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sábado, 21 de dezembro de 2024

A idealização da prostituição no capitalismo

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Reportagem anexada na edição 223 do jornal impresso, página 10.

Giselle Woolley


Foto: Reprodução

PERNAMBUCO – No sistema capitalista, a força de trabalho do proletariado não é digna de reconhecimento. Sofre com a superexploração, o aumento de carga horária, os cortes de direitos trabalhistas e remuneração indevida, e tudo isso se intensifica quando o componente da classe trabalhadora é a mulher. É incumbida à mulher a obrigação doméstica: cuidar dos filhos, do marido, dos idosos. Além de dedicar-se à jornada de trabalho dentro de casa, tem a necessidade de vender sua força de trabalho por valor inferior ao dos homens. Outra realidade dura no cotidiano feminino é o índice de desemprego: de acordo com o IBGE, dos quase 13 milhões de trabalhadores sem emprego, 51% são mulheres. E, diante desta conjuntura, surge o comércio mais covarde, a exploração do corpo da mulher.

Já houve diversos “títulos” para maquiar o verdadeiro significado da exploração sexual das mulheres: book rosa, acompanhantes, massagistas e, mais recentemente, sugar daddy (homens mais velhos que “bancam” garotas jovens). Apesar da variedade de nomes, tudo remete a um só ato de mercantilização das mulheres: a prostituição. 

A forma como o sistema capitalista, as grandes mídias e as grandes redes sociais estimulam isso é descarada. Recentemente, a novela A dona do pedaço, exibida na TV Globo, trouxe uma sugar baby (como são chamadas as garotas) alpinista social que alcançou a riqueza devido ao patrocínio de um homem mais velho e rico. Na trama, o homem se apaixona por ela e larga a esposa para seguir com sua sugar baby.

Não é à-toa o uso do termo patrocínio: o cadastro dessas meninas é feito de forma online, em um site denominado “Meu patrocínio”. A foto de capa do site, onde é exibido um casal em uma pose sensual em que o vestido da mulher está caindo delicadamente pelo ombro, já demonstra a proposta. A logomarca das empresas parceiras também estão exibidas na parte principal do site. São elas: Globo, Record, Veja, Marie Claire, Forbes, Estadão, Exame e News.

Idealização da prostituição, mascarando a prática com novos substantivos e adjetivos.

Mas a propaganda não para por aí. Num dos maiores streamings de vídeos, o YouTube, que tem cerca de 1,9 bilhão de acessos mensais, é possível visualizar anúncios feitos por garotas jovens depondo como conseguiram bolsas de marcas famosas, viagens e sapatos, além de aconselhamento, e estimulando outras mulheres jovens a que “saiam da curva” e se aventurem; vídeos explicando o que os sugar daddies procuram, bem como etiqueta para o primeiro encontro, entre outros, já que possuem um canal no YouTube com 31,8 mil inscritos.

O próprio site traz algo como sendo a denominação de um sugar daddy: “O verdadeiro Sugar Daddy é um homem experiente, confiante, bem-sucedido, que trabalha muito e, por isso, é muito próspero. Um Daddy gosta de compartilhar suas riquezas, conhecimentos e momentos com sua Sugar Baby”. Sabemos que esta prosperidade que falam é advinda do suor e da superexploração da classe trabalhadora. Se hoje temos nossas jovens se expondo à prostituição, é devido à falta de oportunidade em ingressar de maneira eficiente no mercado de trabalho. São esses empresários que subjugam as mulheres, tornando-as adorno ou artigo de compra/venda.

O site ainda traz: “Um verdadeiro relacionamento Sugar é baseado na transparência de ambas as partes e em benefícios mútuos. Todo mundo sai ganhando!”. Mais uma vez, temos estes burgueses asquerosos transformando o inestimável em mercadoria. Nenhuma relação humana pode ser revendida, e eles passam para a sociedade que relacionamentos são “joguinhos” para inserir a prostituição na vida dessas mulheres como algo moderno.

Importante ainda ressaltar é que um dos grandes apoiadores do fascista Bolsonaro, o hipócrita líder da Igreja Universal e proprietário da Rede Record, bispo Edir Macedo, fez recentemente a seguinte declaração: “Não existe família, não existe casamento, não existe felicidade com a mulher ‘cabeça’ e o homem ‘corpo’. É fracasso (sic)” (Correio Braziliense, 24/09/2019). Com tal discurso de desvalorização da mulher, fica óbvio que este “homem de família e de bons costumes” tenha interesse em contribuir para o crescimento da prostituição, já que a Record financia a plataforma Meu Patrocínio.

Mais uma situação que reflete bem a cara do governo fascista em que vivemos é a recepção calorosa de Oscar Maroni Filho, dono de uma casa de prostituição, outro grande apoiador do nazista Bolsonaro, em uma caminhada pró-Bolsonaro sendo ovacionado enquanto se exibia em um carro com a faixa “Brasil conservador” (Catraca Livre, 26/05/2019), sem esquecer que toda campanha virtual do verme Bolsonaro foi baseada em fake news.

No site também é permitido o cadastro de babies masculinos. Contudo, o maior foco são as sugar babies femininas, fato este que não surpreende, já que, dentro do capitalismo, a prostituição da mulher é algo visto de maneira comum. De acordo com a plataforma, há 1,8 milhão de mulheres inscritas no site e, na página, ainda é possível ver a média da renda dos sugar daddies por estado, por renda mensal e o ranking de maiores rendas, assim como diversas informações estimulando a inscrição.

O que o sistema capitalismo faz com a mulher é humilhante e cruel, despindo-a de toda e qualquer forma de trabalho digno, tornando-a tão despida de qualquer oportunidade, que vê como única saída vender seu bem mais valioso, seu corpo.

Alexandra Kollontai traz que um homem que compra os favores de uma mulher não a vê como camarada ou pessoa com direitos iguais. Ele a vê como uma criatura desigual de uma ordem inferior que vale menos. O desprezo que ele tem por ela afeta sua atitude com todas as mulheres. Em acordo com o exposto no Manifesto Comunista, Marx e Engels se opõem ao olhar de posse sobre mulher, identificam a mulher como ser pensante e necessário na luta social e colocam que a prostituição será extinta com o final do capitalismo.

Enquanto prioridades da vida forem vistas como mercadoria, não iremos evoluir nem prosperar. É preciso acabar com esse sistema econômico violento e injusto que nos rouba diariamente, distorce de forma vil as relações humanas e sociais, tira-nos a dignidade e tenta nos anular. Querem nos convencer a vender nossos corpos e nos submetermos ao capricho de burgueses repugnantes e exploradores que lucram em cima da força de trabalho da nossa classe, mas não vamos ceder: o socialismo vencerá e, daí então, esses capitalistas sórdidos conhecerão a força do povo.

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