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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Estamos todos no mesmo barco?

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Foto: Uarlen Valério / O Tempo
QUARENTENA. “Eu estou com medo, moro eu, meu marido, meus três filhos, meu genro e meu netinho que tem só 20 dias. São sete pessoas em uma casa só”, conta apreensiva a diarista Lucileia Silva, 40 (Foto: Uarlen Valério / O Tempo)

Por Gabriel Duarte
Rio de Janeiro


Se por um lado ainda é um mistério a verdadeira origem do coronavírus, por outro, é cada vez mais claro que a forma como as nossas sociedades estão organizadas tornou-as vulneráveis à epidemia. Isso porque o vírus está exigindo aquilo que uma sociedade capitalista mais repudia: parar e senso de coletividade.

Diante da pandemia, dois problemas se levantam: a incapacidade do capitalismo de suprir, de fato, as necessidades de uma sociedade (falo, aqui, da tal “mão invisível”) e a má gestão (ou melhor, péssima) por parte do atual Governo Federal do Brasil.

Fazer viver ou deixar morrer”. Esse é o conceito de biopolítica cunhado pelo filósofo Michel Foucault. Diante da pandemia na qual estamos, urge o questionamento: quais são as vidas que é possível deixar viver?

A resposta é dona Cleonice Gonçalves, diarista, 63 anos. Moradora de Miguel Pereira, região serrana do Rio de Janeiro, ela contraiu o vírus no Leblon, na Zona Sul, o metro quadrado mais caro da cidade. A patroa de dona Cleonice voltou contaminada de uma viagem a Itália.

Sim, ela é a resposta. “Quem puder, fique em casa”, dizem eles. Mas, e quem não pode? A obrigação de muitas trabalhadoras e trabalhadores de ter que ir trabalhar por medo de perder o emprego, pois seus patrões não podem deixar de lucrar, só evidencia o caráter desumano do empresariado brasileiro e a política genocida do atual governo.

Tem também aqueles que não são obrigados a trabalhar. Não porque não querem, mas porque não têm onde trabalhar. Trata-se dos 12,3 milhões de desempregados no país. São os entregadores de fast food, os motoristas de aplicativo, os camelôs, enfim, os que lutam para sobreviver.

E quando o vírus chegar nas favelas, para onde correr? A favela resiste? Sem saneamento básico, segurança e tendo que dividir pequenos espaços para um grande número de pessoas – às vezes 8, 9 ou até 10 –, como é possível? Os moradores das favelas não conhecem o que é política pública.

Estamos todos no mesmo barco? Definitivamente não. O fato é que, enquanto uns estão em quarentena em navios e iates, outros estão se afogando, perdendo o ar nesse mar. É evidente que a pandemia de coronavírus deixará não só consequências desastrosas para a economia, mas também para a moral da burguesia brasileira. Grandes empresários, até então desconhecidos, indo às redes implorar pela intervenção do Estado e vomitando suas atrocidades na ânsia por lucro.

Para agravar ainda mais a situação, em nome da salvaguarda de uma economia já em ruínas, o atual presidente incita aglomerações e diz que o Brasil não pode parar. Tudo isso em nome do lucro de alguns poucos e da vida de muitos outros.

Mas o que fazer então? Primeiro, ficar em casa. Segundo, exaltar os corajosos profissionais da saúde que, mesmo sucateados, cumprem, com coragem, seu juramento de salvar vidas – mesmo que isso valha a sua própria. Além disso, é preciso enxergar, mesmo em tempos tão difíceis como esses, que a esperança de uma revolução está mais viva do que nunca, que estamos voltando a acreditar de novo na ciência, no conhecimento, que há uma luz no fim do túnel e que precisamos alcançá-la.

Em breve iremos olhar uns para os outros e enxergaremos uma pessoa que merece viver. Enxergaremos, finalmente, em cada um, um camarada.

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