Por Raiê Roca Antunes
Militante da UJR-RS
OPINIÃO – É de conhecimento de praticamente todos que conhecem um estudante univeristário que estes jovens sofrem, diariamente, com problemas de saúde mental. De fato, uma pesquisa publicada em maio de 2019 pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aponta que 83,5% dos estudantes passam por “dificuldades emocionais” durante a graduação. Mais, 63,6% sofrem com problemas de ansiedade e 22,9% sentem “tristeza persistente”.
Mas se é de conhecimento dos responsáveis pela gestão, administração e formação dos estudantes nas instituições esta situação alarmante, porque pouco ou nada é feito para melhorar as condições de ensino e consequentemente, a saúde mental dos estudantes?
A verdade é que as “dificuldades emocionais” dos universitários derivam diretamente do capitalismo e sua lógica produtivista. Explico: as universidades no sistema capitalista, tanto as públicas como as privadas, são moldadas para gerar trabalhadores com determinadas qualificações técnicas o mais rápido possível. Sem se preocupar com a qualidade de ensino ou com a situação emocional dos estudantes, as universidades apenas enchem os alunos com conteúdo para que estes o quanto antes se transformem em mão de obra e comecem a dar lucro a burguesia.
Portanto, as universidades no capitalismo apresentam uma pressão extraordinária sobre os estudantes sem o mínimo de cuidado ou preparo para lidar com as diferenças sócio-culturais. Mecanização do aprendizado, falta de didática dos professores, que têm pressa para “ensinar” o máximo de conteúdo no mínimo do tempo, e aplicação cada vez maior do Ensino à distância (EAD) são sintomas do capitalismo nas universidades. Os alunos também contribuem para piorar a situação quando, por culpa da pressão e da competitividade, ao invés de colaborarem se distanciam.
Pouco é feito também sobre o bullying, o racismo, o machismo e a LGBTfobia que ainda são presentes no ambiente acadêmico. O racismo é largamente institucionalizado. São inúmeros os relatos de desrespeito e preconceito de professores em relação aos estudantes cotistas.
Na pós-graduação a pressão é ainda maior. Os pós-graduandos sofrem uma exploração particular que também merece atenção. Estes são trabalhadores, pesquisadores, e não são tratados como tal, sendo negados os direitos de salários dignos, 13º e férias, embora muitas vezes a cobrança conte inclusive com livro-ponto exigindo 8 horas por dia de trabalho, além do trabalho em casa às noites e finais de semana. Além disso, muitas vezes estão alocados em pesquisas científicas voltadas para empresas privadas onde, de baixo de muita pressão com metas e prazos rigorosos, fazem pesquisas para beneficiar a burguesia e não o povo.
Para tentar se eximir da culpa os reitores, pró-reitores e professores, impregnados de ideologia burguesa, colocam a culpa no indivíduo e apresentam problemas de saúde mental como problemas pessoais, oferecendo pouca ou nenhuma assistência. Incentivam os alunos que sigam produzindo mais e mais e que resolvam sozinhos os “seus problemas individuais”.
Sabendo que na realidade não somos responsáveis pela situação catastrófica da saúde mental na universidade, nós estudantes, devemos nos unir e fortalecer o movimento estudantil, o Movimento Correnteza, os DCEs, os Das e as APGs, fazendo o possível para lutar pelo fim da lógica produtivista dentro da faculdade, e pelo maior apoio institucional aos estudantes que sofrem destes males. Os DCEs, DAs e APGs têm, por serem entidades de representação dos estudantes, que lutar pelosmesmo. No entanto, o imobilismo de uma entidade não nos deve paralisar e mesmo sem o apoio destes nós devemos fazer abaixo-assinados, cartazes, campanhas e atos. Assim vamos lutando e conquistando um ambiente mais saudável. Só a luta muda a vida!
É importante também termos em mente que a universidade só vai ser um local realmente saudável quando mudarmos a lógica do sistema. Então nós devemos também lutar pela revolução, ingressar na União da Juventude Rebelião e lutar para juntos construirmos uma nova sociedade, onde nossa saúde mental não será destruída nas universidades e escolas. A sociedade socialista!