UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Carta | 1,6 milhão de mulheres sofreram violência

Carta anexada à página 10 da edição 224 impressa do Jornal A Verdade.

Nadja Gabriely
Movimento de Mulheres Olga Benário


Foto: Jornal A Verdade

PERNAMBUCO – Dados de uma pesquisa encomendada em fevereiro de 2019, pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) ao Datafolha, a fim de avaliar o impacto da violência contra as mulheres, mostram números que reforçam em nós a consciência da necessidade da luta das mulheres em nosso país. De fevereiro de 2018 a fevereiro de 2019, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento, e 22 milhões (37,1%) passaram por algum tipo de assédio. E mais: 42% dos casos de violência ocorreram no ambiente doméstico. Não estamos seguras nem mesmo dentro de nossos lares.

Vivemos em uma sociedade em que a mulher é vista como propriedade do homem e que deve ser submissa. Temos que nos calar e “ser compreensivas” com situações de agressão e violência. A situação de vulnerabilidade social em que a mulher se encontra, a dependência financeira e emocional, são fatores que colaboram para que milhares de mulheres continuem com seus parceiros, mesmo sendo violentadas cotidianamente. Podemos perceber isso quando a pesquisa ainda nos traz o dado de que, após sofrer violência, apenas 48% das mulheres denunciaram o agressor ou procuraram ajuda, ou seja, mais da metade dessas mulheres continuaram em situação de risco sozinhas! Foram registrados em nosso país, nos anos de 2018 e 2019, 2.357 casos de feminicídio, o que quer dizer que, a cada oito horas, uma mulher foi morta por ser mulher. 

É necessário que nos esforcemos para pensar no quanto esses números são graves, assustadores e reais, e o quanto eles nos mostram como nossas vidas vêm sendo dizimadas por um sistema patriarcal-racial-capitalista que nos adoece e nos mata todos os dias! Sofremos também com a exploração do mercado de trabalho, que nos paga salários inferiores aos dos homens, embora desempenhem os mesmos papéis e possuamos, muitas vezes, melhor qualificação profissional que estes. Essa exploração se torna ainda maior devido a nossa dupla jornada de trabalho, visto que o sistema estruturalmente determina como de responsabilidade da mulher as tarefas domésticas e a criação dos filhos.

A necessidade de lutar grita à nossa porta! Pela erradicação da violência contra a mulher, pelo fim da exploração sexual, por creches nos bairros, por melhor acesso à saúde e educação, contra a lesbofobia, pela garantia de emprego e igualdade social e contra todos os tipos de opressão que nos esmaga todos os dias.

Precisamos estar unidas, debatendo sobre como podemos reivindicar políticas públicas que melhor nos ampare, falando sobre as limitações que a sociedade nos impõe, trocando experiências e nos fortalecendo umas com as outras para que compreendamos que nossa luta não é individual e que a transformação da sociedade é, sim, possível!

Nesse sentido, o Movimento de Mulheres Olga Benário, do qual faço parte, foi criado em 2011 para responder à altura a necessidade urgente de organizar as mulheres brasileiras na luta contra a violência, a opressão, a exploração da mulher, por melhores condições de vida, pela igualdade de direitos e pelo socialismo. Ao longo desses anos de existência, o Movimento de Mulheres Olga Benário tem desenvolvido diversas lutas em nosso país. 

Temos erguido com firmeza a bandeira dos direitos das mulheres trabalhadoras, organizado e participado de passeatas nas ruas, de atos em memória das mulheres assassinadas durante a ditadura militar fascista, realizado cursos de formação e de profissionalização, palestras em universidades, bairros e escolas, ocupações em Secretarias Especiais de Mulheres, construído plenárias e encontros nos estados, desenvolvendo a luta por creches públicas, organizando casas de referência para mulheres vítimas de violência e denunciando a exploração da população feminina, especialmente da parcela mais empobrecida.

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