A luta dos trabalhadores franceses deve servir de exemplo para toda a classe de que a luta é o único caminho para barrar os ataques aos direitos sociais promovidos pelos governos capitalistas.
Heron Barroso
Foto: Christian Hartmann/Reuters
PARIS – Após uma greve geral de quase dois meses e semanas de protestos diários, os trabalhadores franceses conseguiram uma vitória histórica e derrotaram a principal medida da Reforma da Previdência apresentada pelo presidente Emmanuel Macron, que visava a aumentar a idade mínima da aposentadoria de 62 para 64 anos.
A mobilização, organizada pelas principais centrais sindicais do país, contou com a participação de diversas categorias, como ferroviários, garis, caminhoneiros, bombeiros, professores, servidores públicos e médicos, entre outros, e já é considerada a maior dos últimos 25 anos.
Em pelo menos cem cidades da França, milhões de pessoas foram às ruas durante os meses de dezembro e janeiro com cartazes e faixas denunciando os planos do governo de obrigar os trabalhadores a se aposentarem mais tarde, recebendo menos. Jornais deixaram de circular, emissoras de rádios saíram do ar e centenas de voos foram cancelados. Em diversos pontos do país ocorreram confrontos com a polícia, que não foram suficientes para diminuir a mobilização, que contou com o apoio de mais de 60% dos franceses, segundo pesquisa da consultoria Odoxa-Dentsu.
A determinação dos trabalhadores franceses foi explicada assim por Karim, 34 anos, um condutor de bondes em Paris que participou da greve desde o primeiro dia: “Preferimos sacrificar um salário do que nossas aposentadorias, as de nossos filhos e as dos filhos de todos os franceses”.
Foto: Reprodução/La Forge
Atualmente, a França tem 42 regimes diferentes de aposentadoria, resultado de décadas de luta de um povo conhecido por sua rebeldia e combatividade. As categorias com mais tradição de luta e organização têm, evidentemente, mais benefícios e vantagens para seus aposentados. A proposta do governo, porém, previa a criação de um sistema único para todos os trabalhadores franceses, nivelando por baixo os direitos e benefícios de todas as categorias profissionais.
A reforma proposta pelo governo francês faz parte da atual política da burguesia de jogar sobre a classe trabalhadora todo o peso da crise econômica do capitalismo, aliviando o lado dos bancos e grandes empresas. Em uma série de países (entre eles, o Brasil) essa política vem sendo implementada graças à conivência e à paralisia dos setores majoritários do movimento sindical, que recua ante as dificuldades de mobilização da classe, ao invés de jogar todas as fichas na luta e no confronto para derrotar as medidas neoliberais.
A luta dos trabalhadores franceses deve servir de exemplo para toda a classe de que a luta é o único caminho para barrar os ataques aos direitos sociais promovidos pelos governos capitalistas e certamente estimulará os trabalhadores de outros países a também enfrentar e derrotar essas medidas.