Bruna Santos – Movimento de Mulheres Olga Benario, Cariri – Ceará
O Ceará ocupa o 4º lugar no ranking dos estados que mais matam mulheres em nosso país. Apenas em 2019 foram registrados 31 feminicídios e mais de 79 denúncias de violência contra a mulher entre o mês de maio e outubro. Segundo a Secretária da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) o mês de dezembro do ano passado ficou marcado por contabilizar a média de uma mulher morta por dia.
O número de casos, de acordo com as pesquisas, supera o percentual do ano anterior desde 2009. A maioria dos crimes do último ano foram cometidos utilizando arma branca, com 18 casos, seis casos registraram uso de arma de fogo, e os demais estrangulamento. Outro fator alarmante é a interiorização dos crimes cometido no estado. A região do Cariri nos últimos 19 anos listou 500 feminicídios, sendo 10 deles, em 2019.
O ano de 2020 não começou diferente. Somente em janeiro 28 mulheres foram mortas, contabilizando 22 homicídios, três feminicídios e uma lesão corporal seguida de morte. Os outros dois casos ainda estão em apuração.
Descaso do Governo do Estado
Assim como no restante do país há uma deficiência nas políticas públicas em defesa da vida das mulheres. Isso perpassa tanto pela falta de atendimento nas delegacias da mulher em tempo integral quanto na construção e instalação da Casa da Mulher nas regiões interior do estado.
Ora, de que adianta uma Delegacia da Mulher em horário comercial quando a maioria dos crimes são cometidos nos finais de semana e após às 20 horas? As delegacias que foram conquistadas do movimento feminista brasileiro, acaba muitas vezes, sendo um grande banco de dados, que não possibilita o atendimento imediato a vítima e a apuração do caso a tempo. E pior, só denunciar não resolve o problema, pois são quase inexistentes os espaço de acolhimento adequado, para prestar ajuda as mulheres vítimas de violência. Quem não tem como sair do lar violento, o que faz?
De fato, a construção da Casa da Mulher inaugurada em 2018 na cidade Fortaleza, tem cumprido um papel importante nesse acolhimento. Entretanto, ainda é insuficiente para a demanda, com corte no orçamento realizado pelo governo Bolsonaro, essa situação piora. Afinal o índice da morte de mulheres entre 24 e 36 anos cresceu 46% no Ceará.
O Governo de Estado há muito tem feito falsas promessas acerca da prevenção de violência contra a mulher. No dia 7 de março de 2019, o governador Camilo Santana (PT) anunciou nas redes sociais a implantação de unidades da Casa da Mulher Cearense nos municípios de Juazeiro do Norte, Quixadá, Sobral, Sertão Central e Região Norte.
Segundo ele, a construção das unidades teria início no mesmo ano. Bom, até agora não vimos um tijolo sequer sendo colocado para essa implementação. Se não vimos o tijolo, não escutamos também um retorno sobre o assunto. Mas ouvimos diariamente os relatos do sangue das mulheres sendo derramado e publicado quase que diariamente nos programas televisivos policiais, que se utilizam dessas tragédias para ganhar audiência.
Não tomar medidas eficazes e práticas de combate a violência, ou não amplia-las, é contribuir com a morte de milhares de mães, jovens e mulheres trabalhadoras que lutam para sobreviver nesse sistema cruel de exploração. A luta pela vida das mulheres é fundamental para termos uma sociedade sem desigualdades sociais, machismo e igualitária.