Soares
Movimento de Mulheres Olga Benário

Foto: Jornal A Verdade

SÃO PAULO – Ex-militante do Partido Comunista dos Estados Unidos, referência do movimento feminista e negro, liderança do abolicionismo penal estadunidense e expoente na luta pelos direitos civis, Angela Davis veio ao Brasil durante o mês de outubro participar da Conferência “A liberdade é uma luta constante”. O Jornal A Verdade esteve presente na cobertura do evento e na coletiva de imprensa concedida pela ativista.

Durante a entrevista concedida aos veículos de comunicação, Angela falou sobre questões como a violência policial, os reflexos do patriarcado contemporâneo, os espaços de disputa de poder, o racismo e as questões estruturais da sociedade ocidental, mas nega sua atuação política como protagonista nas frentes de luta: “As pessoas souberam meu nome não pelo que eu fazia como indivíduo, mas pelo que eu lutava. Meu papel é estimular essas pessoas a continuarem se movendo nessa direção no futuro”.

Após a defesa de um dos jornalistas participantes a um “socialismo que não ataca a propriedade privada”, quando questionada sobre a possibilidade de eleger um representante da esquerda norte-americana, Bernie Sanders, Davis atacou a ideia de que soluções por vias institucionais possam ser eficientes no combate aos ataques sofridos pelas mulheres, negros e trabalhadores e falou sobre as desigualdades econômicas do sistema capitalista: “qualquer um que tenha sentimentos de humanidade, sente isso. Nós temos que fazer muito mais do que eleger um outro presidente (…) A conversa sobre o racismo, o patriarcado e a violência de gênero transcende o nosso presidente. Acho que as eleições, sim, mas principalmente com nossos movimentos sociais”.

Dentre as diversas defesas feitas, houve também um grande ênfase da filósofa acerca da população trans, especialmente das mulheres trans, negras e periféricas: “temos que reconhecer que, a partir de espaços que são marginalizados, é de onde vem o impulso para a democracia. Aqueles de nós que temos trabalhado contra a violência da polícia, a violência racial, acabamos reconhecendo que as mulheres negras trans são o alvo mais consistente da violência e se achamos que devemos erradicar a violência de gênero no mundo, temos que focar nas mulheres negras trans porque da mesma forma que quando tivermos as mulheres negras livres, o mundo será livre”, afirmou.

Foto: Jornal A Verdade

Angela Yvonne Davis nasceu no Alabama, e desde criança lidava com humilhações devido à sua cor. Reconhecida atualmente como filósofa e professora, Ângela também militou por mais de 30 anos (1969-1991) no Partido Comunista dos EUA, sendo candidata como vice presidente dos Estados Unidos duas vezes pelo partido, além de sua atuação próxima do Partido dos Panteras Negras.

É na década de 1970 que começa a ser perseguida pelo Estado, procurada como uma entre os dez criminosos mais perigosos do país,  Angela estudava o caso de três jovens negros, acusados de matarem um policial. É acusada de conspiração, sequestro e homicídio, por causa de uma suposta ligação sua com uma tentativa de fuga do tribunal dos réus. Condenada, mobiliza não só seu país como o mundo com a campanha de Liberdade para Angela Davis (Free Angela Davis). Dezoito meses de julgamento depois é inocentada, devido principalmente ao apoio popular.

Angela não se considera uma reformista penal, mas abolicionista, pontuando que as prisões são utilizadas como um artifício  do estado capitalista contra seus inimigos de classe e gênero.

Angela se recusou a pronunciar o nome do atual presidente da república, Jair Bolsonaro (PSL). “Na tradição africana, nomear é um processo de amaldiçoamento muito poderoso”. Contudo, a ativista, durante suas palestras e entrevistas em São Paulo, não deixou de salientar sobre o potencial teórico, cultural e político que o Brasil carrega: Defendeu Lélia Gonzalez, antropóloga brasileira e fundadora do Movimento Negro Unificado, como expoente primordial na luta das mulheres negras, visitou Preta Ferreira, liderança do Movimento Sem Teto do Centro vítima da criminalização dos movimentos de moradia, e citou Marielle Franco, vereadora assassinada pela milícia bolsonarista, como um legado na luta pela democracia e pela liberdade. Com sua resistência, seu histórico de militância pelos direitos dos negros, mulheres e trabalhadores, e defesa do comunismo como forma de organização capaz de sanar os embates patriarcais e racistas, fica evidente o grande ensinamento de Angela para as próximas gerações e para os países latino-americanos: A liberdade é uma luta constante.

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