Em greve histórica, trabalhadores da Casa da Moeda lutam contra atrasos salariais e privatização

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Nesta segunda (03) mais de 1500 trabalhadores e trabalhadoras da Casa da Moeda do Brasil cruzaram os braços e realizaram uma greve de 24h. A motivação do movimento é a proposta de Bolsonaro e do seu ministro da economia Paulo Guedes de privatizar a empresa pública de mais de 320 anos de história. Com alta adesão da categoria, em especial das mulheres, o Jornal A Verdade conta um pouco do dia histórico para essa categoria essencial na economia nacional.

Felipe Annunziata


Na porta da fábrica, 400 operários se reuniram em protesto contra a privatização – (Fotos: Heron Barroso/Jornal A Verdade).

RIO DE JANEIRO – Além disso, a atual diretoria da empresa composta por indicados políticos do governo federal tem tido uma política de ataque direto aos empregados, o que fez com que não se pague salário desde dezembro de 2019. Tem sido cortados todos os benefícios que complementam o salário dos operários moedeiros, como auxílios para refeições, plano de saúde e transporte. A creche que a empresa mantém passou a cobrar mensalidade de R$1,2 mil das mães e pais que trabalham na fábrica. Diante dessa situação, o Sindicato Nacional dos Moedeiros convocou uma assembleia na última quinta (30) e contou com a presença de mais de 700 trabalhadores que aprovou com ampla maioria a greve de advertência de 24h.

A Casa da Moeda do Brasil é uma empresa pública que é responsável pela produção do dinheiro (cédulas e moedas), emissão de documentos além da produção de certificados e selos que são obrigatórios em vários ramos da indústria, como bebidas e cigarros. Localizada no bairro de Santa Cruz, no Rio, na empresa são produzidos os passaportes emitidos em todo o país e é considerado um dos serviços mais seguros do mundo. A empresa existe desde o período colonial e agora está sob ameaça de privatização do governo Bolsonaro que quer entregar seus serviços ao capital estrangeiro, fazendo com que nem o dinheiro que usamos no dia a dia tenha sua produção controlada pelo Brasil.

Greve Teve Adesão em Todos os Setores

A produção de moedas, cédulas e a emissão de passaportes paralisaram completamente nos 3 turnos. Nos setores gráficos e de produção de selos e outros produtos a paralisação passou dos 50% de adesão. Na porta da empresa 400 trabalhadores se reuniram num grande piquete durante todo o dia para convencer aqueles colegas que ainda não estavam seguros da greve a para. No carro de som, trabalhadores e trabalhadoras moedeiros se revezavam em discursos de repúdio as ações do governo Bolsonaro e a perseguição da diretoria sobre os funcionários.

O Jornal A Verdade entrevistou no decorrer do dia alguns grevistas que nos relataram como foi o movimento. “Nossa greve de hoje por enquanto é de um dia, mas nós temos uma assembleia amanhã. A adesão foi boa, a gente teve uma boa parte da categoria aqui na greve e outra não veio trabalhar, então as máquinas ficaram paradas, inclusive o passaporte, que hoje é a menina dos olhos da casa da moeda.” – afirmou o gráfico Victor Carneiro.

Unidade Popular esteve presente apoiando a greve dos moedeiros.

A operária Vania Gonçalves conta, “A gente está sempre lutando em busca dos nossos para que eles não se acabem. Direitos perdidos, salários reduzidos, tem muito funcionário que nem salário vai ter. Tem gente que vai ter que abrir mão de botar filho no plano de saúde e da creche, vão ter que recorrer ao estado falido. Então a gente está aqui junto, toda a empresa, nessa luta contra a privatização não só da empresa, mas também em defesa dos nossos sonhos.”

Os ônibus responsáveis pelo transporte dos empregados vieram quase todos vazios, e os que vinham com passageiros traziam mais grevistas para engrossar as fileiras da manifestação. Haviam operários na organização do piquete desde as 23h de domingo e esse trabalho coletivo foi o que garantiu a forte adesão da categoria.

A mobilização contou também com o apoio de movimentos sociais que se solidarizaram. O Jornal A Verdade esteve presente junto com a militância da Unidade Popular e do Movimento Luta de Classes. A presença desses movimentos foi importante para mostrar que os moedeiros não estão sozinhos na luta contra o governo e ajudou a ampliar a divulgação do movimento grevista.

“A gente quer agradecer ao Jornal A Verdade, as Centrais Sindicais, aos movimentos e a Unidade Popular que estiveram em nossa atividade dando total apoio e isso também nos fortalece. Nosso próximo passo é nos organizar junto com as outras estatais numa grande greve geral no país para que a gente possa dar resposta a esse governo que não tem compromisso com o patrimônio brasileiro” – afirmou Aluizio Junior, presidente do Sindicato dos Moedeiros.

Mulheres Protagonizam Linha de Frente na Greve

Outro aspecto importante da paralisação foi a adesão das mulheres. Cerca de metade da força de trabalho da Casa da Moeda é feminina e elas se fizeram presentes em todos os momentos da greve. Um dos maiores ataques que a atual diretoria tem feito é a imposição de mensalidades à creche mantida pela empresa justamente direcionada às trabalhadoras mães. Mas no decorrer do dia ouvimos muitas histórias sobre como o machismo afeta e prejudica diariamente o ambiente de trabalho.

Mulheres protagonizam linha de frente na greve.

“Meu filho era da creche. Eu me vi obrigada a tirar ele da creche, porque era subsidiada pela empresa. Hoje a gente tem que ter um gasto de R$1.200 e diante disso 40 crianças saíram da creche. Eu como mulher, mãe, como filha não posso me calar diante dessa covardia que a diretoria da empresa está fazendo. A gente vai lutar até o fim! Se for para gente cair, vamos cair atirando!”, disse a operária Simone Balduíno, da produção de cédulas.

Muitas trabalhadoras nos relataram como o fato de serem mulheres foi considerado por homens na chefia e nas sucessivas diretorias como impedimento para se alcançar promoções ou cargos de chefia. Houve casos de trabalhadoras que ficaram 35 anos na empresa e se aposentaram sem ter tido nenhum progresso na carreira. Uma trabalhadora nos contou que uma colega era cotada pelo gerente de seção para ser promovida e o chefe do setor proibiu pelo fato dela ser mulher.

A situação da cobrança de mensalidade na creche faz a situação das operárias da Casa da Moeda ficar ainda pior. Pois a todo momento ameaças de demissão e dispensa são feitas sob o argumento de que mulheres podem ser mães e tem direito a licenças, como se isso fosse motivo para demissão. Com o atual governo, que acha que mulher não tem que ter direito e tem que se submeter a opressão, esta situação tem piorado pois chefes e diretores tem se sentido mais à vontade em assediar as operárias.

Mobilização Continua nos Próximos Dias

Amanhã (4) haverá uma assembleia para deliberar sobre os próximos passos do movimento. A intenção de muitos trabalhadores é procurar unificar as mobilizações com outras empresas públicas, como a Petrobras e o Dataprev que já estão em greve contra a privatização. Enquanto isso, os operários da Casa da Moeda insistem que o único caminho para barrar os retrocessos e conquistar vitórias é a luta e a greve.

O movimento dos moedeiros se insere nas crescentes mobilizações de trabalhadores contra a política entreguista do governo Bolsonaro e de Paulo Guedes. Junto a revolta nas universidades federais, os trabalhadores das empresas estatais tem se mobilizados por todo país. Além da Petrobras e do Dataprev já mencionados, também tivemos ainda no ano passado a greve nos Correios. Assim, as trabalhadoras e trabalhadores da Casa da Moeda nos mostram o caminho necessário para derrubar a política desse governo. Embora pequena, essa categoria fundamental para nossa economia nos mostra que o único caminho para a vitória contra o fascismo e o entreguismo é a luta.