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terça-feira, 16 de julho de 2024

Brumadinho, um ano depois: impunidade e bodes expiatórios

Ex-presidente e diretores da Vale seguem ainda sem condenação. Atingidos tentam reconstruir suas vidas.

Guilherme Piva


Fotos: Reprodução/Julio César

MINAS GERAIS – Vinte e cinco de janeiro de 2019: há exatamente um ano atrás, Brumadinho, uma cidade mineira com pouco mais de 80.000 habitantes ficava conhecida nacionalmente por um motivo que nenhum habitante quer. O maior crime ambiental do Brasil, cometido pelos burgueses que compraram a Vale a preço de banana durante o governo FHC, deixou uma marca de morte na história de nosso país. Além da devastação causada à Mata Atlântica, a extinção de espécies e a morte do Rio Paraopeba, foi de 281 mortes o resultado do crime que a imprensa burguesa ainda hoje insiste em chamar de tragédia, omitindo o crime premeditado dos donos da mineradora. Sendo que ainda 11 vítimas estão desaparecidas.

A comunidade luta para recomeçar e seguir em frente. A maioria dos agricultores de Brumadinho perdeu tudo com a contaminação de suas terras e ainda não retomaram o trabalho. As pessoas que perderam suas casas seguem ainda com uma mão na frente e outra atrás. No aniversário do crime, o retrato que fica é o da impunidade. Apesar de a Vale ter sido indiciada como pessoa jurídica por crime ambiental e diretores acusados de homicídio, ninguém pagou ainda pelos ecocídios de Brumadinho (2019) e Mariana (2015). E os “paladinos da justiça”, como o Ministro Sérgio Moro, seguem calados, sem esboçar indignação e sem exigir do Estado suas condenações.

A Procuradoria de MG denunciou o ex-presidente da Vale e outros 16 diretores que sabiam dos problemas da estrutura. A atitude da mineradora foi simplesmente eleger um novo mandatário e seguir em frente. Trabalhadores da Vale e da empresa alemã Tuv Süd que permitiram, sob ordem dos donos das empresas, que a barragem seguisse operando foram denunciados pela Polícia Federal e o Ministério Público, enquanto os verdadeiros arquitetos dos crimes seguem impunes. As respostas que a Vale dá ao povo brasileiro não passam de frases ocas. Muitos comerciais na TV, notas em site, e nenhuma ação concreta. Os capitalistas afirmam que estão tomando providências, mas na prática, só atrasam os prejudicados.

Da parte dos políticos burgueses, também nenhuma ação: Zema (NOVO) e Bolsonaro (sem partido), que sobrevoaram a região de helicóptero em cenas quase teatrais, não cobram dos verdadeiros culpados, sendo seus cúmplices e porta-vozes. O partido de Zema inclusive se prestou ao papel de advogado da Vale na Assembleia Legislativa de MG, fazendo o possível para relativizar e minimizar o crime hediondo da burguesia. O vice-presidente do NOVO no estado chegou a afirmar que “não podemos demonizar a Vale”.

Os dois crimes ambientais, que destruíram de forma irreparável tantas famílias e o legado de impunidade deixado pela mineradora privatizada nos anos 90, dão ao povo brasileiro o recado que “o crime do rico, a lei o cobre”, como nos versos da Internacional. Ou seja, no Estado capitalista, o sistema jurídico é moldado para punir a população pobre e trabalhadora, recorrendo inclusive a flagrantes forjados e condenações sem provas (como nos casos de Rafael Braga e Rennan da Penha), enquanto os exploradores cometem qualquer tipo de atrocidade com a conivência de todas as esferas do poder judiciário.



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