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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Partido Comunista Revolucionário da Bolívia: “Abaixo o Golpismo Fascista!”

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O recém-criado Partido Comunista Revolucionário (PCR) da Bolívia encaminhou uma nota política comentando os bastidores políticos do país, enfatizando a necessidade de os trabalhadores construírem uma alternativa patriótica, democrática e popular.

Thales Caramante  
Jornal A Verdade


Foto: Reprodução/Brasil 247

LA PAZ – Sendo golpeado por militares, partidos de direita e empresários ligados direta e abertamente por interesses estrangeiros norte-americanos, o ex-Presidente Evo Morales, que renunciou ontem (10), teve sua casa saqueada, um mandado de prisão emitido. Mesmo assim, o povo boliviano passa a resistir e a enfrentar os principais elementos golpistas, com ações ousadas ao incendiar a casa de Waldo Barracín, reitor golpista da universidade de San Andrés, e a enfrentar a polícia coquetéis molotovs em manifestações massivas pedindo, sem uma liderança clara, “Guerra Civil”.

A convocatória feita pela Federação de Juntas Vecinales de El Alto, ordenou a saída do país dos golpistas. O grupo instruiu, ainda, a formação de comitês de autodefesa, bloqueios e mobilização permanente, também convocando a polícia boliviana a fortalecer a luta popular. Caso os paramilitares não reajam aos pedidos da oposição, Bolívia pode ir à Guerra Civil.

O Partido Comunista Revolucionário (PCR) da Bolívia, apontando a necessidade de uma “alternativa patriótica, democrática e popular” dos trabalhadores, enfatiza a necessidade do fim das conciliações de classe e desmascara o golpismo fascista que se desenvolve no país.

Aliança do MAS com a Oligarquia Financeira

Os comunistas revolucionários da Bolívia enfatizam inicialmente em sua nota um crescente desgaste político enfrentado pelo governo de Evo Morales e Álvaro García Linera, tal qual o Movimento para o Socialismo (MAS) em geral por seu envolvimento ascendente à oligarquia financeira-latifundiária reacionária do país. Destacam que as tentativas de golpe não são novas, exemplificando a tentativa de golpe em 2008-2009, que só não se concretizou por um aprofundamento ainda maior da aliança de Evo Morales com a burguesia nacional e os donos de terras do país.

Esse conflito [isto é, a tentativa de golpe de 2008-2009] foi apaziguado por uma série de acordos entre o governo do MAS e a oligarquia financeira-latifundiária no âmbito da nova Constituição Política do Estado, o que permitiu uma coexistência relativamente pacífica da oligarquia com o MAS por quase uma década. Leis favoráveis (Lei dos Serviços Financeiros, Lei de Seguros, Lei de Investimento, Lei do Etanol, Decretos de Compensação e as Queimadas ‘Controladas’) e Contratos Estatais eram características do trabalho em conjunto entre a oligarquia tradicional e o MAS.

Referendum e Fraude Eleitoral

Um ponto chave para compreender como até o momento os golpistas saíram vitoriosos, foi a negligência do MAS com Referendum que ocorreu em 21 de fevereiro de 2016, que possibilitaria Evo Morales a concorrer pela terceira vez a Presidência do país. Derrotados com 51.30% dos votos, o MAS insistiu na tática de reeleger Evo, indo em setembro de 2017 ao Superior Tribunal de Justiça e abolindo os limites de reeleição, permitindo que Morales concorresse às eleições em 2019. Observando esse desenrolar, o PCR Bolívia, argumenta que essa tática, junto com acusações de fraude eleitoral em outubro pela reacionária Organização dos Estados Americanos (OEA), enfureceu certos setores da classe média do país que foram rapidamente cooptadas por setores reacionários, pro-imperialistas e fascistas do país, sob a liderança do fundamentalista Luís Fernando Camacho (MNR).

Esse descontentamento resultou em uma série de manifestações em massa, cujo ponto de unidade era a “defesa das eleições”, a rejeição da fraude eleitoral em 20/10 e a demanda por novas eleições. Em meio a esses protestos, líderes civis oligárquicos (principalmente de Santa Cruz) ganharam fama nas crescentes manifestações com palavras de ordem fanáticas religiosas e outras características fascistas. O principal representante desse grupo é [Luís] Fernando Camacho, do National Life Group (cujo pai era aliado político [do general] Hugo Banzer durante a ditadura).

O relatório da OEA, apresentado na manhã de domingo, indica que houve irregularidades nas atas e sistemas de software utilizados pelo Supremo Tribunal Eleitoral, recomendando a convocação de novas eleições com um novo Tribunal. Poucas horas depois, Morales convocou uma conferência de imprensa para anunciar novas eleições e um novo Tribunal.

Falta de Resistência da Esquerda

Em meio a toda essa atmosfera de ofensiva da direita como um todo, o PCR da Bolívia aponta uma característica que permitiu os setores fascistas e fundamentalistas a avançar ainda mais: a falta de um trabalho de consciência e resistência organizada de todo conjunto da classe operária pelo MAS, que fortaleceu na desestabilização de todo o governo. Até mesmo a Central Obrera Boliviana “deu as costas à Evo Morales” logo após a ruptura.

Do lado do MAS, as organizações sociais organizaram dias de manifestações [também] em “defesa das eleições”, que teriam dado a Morales a vitória no primeiro turno. Essas manifestações terminaram em violentos confrontos entre os dois lados mobilizados. Muitas das organizações cooptadas pelo MAS foram através de privilégios [econômicos e políticos], entre elas a própria Central Obrera Boliviana, deram as costas ao Evo [Morales] durante a tarde. A “via da mudança”, em vez de fortalecer a consciência de classe e promover uma organização combativa, assumiu a presidência e logo em seguida desmobilizou as classes trabalhadoras.

Fanatismo Religioso e Guerra Psicológica

Os altos representantes “civis” entraram no Palácio Quemado para ajoelhar-se com a bandeira [nacional] e a Bíblia sinalizando o início do fanatismo religioso, agora com apoio do Estado, e baixaram a Wiphala (bandeira nacional reconhecida pelo CPE [Constitución Política del Estado], que representa as lutas indígenas do país), da Assembleia Legislativa Plurinacional. Esses dois atos esclarecem o pensamento daqueles que hoje lideram o movimento “cívico-militar”, que buscam “recuperar a democracia”.

É grave a ação racista de baixar a Wiphala, representa uma segregação aberta às comunidades indígenas que representam a maioria do povo boliviano. Assim, inicia no país um estado geral que o PCR da Bolívia chama de “guerra psicológica”, onde por todo o território nacional se “espalham Fake News”, o que permite, por sua vez, a atuação direta de “grupo armados na promoção de assaltos aos bairros populares, zonas comercias, queima de casas de políticos e líderes populares, dinamites, queimadas de ônibus públicos, cortes de água e eletricidade, que geram um estado de caos, com a ausência de um governo formalmente constituído.”

Foto: Reprodução/Twitter

Que Caminho Devemos Seguir?

Por último, a declaração política do Partido Comunista Revolucionário (PCR) da Bolívia argumenta que é necessário urgentemente que a “esquerda avalie os erros e acertos dos último treze anos”, e que é preciso construir “uma alternativa patriótica e popular”. “A partir da PCR, chamamos à unidade das classes trabalhadoras, camponeses, estudantes, jovens, povos indígenas, mulheres, comunidade LGBT e todos os bolivianos que aspiram a um futuro mais justo, para lutar de uma maneira independente, [com o objetivo de] consolidar uma alternativa patriótica e popular a esta crise que o país está passando.

LEIA A NOTA COMPLETA EM PORTUGUÊS 
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