João Magalhães
BRASÍLIA – No último domingo (03), jornalistas de um grande veículo de comunicação foram agredidos por apoiadores de Bolsonaro que protestavam contra a democracia e a favor de um golpe militar. Na manhã da última terça-feira, dia 05 de maio, o presidente Bolsonaro visivelmente desesperado com as acusações de interferência na troca do superintendente da polícia federal do Rio de Janeiro, demonstrou mais uma vez seu autoritarismo ao mandar mais de uma vez aos jornalistas presentes na coletiva de imprensa um “cala boca!”, relembrando o episódio de 1983 envolvendo o general Newton Cruz em plena ditadura militar.
Após o ocorrido, chegou-se a público informações e prints vazados de um grupo comandado por Sara Winter (olavista e ex-secretária do ministério de Damares) que estaria por trás das manifestações de domingo. O grupo fascista se apresenta como “300 do Brasil” e tem como propósito convocar bolsonaristas do Brasil todo para um acampamento iniciado dia primeiro de maio em Brasília. Seu objeto? “exterminar a esquerda”, como coloca a própria líder do bando.
A jornalista Jéssica de Almeida teve acesso às informações ao infiltrar-se no grupo do Telegram utilizado pelos fascistas para organizar suas ações. Lá, o discurso patriótico cria nos apoiadores a ilusão de uma cruzada contra a corrupção e contra o comunismo. Porém, esse não é o pior. Os fascistas se comportam como se estivessem diante do papel histórico de lutar contra uma revolução no país, escolhidos para uma nova ordem, o fim da democracia e o surgimento de uma ditadura militar liderada por Bolsonaro.
Frases como “Lembre-se, você não é mais um militante, você é um militar” ou no pedido para captação de itens para o alojamento dos apoiadores: “itens que você levaria para uma guerra na selva! Te esperamos para a guerra!” são frequentes e demonstram a radicalização e escalada autoritária de grupos de extrema-direita dispostos a instaurar uma ditadura no país. É importante destacar também que tal discurso não é apenas fumaça, diversas mensagens no grupo são de divulgação de técnicas de combate, de ação violenta e treinamento militar.
Dito isso, o cenário está colocado. Os “300 do Brasil” são uma imitação barata dos Camisas Negras ou da Juventude Hitlerista, isto é, milícias fascistas que na década de 1930 se colocaram a serviço do Estado fascista alemão e italiano e dos grandes monopólios capitalistas, perseguindo os defensores do povo e a classe trabalhadora, jogando-os para a ilegalidade e aparelhando os movimentos sociais e sindicais.
O Estado fascista coloca a sociedade à sua imagem e semelhança, o fenômeno bolsonarista é fascista precisamente por se caracterizar movimento reacionário que sob a bandeira de um discurso “anti-sistema” e de “derrubada do sistema político tradicional”, mobiliza os setores retrógrados da sociedade, a pequena burguesia principalmente, para a concentração do poder na mão do Estado e uma escalada ao autoritarismo. Tudo isso a fim de garantir as grandes remessas de lucro do capital estrangeiro.
Por isso, nunca antes no período desde a redemocratização do país o papel da imprensa popular e independente se fez tão importante. Ao descrever a estrutura do partido bolchevique diante do regime czarista na Rússia, Lênin foi claro que o coração do partido era o jornal. E não foi à toa. Em tempos de fascistização, de ataque aos direitos dos trabalhadores e do genocídio anunciado do povo pobre sob a pandemia, o jornal cumpre um papel essencial para mobilizar a classe trabalhadora e denunciar as mazelas do sistema capitalista e do fascismo de Jair Bolsonaro, e avançar na luta por um modelo de sociedade libertador.