Doria finge, mas não está ao lado das trabalhadoras e trabalhadores

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Coordenação Estadual do MLB – São Paulo


Foto: Anderson Costa

SÃO PAULO – A pauta do momento é o COVID-19, e não à toa. A rápida propagação do vírus, os diversos cortes de investimento que há anos sucateiam o Sistema Único de Saúde (SUS), a demora em medidas necessárias por parte do Governo Federal e dos Governos Estaduais para evitar a contaminação desenfreada do povo brasileiro e implantar medidas de emergência que evitem a eminente miséria de grande parte da população, entre tantas outras deficiências do Estado, são motivos mais do que suficientes para nos preocuparmos e debatermos.

A periferia e a população pobre do nosso país são os mais afetados frente à atual crise de saúde, visto que no Brasil milhões de famílias sofrem por não ter casa própria, acesso à água encanada, coleta de lixo e tratamento de esgoto. Essa situação gera a precarização da saúde e a proliferação de doenças. 

Nesse momento de pandemia, fica mais evidente a gravidade dessa situação, já que além das questões estruturais do local de moradia, se agrava também a situação da falta de emprego formal. Grande parte dos moradores das ocupações, bairros pobres e favelas estão desempregados, vivem de trabalho informal ou do trabalho autônomo, sendo assim os mais ameaçados durante a quarentena. 

Diante deste cenário alarmante, como já era de se esperar, o fascista Bolsonaro virou as costas às trabalhadoras e trabalhadores, propagandeando um discurso que minimiza a doença e incentiva os patrões a continuarem obrigando que a produções sigam normalmente, deixando claro mais uma vez que pouco se importa com a vida dos brasileiros e que seu único interesse é o lucro.

Por outro lado, vemos governadores estaduais se opondo às falas do presidente, assim como tem feito o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB). Mesmo tendo decretado o fechamento dos espaços públicos de lazer e encaminhado os funcionários públicos mais velhos para trabalharem em casa, o governador mantém ainda o trabalho presencial para muitos dos funcionários públicos, que mesmo podendo cumprir suas suas tarefas do trabalho de casa, não foram liberados. 

Além disso, ignora a grande parcela de trabalhadores do estado submetida a empregos informais ou de serviços terceirizados de outros grandes conglomerados e bancos, nada dizendo, sobre os R$600 destinados à estas pessoas, um valor muito abaixo de um salário-mínimo, ou seja, o mínimo necessário para sobrevivência.

Como ficarão esses lares durante o período da pandemia?

Os dados já nos mostram, por exemplo, o aumento da violência doméstica, a falta de alimentos e produtos de higiene para saúde básica, a falta d’água na periferia em contraste com a recuperação de enchentes e incêndios nos bairros abandonados pelo poder público.

Para ‘ajudar’, o Governador João Doria decidiu adiantar as férias dos professores ao longo do ano e aproveitar do grave momento para testar um modelo de ensino a distância, bastante comum no ensino superior privado, direcionando dinheiro público às empresas estrangeiras de telecomunicação, com intenções futuras de transferir todo o ensino para esta modalidade, acabando com milhares de empregos entre professores e corpo escolar, sem falar no espaço que as escolas representam. Para esconder tais medidas, encaminhou um projeto que remunera as famílias com R$55 mensais por aluno julgando ser o suficiente para cobrir as despesas da merenda e um auxílio para as condições citadas anteriormente.

Na área da saúde, ainda no mês passado, o governador anunciou um repasse de R$92 milhões para São Paulo após reunião com o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Democratas), outro oportunista do momento. Apesar do anúncio da verba até agora, primeira semana de abril, Doria só divulgou a compra e parceria de produções de máscaras e aventais, atingindo um gasto de até 5 milhões de reais e que estão previstas para ser entregues a partir do dia 20 de abril. 

O que tem feito então, com o outro montante do dinheiro da população? Os relatos de profissionais da saúde, também denunciados em nosso jornal, mostram que para os hospitais, UPAs, UBSs e postos de saúde também não chegaram estes recursos.

E  piora, Doria mantém mais de 5 milhões de pessoas no estado de São Paulo sem acesso a água durante o período da quarentena e mesmo sabendo que saneamento básico é competência dos governos estadual e municipal, nada foi feito em relação a isso. 

Outra novidade à população paulista é a implementação do Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI); este é um acordo fechado desde a última semana pelo governo do estado, em parceria com grandes operadoras como Claro, Vivo, Tim e OI, para monitorar por meio de rastreamento dos aparelhos de celular a localização de cada cidadão. Doria conta a iniciativa para a imprensa como se fosse uma brilhante iniciativa para monitorar a população e evitar aglomerações durante a quarentena. 

Pois bem, sabemos o quão valioso e sigiloso é o monitoramento de dados pessoais no nosso país e no mundo. Portanto, a troco de quê operadoras fariam um acordo como este, e altamente sem custo, para o Estado? Nestas condições, onde se aplica a segurança de dados? E a privacidade dos paulistanos? Mais grave que isso é a falta de bom senso do governador que fecha parcerias com grandes empresas para lucrar com isso após a crise mas não diz uma palavra diante da grande aglomeração de trabalhadores nos call centers da cidade, que não seguem as recomendações da OMS e da Vigilância Sanitária. 

A verdade é que Doria pouco se preocupa com o isolamento da população

Mais da metade dos trabalhadores do estado (51%) continuam trabalhando e no decreto sobre trabalhos essenciais emitido por ele próprio, categorias como construção civil e concessionárias, além dos call centers,  ficaram fora, colocando assim esses trabalhadores na obrigatoriedade de manter suas atividades.

Não precisamos de uma bola de cristal para saber que Doria e sua equipe desenham a mensagem que querer passar à mídia e, no atual momento, a tentativa de se descolar da imagem que se pinta o Governo Federal é uma estratégia benéfica aos interesses do Governador de São Pailo. Afinal, considerando a postura de Bolsonaro diante da crise mundial de saúde, seus altos índices de rejeição e as quebras de suas alianças, parece um bom negócio fingir que ambos nunca estiverem de mão dadas.

O que o Governador (popularmente conhecido pelos paulistas como “BolsoDoria”) ignora, é que o povo brasileiro lembra – e muito bem – que até poucos meses atrás ele e sua chapa de milionários apoiaram as calamidades de Bolsonaro e que inclusive apoiaram a sua campanha eleitoral para a presidência, campanha ilegítima e recheada de notícias falsas.

Portanto, não nos deixemos enganar por este e outros tantos oportunistas, que na verdade são apenas rostos diferentes defendendo os mesmos interesses da burguesia, os mesmos causadores das crises sociais, sanitárias e econômicas, e armam estes discursos como se estivessem ao lado da população e não do lucro. 

Enquanto os representantes da burguesia disputam com discursos demagógicos os votos das próximas eleições, o próprio povo está tendo de construir suas campanhas de solidariedade, se mostrando, mais uma vez, capaz de resolver as mazelas da nossa sociedade. 

Se é o próprio povo quem resolve seus problemas no período de crise, então deve ser o povo quem diz como e qual comida, água e mantimentos vamos consumir, onde e em quais condições devemos morar, quanto de equipamento, estrutura e profissionais de saúde precisamos e sua devida segurança, onde e como será a educação de nossas crianças. 

Afinal, sejam nos lares, nos trens, nas fábricas ou avenidas inteiras de comércio, somos nós quem trabalhamos e também, quem estes governantes a serviço dos ricos, querem que mantenham sua rotina de explorados para que possam aproveitar continuar com sua vida luxuosa durante a pandemia.