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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

É possível um banco anti-racista no capitalismo?

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A armadilha mais rebuscada desse sistema que agoniza frente o avanço de consciência da classe trabalhadora é sugerir no imaginário do povo a possibilidade de um banco só para negros como forma de combater o racismo. Nesse sentido, o banco não refletiria os interesses de meia dúzia de famílias bilionárias brancas, mas sim negras. Tudo, menos socializar as riquezas com os milhões de trabalhadores!

Jorge Ferreira


Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade

SÃO PAULO – Nessa semana a empresária Lorena Vieira, mulher negra, denunciou em suas redes sociais que foi vítima de racismo por funcionários do Itaú quando tentava fazer uma transação, que não conseguiu pois o banco alegou que ela não seria a pessoa do documento de identidade apresentado.  Na foto Lorena estava com o cabelo liso, e pessoalmente com ele cacheado. O Itaú a acusou de fraude e na sequência a conduziu até a Delegacia de Polícia. O fato trouxe à tona o debate de qual deve ser a solução para os negros deixarem de sofrer racismo em instituições financeiras.

É comum, dentro de alguns movimentos negros, a crença de que a saída é chegar no topo desse sistema. Iniciativas como “blackmoney” – fazer circular o dinheiro entre empreendimentos de proprietários negros – é um dos caminhos apontados para chegar no sonhado #pretosnotopo, hashtag muito conhecida em postagem nas redes sociais para demonstrar que o negro está “vencendo na vida”.  Depois de chegar lá, o indivíduo pode até virar Personnalité no banco, segmento que atende contas de alto rendimento, e mesmo assim estará sujeito ao gerente simplesmente chamar a polícia. A resposta agora apresentada é que se o banco tivesse mais gerentes negros, isso não aconteceria. Será que é verdade?

Lorena teve que ir para delegacia sob suspeita de que ela não era a pessoa do documento porque no capitalismo os corpos negros estruturalmente ocupam a base dessa pirâmide, ou seja, apesar da empresária estar com uma quantia de dinheiro razoável na conta, a maioria dos trabalhadores pobres são negros. Digo mais, a maioria são mulheres negras, trabalhando informalmente, sem nenhum direito trabalhista, condenadas à falta de moradia, à falta de saúde. A resposta é que mesmo se o gerente fosse negro, o subjetivo dele continuaria formado a partir das estruturas capitalistas e tem iguais chances de reproduzir o racismo estrutural que qualquer branco. Inclusive você exigir que um negro seja antirracista apenas por ser negro é acreditar que todo branco é racista só por ser branco. “E se eu estiver errado, você está sendo racista.”

Precisamos compreender como as estruturas sociais, a escola, a mídia, os bancos, aquelas instituições construídas para manter a sociedade exatamente como ela é, atuam para formar o subjetivo das pessoas. E aí vamos ver que o gerente do banco pode ser branco, amarelo, preto etc. que estará suscetível à ideologia racista do banco, inclusive sendo treinado para julgar e tratar as pessoas segundo a lógica capitalista.

“Ah, mas e se o gerente por acaso fosse negro e antirracista?” Claro, isso de fato é possível. Se sua foto estiver desatualizada ou por acaso seu cabelo estiver diferente do dia que tirou o documento, ele com certeza dará um jeito de checar sua identidade de outras formas antes de chamar a polícia. E se você for Personnalité será ainda melhor atendido por ele porque o que diferencia o atendimento no banco dentro do sistema capitalista é a quantidade de dígitos do seu saldo na conta. Por isso, a solução para acabar com o racismo não depende da mudança de gerentes brancos por gerentes negros, mas de mudança no sistema econômico que controla esses bancos. Se hoje o racismo impera dentro dessas instituições, é porque reflete o interesse de uma minoria de famílias bilionárias que são donas dos bancos. Essa contradição só pode ter fim não trocando os funcionários dessa elite, mas unificando todos os bancos e colocando o próprio povo para ser seu dono. Nada mais racional do que aqueles que acordam cedo e dão seu suor para construir o país, decidirem o que fazer com a riqueza gerada. Assim, nem Lorena e nem ninguém seria vítima de racismo, pois a lógica no atendimento bancário refletiria os interesses do próprio povo, ou seja, nossos semelhantes, sejam eles brancos, negros, indígenas, etc.

Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade

Então o jeito é construir um banco só para negros?

A armadilha mais rebuscada desse sistema que agoniza frente o avanço de consciência da classe trabalhadora é sugerir no imaginário do povo a possibilidade de um banco só para negros. Nesse sentido, o banco não refletiria os interesses de meia dúzia de famílias bilionárias brancas, mas sim negras. Tudo, menos socializar as riquezas com os milhões de trabalhadores! Nossa principal indagação deve ser qual a capacidade de uma instituição financeira dentro do sistema capitalista frear os juros e as amortizações da dívida pública que transfere toda a riqueza nacional para as mãos do imperialismo, responsável por perpetuar o Brasil como uma colônia e condenar todo o povo à miséria. É compreensivo que um povo que foi escravizado e nunca sequer foi reconhecido como cidadão pelo Estado brasileiro, reivindique fazer parte desse sistema econômico. Mas não será criando uma burguesia negra que controle um banco capitalista que resolveremos a falta de moradia para mais de 8 milhões de famílias, a falta de água para 35 milhões de pessoas, ou tiramos da extrema pobreza os mais de 50 milhões de brasileiros.

Portanto para acabar com o racismo o que precisamos não é reformar o banco colocando negros na gerência, tão menos construir bancos somente para negros. Devemos tomar todos os bancos para o povo, unificá-los, colocá-los sob o comando de um governo popular e distribuir todas as riquezas.

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