Júlia Ew é a pré-candidata da UP em Florianópolis

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Júlia Ew é mestranda em Psicologia da Saúde na Universidade Federal de Santa Catarina, presidenta estadual da Unidade Popular pelo Socialismo em Santa Catarina e coordenadora estadual do Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB). Tem 22 anos, mora no continente de Florianópolis e participou ativamente das jornadas de lutas da juventude contra os cortes na educação em 2019 e da greve estudantil que paralisou a UFSC contra o programa do governo chamado “Future-se”.

Por Queops Damasceno


Foto: Jahy Pronsato

A Unidade Popular pelo Socialismo realizou nesse domingo (15/03) uma feijoada de comemoração do registro da UP, e também de apresentação das pré-candidaturas a serem propostas ao diretório nacional do partido. Mais de 70 pessoas estiverem presentes prestigiando o evento e apoiando os nomes de Júlia Ew como pré-candidata à prefeitura de Florianópolis, e de Matheus Menezes como pré-candidato a vereador. Durante o ato político, as falas apontavam a necessidade de um projeto popular para a capital catarinense, que priorize as necessidades do povo pobre e trabalhador ao invés da elite que historicamente domina a cidade.

Vídeo: Júlia fala em assembleia da comunidade da UFSC durante a greve / A VERDADE.

A VERDADE: Como está atualmente o processo de construção da UP?

Júlia Ew: Santa Catarina é um dos estados com um trabalho mais recente da Unidade Popular, mas que por sua vez, não para de crescer. Uma parte dos militantes daqui participaram do processo de construção da UP desde a coleta de assinaturas, denunciando nos terminais de ônibus, praças, portas de empresas e locais de estudo e moradia a situação precária em que vivemos e a necessidade de construir uma ferramenta para lutarmos por uma sociedade mais justa para os trabalhadores e trabalhadoras. Essa ferramenta se materializou, hoje temos a UP, que na nossa cidade ocupa esses mesmos locais das coletas com brigadas do jornal A Verdade e panfletagens pra estarmos em contato direto com nosso povo. Temos nosso diretório estadual, que tem buscado construir a UP em outros municípios de Santa Catarina, nosso diretório municipal em Florianópolis está se consolidando, participamos das principais lutas da cidade, construímos inúmeras plenárias e atividades culturais, mas nossa maior característica vêm sendo o contato intenso e incessante com o povo da nossa cidade: quem trabalha em shopping, no comércio, na limpeza, segurança, terceirizado, empregada doméstica, servidores, estudantes, motoristas e cobradores de ônibus, moradores das periferias… Esse é o público que vêm mais nos apoiando e que com certeza irá protagonizar os processos de mudanças que virão a ocorrer em nosso país.

Foto: Feijoada da UP com ato político / A VERDADE

A VERDADE: Em quais lutas a UP está mais diretamente envolvida nesse momento?

Júlia Ew: A UP está presente em muitas lutas da cidade de Florianópolis. Uma delas é a luta por moradia digna, juntamente ao MLB (Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas). Estamos presentes em bairros da periferia, fazendo estudos, brigadas de jornal, mutirões, e reunindo núcleos de trabalhadores dispostos a lutar por condições dignas de saneamento básico, moradia e lazer nos bairros pobres da cidade, a apoiar as ocupações urbanas que sofrem ameaças constantes de despejo. Nas escolas e Universidades de Florianópolis, temos militantes lutando por uma educação pública de qualidade e para que as universidades não sejam só para os filhos dos ricos, mas que os trabalhadores e seus filhos também possam entrar e permanecer em seus cursos. Participamos das jornadas de lutas da cidade, como por exemplo as mobilizações estudantis de 2019, a greve geral, o 8M, dia de luta das mulheres trabalhadoras. Além disso, uma das nossas lutas mais constantes, é pela democratização da mídia, para que as pessoas possam ter acesso às notícias do país por uma via popular, e não apenas pela mídia hegemônica, que distorce muito a realidade. Pra isso, estamos todas as semanas nos bairros, portas de empresas, terminais de ônibus e locais de estudo dialogando e divulgando nossos posicionamentos, materiais e o jornal A Verdade, que ajudamos a construir.

Brigadas do jornal aumentam o diálogo da UP com a população / A VERDADE

A VERDADE: O que a UP defende pra sua cidade?

Júlia Ew: Florianópolis é conhecida Brasil a fora por ser a “ilha da magia”. O que os governantes daqui tentam esconder a todo custo é que a ilha (e o continente) é da magia só para os ricos, porque para os trabalhadores está reservada uma péssima política habitacional (o déficit habitacional é de mais de 10 mil habitações), transporte público caro e ineficiente, poucas opções culturais populares (a polícia reprime duramente as existentes como batalhas de rap e saraus), a violência policial gratuita, falta de políticas de proteção à vida das mulheres e a carestia da vida, pois Florianópolis é a segunda capital com sexta básica mais cara do país!

Pra combater essa situação, é preciso priorizar de forma definitiva a vida da maior parte da população, ao invés do lucro desenfreado para uma reduzida parcela de famílias ricas. A capital precisa urgentemente de restaurantes populares, de uma reforma urbana que devolva a cidade pro povo e garanta o direito aos territórios indígenas e quilombolas. Nossa cidade precisa urgentemente de casas de referência para mulheres em situação de violência e de investimento em cultura popular, pois a juventude pobre tem ficado com cada vez menos opções de lazer em Florianópolis, uma vez que tem sido verdadeiramente perseguida pela polícia militar.

Outra necessidade importante é a de estatização do transporte público, acabando com a máfia dos consórcios privados e garantindo um transporte público, gratuito, com melhores condições para os trabalhadores rodoviários e com mais opções de horários e rotas de ônibus para a população.

Defendemos a necessidade da criação de mais postos de trabalho, pois a população florianopolitana sofre muito com as condições instáveis do trabalho informal, e a efetivação de mais creches e escolas públicas – e em melhores condições- com aumento imediato do salário dos professores e professoras. A cidade precisa de um centro de referência estatal para os imigrantes que chegam em Florianópolis, pois o CRAI, que foi um grande avanço no acolhimento à essa população, foi fechado no ano passado devido à instabilidade que representam as políticas das OS’s, a qual somos contrários. Defendemos um plano consequente de garantia de saneamento básico para toda a cidade, garantia de subsídio para o SUS, aumentando o efetivo de profissionais da saúde e de medicamentos, além de outras inúmeras pautas que iremos construir juntamente à população.

Foto: MLB na ocupação Fabiano de Cristo

A VERDADE: Como a UP chegou ao seu nome como pré-candidata?

Júlia Ew: Acho que a indicação do meu nome para pré-candidatura foi algo natural pro conjunto do partido, pelo fato de ter participado desde o começo da construção da UP aqui na cidade e estar representando o partido aqui em Santa Catarina, muito embora essa tarefa seja um desafio enorme pra todos nós, pois a encaramos com muita seriedade. Eu nunca tive a pretensão de me candidatar a nada, não era algo que eu pensava que fosse possível, talvez por que a representação de políticos no Brasil não tem nada a ver com a população mesmo, como que os candidatos precisassem ser homens, ricos, brancos e mais velhos. Isso vem mudando, e a UP em sua composição, por ter sido construída por trabalhadores, tem espaço pra gente acreditar que a política pode partir da gente, mulheres, jovens, pessoas negras, LGBTs, enfim, quem constrói de verdade esse país.  O partido aqui em Florianópolis é bastante jovem em sua composição, eu mesma não fujo à regra. Essa característica tem na verdade nos fortalecido, significa que temos um partido cheio de futuro, cheio de energia e que não vai fugir da luta!

Foto: Juventude faz Bolsonaro recuar nos cortes de verbas da educação em 2019 / A VERDADE

A VERDADE: Por fim, o que mais você gostaria de falar para os nossos leitores?

Júlia Ew: Participem! Política tem a ver com a luta pela nossa vida, tem a ver com tomarmos as decisões sobre temas que nos afetam. Pra nós, política tem a ver com não acreditar que gente que não trabalha, que nunca pegou um ônibus e que vive às custas do nosso trabalho pode decidir melhor do que a gente sobre nosso país. E a Unidade Popular é a ferramenta de luta criada para nos organizarmos e conquistarmos uma nova sociedade, sem exploração e sem miséria, que só pode ser construída pelas nossas próprias mãos. É hora do povo ser poder nesse país, a burguesia já mostrou que nunca irá resolver nossos problemas. Vamos juntas e juntos lutar pelo poder popular e pelo socialismo! Fora Bolsonaro!!