Foto: Adriano Tomé/A Verdade
Por João Coelho
Sou trabalhador metalúrgico. Estou desempregado há uns nove meses devido a esse aprofundamento recente do processo de desindustrialização do país.
Hoje, para poder me manter, tenho trabalhado como estampador em parceria com mais um ou outro colega que também está desempregado. Temos trabalhado autonomamente para poder nos mantermos enquanto não arrumamos outro emprego.
A necessidade do auxílio é que nós fazemos as vendas na rua: montamos bancas em eventos, atividade culturais, políticas, além de bancas na rua mesmo, em finais de semana, etc. Agora, não podemos sair às ruas, expor nossos produtos, não existem lugares com grandes aglomerações nos quais nós possamos realizar as vendas e a propaganda. A necessidade do auxílio é para poder ter alguma renda, afinal estamos sem renda, sem poder sustentar as contas de casa, então é uma necessidade grande para que nós, fundamentalmente, possamos pagar as contas.
Sem isso, recorreremos a amigos, familiares, mas o fato é que todos eles também estão com bastante dificuldade. Minha mãe, por exemplo, é manicure e não está podendo trabalhar.
Sobre o atraso e a estrutura geral do auxílio, é um descaso muito grande do governo a forma com que esse auxílio tem sido feito. Primeiro porque a desinformação é muito grande, então essa informação não chega nas comunidades mais pobres, não é uma informação clara nem objetiva. Essa questão de resolver pelo celular é boa, mas o fato dessa ser a única forma de resolver é muito ruim, pois muitas pessoas não têm celular, não conseguem acessar e têm uma série de dificuldades.
A gente vê isso nos bairros mais pobres onde as pessoas não estão se cadastrando por não conseguir, por não saber, por não ter orientação.
E isso demonstra que, para o governo, a fome e a miséria do povo não são uma emergência. Afinal, se fosse uma emergência eles resolveriam com um sistema simples, algo que com seu CPF ou RG você pudesse ir a uma lotérica se cadastrar e retirar o dinheiro ou fazer um depósito. Enfim, a gente sabe que é possível fazer um sistema que dê conta se quisessem que o dinheiro saia logo e que as pessoas recebam. Agora, a burocracia que se têm colocado é uma demonstração de que, para o governo, isso não é uma emergência, apesar do nome do auxílio ser “emergencial”, isso não é uma emergência.
A estrutura é muito ruim, muito burocrática, afastada da realidade do povo. Quem tem qualquer problema com o seu CNPJ não consegue se cadastrar. Então a gente tem vários trabalhadores que têm esses problemas com o CNPJ, que devem ou que tem vários outros problemas e não estão podendo se cadastrar por conta disso.
E o sistema coloca essas pessoas para morrer. Isso sem considerar que seiscentos reais ainda é muito pouco! R$600,00 não é um valor que sustenta uma família. Não paga sequer um aluguel e não vêm acompanhados de nenhuma outra medida, como suspender a conta de água, a conta de luz, etc.
Para mim, como solucionar o problema?
A gente precisa que o governo tome medidas para colocar essa crise na conta dos mais ricos. Então é necessário que se suspendam as demissões (que tem havido muitas), os despejos, que se deixe de cobrar as contas de água e luz desses meses, os aluguéis, etc.
E que se estabeleça uma renda que seja no mínimo de um salário mínimo para os trabalhadores poderem ficar em casa e poderem se sustentar, mantendo seu isolamento e sua quarentena.
Nós sabemos que existe dinheiro pra isso, dinheiro que hoje está sendo direcionado aos banqueiros e as grandes empresas (empresas como as da aviação que tem recebido dinheiro do governo para não quebrar suas contas nem reduzir seus lucros).
Na minha opinião, nós temos que jogar essa conta nas costas destes grandes capitalistas. O Estado precisa tomar o lado dos mais pobres nesse momento, impedir as demissões e garantir o sustento das famílias para poder garantir o isolamento e a saúde de todos.
A gente sabe que esse dinheiro existe, só que que ele seja distribuído para que a gente possa garantir a saúde e a vida dos trabalhadores, que hoje é o mais importante.