O massacre do último domingo é expressão do racismo das instituições capitalistas no Brasil
Sara Lorena, Jady Oliveira e Redação São Paulo
Foto: Daniel Arroyo / Ponte
BRASIL – Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, na madrugada de domingo (1) foi palco de mais uma ação truculenta da Polícia Militar durante um baile funk, resultando em nove pessoas mortas e vinte feridas. Novamente a população mais pobre do estado mais rico do país sendo massacrada, morta e exterminada por políticas fascistas naturalizadas e estimuladas pelos parlamentares do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que acumula 7 gestões consecutivas no estado, ocupando a cadeira de governador desde 1999.
Segundo informações dos moradores, os policiais organizaram uma “emboscada”, atirando desde o início contra a multidão presente no local. Com a intervenção policial, os jovens tentaram se dispersar e muitos passaram mal com as bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, gerando um clima de pânico que ocasionou pisoteamento, de acordo com os inquéritos apurados até o momento. Os familiares dos jovens assassinados questionam a versão da polícia de que as mortes teriam sido causadas por pisoteamento, mostrando as roupas das vítimas que seguiram limpas, diferente do que se espera das marcas de pisoteamento.
Vídeos dos abusos cometidos pelos policiais reforçam a indignação dos familiares. Os vídeos divulgados em redes sociais mostram os militares cercando e dando golpes de cassetete nos jovens encurralados, chutes em um homem que grita no chão, tapas no rosto, muitas bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral que foram disparadas, além de um policial aos risos agredindo covardemente jovens que saem com as mãos levantadas de uma das vielas do bairro.
Não se trata de uma ação isolada
A violência que a Polícia Militar demonstrou na noite de domingo está longe de ser uma atuação isolada, casos como esse se repetem cotidianamente nas periferias do estado e não é de hoje.
Assim como o ataque policial em Paraisópolis, as ações de invasão às favelas e o encarceramento da juventude são, em sua maioria, realizadas sob a justificativa mentirosa do combate às drogas. O fato é que a política antidrogas, da maneira que foi formulada e é aplicada, serve como ferramenta para incriminar e encarcerar a parcela da sociedade já colocada à margem: o povo negro. Não podemos nos esquecer de Rennan da Penha, preso sem nenhuma prova acusado de associação ao tráfico e nem dos milhares de negros que sequer passaram por um julgamento, mas seguem na prisão, sem direito à justiça, enquanto os grandes chefes do tráfico enriquecem de dentro de suas mansões e seguem exercendo seus mandatos na política nacional, impunes.
“A partir de janeiro, a polícia vai atirar para matar”, afirmou João Doria à Folha de São Paulo (2018). Reforçando seu posicionamento, em evento de seu Partido (PSDB), esse aliado de Bolsonaro em São Paulo afirmou que “hoje, São Paulo tem uma polícia preparada, equipada e bem informada”, complementando, “não há hipótese de uma comunidade, uma população, uma cidade, um estado ou uma grande região ter paz sem ter segurança. Em São Paulo, isso se faz com seriedade, com planejamento, com estruturação e inteligência para permitir a ação preventiva, com respeito aos policiais”. A fala de Dória, nesse contexto, não deixa dúvidas de que para sua gestão a paz é o genocídio da juventude negra e pobre, consciente e planejado, o que é demonstrado através do elogio a uma estrutura policial cujas mortes provocadas são em sua maioria de jovens negros. Em 2018, 64% das mortes causadas pela Polícia foram de pretos e pardos, conforme apontam dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado.
Reforçando a defesa de seu partido, Orlando Morando (PSDB), atual prefeito de São Bernardo, também se manifestou por meio de suas redes sociais:
“Boa noite, pessoal. Lamento as mortes ocorridas em Paraisópolis. Porém, quero deixar algumas perguntas? Esse evento tinha autorização para ser realizado? Os vizinhos estavam satisfeitos com esse barulho? Essa hora da madrugada é normal ter esse tipo de evento? Vocês Acreditam que a polícia foi recebida com flores quando chegou? Os pais sabiam que os filhos estavam lá? Agora querem achar os culpados. Em São Bernardo, iniciamos a gestão em 2017 e, de imediato, instauramos o Programa Noite Tranquila, que tem evitado esses descontroles noturnos principalmente nos fins de semana. Muitas foram as apreensões e a diminuição dos transtornos. Entretanto, os verdadeiros culpados são os organizadores desses eventos e a punição tem que ser severa em cima deles. E sempre, o mais fácil é colocar a culpa na Polícia, mas quando esses eventos perdem o controle é justamente a Polícia que é chamada pela comunidade”.
O secundarista Luiz Chacon denunciou que, apesar do discurso de Orlando Morando em favor da política de segurança de São Bernardo, essa tem se mostrado ineficiente e violenta, lembrando a repressão policial da guarda municipal contra as batalhas de rap na cidade. Chacon reforça ainda a falta de um programa sério de investimento em cultura na gestão de Orlando, “teatros fecham, pegam fogo e a população fica sem amparo”.
Casos como o da Favela Naval em 1997, os esquadrões da morte que aterrorizavam as periferias paulistas nos anos 1990 e o massacre do Carandiru no ano de 1992 seguem vivos na memória do povo paulistano e são exemplos que comprovam que os massacres da juventude negra não são desvios da regra no estado de São Paulo. A política de segurança genocida e racista, tal como defende e comemora o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), é uma das estruturas da sociedade capitalista.
O massacre promovido na ação da Polícia Militar no Paraisópolis este domingo tem raízes muito mais profundas do que a truculência policial. O que vimos nos vídeos divulgados pelas redes são um retrato que expressa o racismo que está entranhado nas instituições do Estado capitalista brasileiro. A resposta de Orlando Morando, João Dória e o silêncio dos Bolsonaro são mais uma prova da falta de significado que a vida do povo negro tem para os capitalistas. A única saída que pode pôr fim ao genocídio de nosso povo só pode passar pela tomada do poder das mãos da burguesia.
No meu modo de entender, este tipo de ação é terrorismo de estado visando tão somente afastar a população do Morumbi e outros bairros da mesma forma que incêndios que ocorrem sempre em áreas valorizadas. Trata-se apenas de especulação imobiliária com o apoio do estado.