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terça-feira, 16 de abril de 2024

700 terceirizadas da educação são demitidas em São Bernardo

Por Renan Almeida – Movimento Luta de Classes e Sara Lorena – Unidade Popular.

Em meio à pandemia mundial causada pela Covid-19, mais de 700 trabalhadores da merenda escolar, em sua imensa maioria mulheres chefes de família, foram demitidos pelo prefeito da cidade de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB). O acordo da suspensão dos contratos de serviço com a empresa Soluções Terceirizadas ocorre ao mesmo tempo em que o prefeito investe o dinheiro da cidade para propagandear que combate a doença.

A demissão foi feita sob a justificativa da falta de verbas, alegando que esse dinheiro seria realocado para os equipamentos de saúde focados no combate à pandemia no município. Mas a verdade é bem diferente, basta lembrar que no final de 2019 a Polícia Federal solicitou o afastamento do prefeito Orlando Morando por acusações relacionadas ao desvio de verbas destinadas ao fornecimento de merenda escolar, uniformes, material didático e outros serviços, que fica claro para onde está indo o dinheiro da cidade.

É evidente que a falta de verba e o rombo nas finanças da cidade não são causados pelo pagamento de salários dos funcionários, nem tão pouco seu corte são alternativas para resolver a defasagem em áreas públicas. As demissões estão sendo realizadas para garantir que os ricos da cidade tenham mais verba para financiar seus projetos, enquanto 700 famílias são largadas à miséria. São trabalhadores que dedicam suas vidas a um dos trabalhos tão importante, quanto a alimentação das crianças da rede pública de ensino e estão pagando pela crise sob a justificativa do financiamento à saúde.

O prefeito alega, via redes sociais, que todos devem ceder. Diz ainda, enquanto entrega cestas básicas às várias pessoas demitidas, que ninguém precisa se preocupar, pois além da doação, serão readmitidas ao fim da pandemia. O prefeito realmente não precisa se preocupar, com seu salário e suas reservas, é possível passar tranquilamente pela crise. Por isso, sente-se confortável para realizar a manutenção dos lucros da empresa Soluções Terceirizadas, priorizando a empresa no lugar dos trabalhadores. Não contente, a prefeitura fecha os olhos para as chantagens. Segundo denúncias feitas pelas ex-merendeiras, quem quiser ser recontratado no fim da quarentena deve abrir mão de direitos, como o recebimento do aviso prévio.

Os trabalhadores, no entanto, sabem o que querem. Em entrevista ao Jornal A Verdade, uma das trabalhadoras demitidas, que não quis se identificar relatou:

“A empresa poderia fazer um acordo com o governo, cada um pagar uma parte, mas colocar as meninas na rua não é justo. Além disso, muitas vão ficar em uma situação muito difícil, não sei como vão sustentar a casa, ainda mais com as coisas tão caras“

            Muitos que receberam a doação de cesta básica do prefeito, agora estão em suas casas pensando como vão pagar as contas, o aluguel e ainda cuidar da saúde.

Não nos enganemos! A chantagem da empresa é fruto da negociação entre o sindicato, isolado de sua base, e a empresa. Com objetivo de se eximir da responsabilidade, indicam ainda que aqueles funcionários que não estiverem satisfeitos, podem negociar diretamente com a empresa.

Os trabalhadores sabem o que querem, mas o sindicato insiste em caminhar no oposto

 

Ainda em conversa com as trabalhadoras, nos relataram sobre as condições de trabalho quando as aulas ainda estavam funcionando: “a gente tava trabalhando com o quadro de funcionários reduzido, quando eram outras empresas tinham 13 meninas trabalhado, já nessa eram só 9”.

O distanciamento do sindicato com sua base não se iniciou na pandemia, as negociações com a empresa já eram feitas, fechavam os olhos para as condições de trabalho e as demandas que as trabalhadoras terceirizadas já apontavam.

O pior é que a situação pela qual as trabalhadoras da merenda de São Bernardo estão passando não se trata de um caso isolado, mas da realidade vivida dos milhões de trabalhadores no Brasil. A terceirização serve apenas para enriquecer o bolso dos patrões e nada interessa ao trabalhador. Em 2018 o trabalho terceirizado já representava 22% dos trabalhadores com carteira assinada e a expectativa era que, a partir de 2019, esse número subisse mais 25%(1).

Precisamos nos perguntar: afinal, por que em vez das empresas contratarem diretamente o trabalhador, elas optam por pagarem outra empresa para fazer esse serviço?

O fato é que a terceirização não passa de uma invenção dos patrões para a chamada “redução de custos”, o que na prática significa menos direitos aos trabalhadores e mais lucro aos patrões. Além da alta rotatividade, os trabalhadores têm seus salários reduzidos, direitos trabalhistas constantemente desrespeitados e piores condições de trabalho.

Um exemplo disso, são os trabalhadores que atuam em empresas com o quadro de funcionários reduzido para que os patrões não precisem pagar os salários de outros funcionários. Vejamos, 13 trabalhadoras alimentam todas as crianças de uma escola; 4 trabalhadoras são demitidas, restam apenas 9, que precisam alimentar o mesmo número de crianças, portanto trabalham ainda mais.

A terceirização é uma ferramenta dos patrões para garantirem seus lucros. Durante a pandemia, que agravou a crise do capitalismo, serve para justificar as demissões. Sem a pandemia, justifica as más condições.

A terceirização é um crime autorizado por lei, lutar por nossos direitos significa defender seu fim

 

A crise nos lares dos trabalhadores é um fato. É um fato também que nós, as pessoas que constroem a riqueza desse mundo, somos a maioria. Portanto, está em nossas mãos, a saída para a construção de uma alternativa que considere a realidade concreta de cada trabalhador. Somente assim estaremos livres dos grilhões que nos prendem.

Nós trabalhadores revolucionários, precisamos mais do que nunca ocupar a direção de sindicatos que não se distanciem de suas bases, não fujam à luta e atuem sem vacilação em defesa de seus direitos, contra a exploração dos capitalistas e pelo fim desse sistema que só traz fome e miséria ao povo.

(1) ISG – Information service group

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