UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 26 de abril de 2024

O IMPERIALISMO E A GUERRA PELA SUPRESSÃO DA SOBERANIA NACIONAL NA BOLÍVIA

A Bolívia se encontra em um cenário de instabilidade e revolta, acompanhando a onda de insurreições da América Latina. O presidente Evo Morales foi pressionado à renunciar e uma presidente interina que vem reforçando o caráter racista do golpe civil-militar deixa o povo cada dia mais inconformado, as camadas populares pedem guerra-civil na Bolívia. Mas o golpe no país tem uma base imperialista que precisa ser denunciada.

Vinícius Arruda
UP – SP


REUTERS/ CARLOS GARCIA RAWLINS

Os trabalhadores bolivianos e o setor da esquerda do país tornam-se vítima dos mesmos interesses e medidas antipopulares que demonstram a fragilidade da democracia burguesa – que se apresenta como estrutura do estado apaziguador da ditadura do capital. Assim como ocorrido em 2016 no Brasil, houve um golpe judiciário e parlamentarista apoiado diretamente pelas potências imperialistas e as oligarquias nacionais. 

O imperialismo, em crise e sufocado pela guerra de interesses geopolíticos, utiliza dos agentes das burguesias nacionais e das forças armadas do Estado burguês para atuar em favor de seus próprios interesses econômicos; coagem determinada parcela da população através dos meios de comunicação e propaganda, promovendo uma descrença diante da forte ilusão que abrange o processo eleitoral devido a limitada governabilidade progressista, que se elege prometendo o mundo aos trabalhadores mas se perde em conchavos e ‘acordões’, sobretudo no âmbito da economia. 

Os EUA é um dos países que mais expressa através de sua influência política econômica e, sobretudo militar, o imperialismo sob todas as vias possíveis buscando manter a sua hegemonia no conflito mundial contra os países orientais, principalmente Rússia e China, potências que influenciam diretamente na economia boliviana. 

A Rússia e a China trabalham parcerias com a Bolívia devido a sua importância geopolítica e geoestratégica – o país faz fronteira com Brasil, Paraguai, Chile, Peru e Argentina – colaborando com uma alternativa econômica de estatização, nacionalização das riquezas naturais e o planejamento responsável pelo “milagre econômico” boliviano, contrariando o neoliberalismo e os interesses neocoloniais e racistas estadunidenses que buscam monopolizar a influência na América Latina. 

Mesmo que já demonstrado o seu inerente fracasso, que vai de contrafluxo até mesmo com o populismo da esquerda reformista, sendo que o plano econômico vai contra a apropriação do gás natural, reservas de lítio, houve nacionalizações de grande parte das empresas nos setores de infraestrutura e energia e demais riquezas estratégicas do território boliviano, essas mesmas que deram condições para a melhor distribuição de renda e diminuição da desigualdade da nação latino-americana.

Conseguiram também, com as limitações impostas pela natureza de seu plano conciliatório, um desenvolvimento econômico e social de minorias historicamente desfavorecidas, como os povos originários indígenas da Bolívia cada vez mais participativos na política de Estado plurinacional. Os indígenas, que compõem cerca de 55% da população ao lado de 30% mestiços, agora são alvos de ataques racistas promovidos pelas igrejas neopentecostais – ligados ao liberalismo e ao mercado financeiro na América – que possuem um poder econômico e político inusitados, e conseguem isenções de impostos do Estado para contribuir com a uma campanha da alienação e propaganda burguesa, este “bombardeamento ideológico” busca determinar a consciência e comportamento moral e político dos mais pobres. 

Torna-se nítido que o problema – ao contrário do que se afirma pelos liberais e a parcela de socialdemocratas – não se dá em função da “não-alternância” de poder. Lula, por exemplo, aplicou diretamente este conceito a candidatura de Dilma, e o golpe se consolidou da mesma forma, por que essa explicação serve a Bolívia? Por que este problema não é apontado e usado como justificativa de interferência externa nas democracias liberais onde a direita, e muitas vezes os mesmos políticos, detém o poder a mais de 20, 30 anos consecutivos? A Angela Merkel, por exemplo, é chanceler da Alemanha desde 2005 (está hoje em seu 4º mandato consecutivo) e seguirá até 2021, no mínimo.

É evidente que, na realidade, ambos são reflexos da miserabilidade teórica fortalecida na esquerda após a queda do Muro de Berlim e o negacionismo com parte do legado dos trabalhadores, que conquistaram sua emancipação em diversos países, como na Rússia, Albânia, Vietnã, etc. Essa prática que vem sendo adotada pela esquerda ocidental, que acredita em uma conciliação permanente entre classes naturalmente antagônicas, mesmo que estes interesses inevitavelmente se choquem, é totalmente anticientífica e não tem, nem de perto nem de longe, o melhor ao povo em sua agenda de tarefas. Através dessa teorização pequeno-burguesa, que caracteriza a violência revolucionária – que surge como resposta necessária à violência reacionária e imperialista – como “totalitarista” ou “antidemocrática”, nega a naturalidade da polarização política e as contradições concretas que existem na sociedade, sendo que o dito “progresso” e o “desenvolvimento” não serão jamais suficientes e eficazes enquanto se defende os privilégios concedidos a burguesia e aos representantes das estruturas políticas que condicionam o capital, e se retalia a participação popular nas decisões políticas, econômicas e culturais e a supressão da propriedade privada dos meios de produção. 

As críticas antes utilizadas por esta esquerda, sobre a educação popular aos militares e o fortalecimento das forças armadas de países socialistas – ou até mesmo socialdemocratas como a Venezuela – em resposta a agressão imperialista torna-se hoje vazias, visto que a esquerda é vítima justamente da militarização e do Estado de direito que é detido majoritariamente pela burguesia privilegiada. É necessário que a esquerda e os seus representantes, tanto Lula quanto Evo Morales, por exemplo, que não fizeram alterações consideráveis na concentração da propriedade burguesa e na dependência frente aos EUA em diversos setores, principalmente na questão militar, mudem para uma estratégia que busque consolidar a soberania nacional. É necessário que não somente se apoiem nas bases de sua militância, mas também que promovam a radicalização consequente dos movimentos sociais e retomar o contato direto com o povo ou continuarão sendo perseguidos e engolidos pelo sistema no qual buscam conciliar os interesses para garantir o mínimo ao que a classe trabalhadora tem direito, sem que a burguesia saia de seu palanque. 

As mobilizações que estão ocorrendo em La Paz refletem o que anseia o povo boliviano e os povos originários, onde entoa-se palavras de ordem como “Guerra Civil” e “Mesa, Camacho, queremos sua cabeça”, não há procura dos trabalhadores em conceber a paz aos golpistas, como sugerido por Evo Morales, já exilado no México. O golpe se concretizou e a senadora Jeanine Añez se proclamou presidente da Bolívia, com uma Bíblia em sua mão e apoio de Trump, Bolsonaro e das forças armadas bolivianas, em um gesto de repúdio ao caráter plurinacional do Estado boliviano e de quase defesa da opressão racial que sofre os originários historicamente, a golpista em pouco tempo afirmou de que se chegaria ao fim dos “rituais satânicos indígenas”. O povo da Bolívia sai às ruas buscando o reestabelecimento de Evo Morales e García Linera, que renunciaram aos seus cargos sob pressão das forças armadas e da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Essa violência monopolizada pela burguesia, conservada pela conciliação de classes da esquerda reformista (sem um projeto de emancipação popular e militar efetivo), consiste na perseguição política e física alavancadas pelo golpe civil-militar, onde o setor civil presente no golpe é composto por burgueses, extremistas religiosos evangélicos e racistas, este conchavo entre o imperialismo e os setores mais caducos e reacionários promoveram o golpe em curso na Bolívia. As perseguições, invasões, torturas e assassinatos às lideranças populares, indígenas, jornalistas e militantes já estão acontecendo. 

Como já de praxe da elite econômica racista, mobilizam-se os grupos paramilitares fascistas ligados à extrema-direita e tornam-se livres para praticar a violência, com apoio de empresários, dos fanáticos religiosos, dos governos dos EUA e do Brasil, com o objetivo de aplicar e ampliar a economia neoliberal, frear o desenvolvimento econômico do país que mais se destacava na América Latina – apresentando um caráter independente da economia norte-americana – e criminalizar o socialismo como uma alternativa a barbárie econômica e social ascendida pela político-econômica de não intervenção estatal. Fique claro, de que um dos principais interesses das potências imperialistas em frear este desenvolvimento é em nome da exportação de capital, quanto mais miserável é um país, maiores são as taxas de lucro obtidas através de investimentos externos, assim os EUA buscam garantir uma miséria generalizada em diversas partes do globo, para que sua acumulação desenfreada de capital possa aterrissar em algum lugar e continuar se reproduzindo, extraindo mais-valia e concentrando, em um lado, riquezas e, do outro, miséria.

Portanto, neste cenário político enfrentado pela esquerda, é crucial que a defesa seja pautada principalmente na construção do fortalecimento popular entre as massas, aproximando-as do poder político e das decisões do Estado, para que não permaneçam as históricas interferências de interesses neocolonialistas que buscam em nosso território o aproveitamento geoestratégico para seus próprios interesses, e para que a emancipação dos povos da América Latina se concretize.  Com base nessa luta entre as classes, é a unidade organizacional e radicalização entre os movimentos sociais, sindicais e estudantis, dada com um viés revolucionário, que a classe trabalhadora, cansada e sem perspectiva, conseguirá a construção de um Estado socialista, com pleno desenvolvimento produtivo e tecnológico suficiente para atender as demandas oriundas da desigualdade social, e não mais ganhar e perder com esses ciclos de progressão e regressos inerentes às contradições capitalistas. É necessário marcar passo e saltar, rumo à sociedade socialista. Para isso, uma das tarefas imediatas é combate constante à ofensiva imperialista, na busca e edificação da emancipação dos povos oprimidos e explorados.

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