15 anos de impunidade do massacre do Parque Oeste Industrial

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A grande mídia jogou uma pá de cal no Massacre do Parque Oeste Industrial. Nós, no entanto, não nos esqueceremos jamais. Seguiremos a luta do Sonho Real. Essa, que fora a maior ocupação urbana da América Latina, só fortalece nossa ousadia e, mais que esperança, certeza de que, sim, é possível construir um mundo mais justo, onde nenhuma família se veja privada do furtada do direito ao teto.

Vilmar Almeida e Hélio Lucas
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas


Foto: Arquivo/Jornal A Verdade

GOIÁS – No último dia 16 de fevereiro, completam-se 15 anos do massacre do Parque Oeste Industrial, uma data que mancha de sangue a história do Estado de Goiás. A Ocupação Alto da Boa Vista, Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e a Unidade Popular (UP) saúdam o heroísmo das quatro mil famílias da Ocupação Sonho Real, no Parque Oeste Industrial, que, de 06 a 15 de fevereiro de 2005, bravamente resistiram a um despejo ilegal por parte da Polícia Militar do Estado de Goiás, a mando do então governador Marconi Perillo (PSDB).

O Sonho Real fora erguido em 2004, quando centenas de famílias, não tendo as condições de arcar com valores extorsivos do aluguel, desempregadas ou em subempregos, e face a um Estado que não se envergonha descumprir a Constituição, ocuparam três áreas no bairro Parque Industrial Oeste, em Goiânia. A área ocupada pelas famílias não cumpria sua função social, segundo relatório do Ministério Público Federal – era um lote destinado à especulação imobiliária, como tantas outras áreas ocupadas pelo povo pobre. Segundo o relatório do MPF, no dia 09 de setembro de 2004, a juíza estadual Grace Corrêa Pereira proferiu a decisão determinando o despejo das famílias que ali viviam, o que se desdobrou nas operações “Inquietação” e “Triunfo”.

Os nomes falam por si. Assumidamente terrorista, a “Operação Inquietação” foi uma estratégia de guerra contra as famílias, com bombas de efeito moral lançadas durante as madrugadas, o corte no fornecimento de energia e água, etc. Foram 10 dias de tortura física e psicológica coletiva. Sua missão consistia em enfraquecer a resistência dos moradores. Não bastando admitir o terrorismo no nome da operação, ao invés de dele se avergonhar, o governador e o prefeito, que hoje se repete no cargo, Íris Rezende, haviam prometido em campanha a manutenção das famílias no Sonho Real. A mentira e a covardia escancaram que, para o grande capital, que monopoliza terras no campo e na cidade, vale tudo na guerra contra o povo pobre que, na falta do Estado para garantir seus direitos, tem nele o seu carrasco quando ousa reivindicá-los. O Estado de Goiás seguiu, em sua violação frontal aos Direitos Humanos no dia 16, com a “Operação Triunfo” – triunfo do latifúndio urbano e do fascismo mascarado de segurança pública.

A Unidade Popular, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas e o Alto da Boa Vista saúdam a memória e as famílias de Wagner da Silva Moreira e Pedro Nascimento da Silva, mártires dos trabalhadores, que, por lutarem, foram covardemente assassinados, em clara execução. Afora esses heróis, cujos nomes não puderam os algozes apagar da história, os moradores denunciaram tantos outros executados que foram jogados em cisternas próximas à área desocupada, e tantos outros velados noutros municípios, não contados oficialmente nas baixas.

Foto: Arquivo/Jornal A Verdade

Não nos esqueceremos também dos 800 guerreiros populares sequestrados e injustamente encarcerados; 2.500 ocupantes foram forçosamente transferidos para o Ginásio de Esportes no Novo Horizonte, feito de verdadeiro campo de concentração pelo Estado criminoso. Ao longo de sua permanência ali, muitos trabalhadores pobres não resistiram à insalubridade do alojamento, obviamente impróprio à habitação humana. Passados nove anos, o Tribunal de Justiça de Goiás concluiu que “não houve excesso pela polícia”.

A grande mídia jogou uma pá de cal no Massacre do Parque Oeste Industrial. Nós, no entanto, não nos esqueceremos jamais. Seguiremos a luta do Sonho Real. Essa, que fora a maior ocupação urbana da América Latina, só fortalece nossa ousadia e, mais que esperança, certeza de que, sim, é possível construir um mundo mais justo, onde nenhuma família se veja privada do furtada do direito ao teto. Direitos Humanos se exigem de cabeça erguida, e não se imploram de joelhos. Olhamos para o Alto, tomamos o exemplo do Sonho Real, fazendo justiça à sua memória e heroísmo. O Alto da Boa Vista resiste!