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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Dono de TV defende apedrejar jornalistas

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Roberto Cavalcanti

 

Rafael Freire, Paraíba

OPINIÃO – “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. O verso clássico do poeta paraibano Augusto dos Anjos ilustra bem o que pretendo expressar.

Assim como todos os democratas do Brasil, especialmente os jornalistas, também me senti profundamente indignado ao tomar conhecimento das declarações feitas pelo dono do Sistema Correio de Comunicação, Roberto Cavalcanti, ontem (14/05), num dos programas de seu vasto conglomerado de empresas. Entre elas, vale citar, a TV Correio, afiliada da Rede Record na Paraíba.

Disse ele: “Tem determinadas emissoras que dão placar de quantos morreram no país. Parece que são gols da seleção do Brasil. ‘Hoje, 10 mil gols, batemos o recorde’. Isso é uma vergonha. Isso é um país que deveria ter vergonha na cara. O jornalista, o radialista que fizesse um negócio desses deveria ser apedrejado na rua”.

Como se não bastassem as milhares de mortes por Covid-19, Roberto Cavalcanti defendeu, na prática, a pena de morte sumária para jornalistas e radialistas que buscam mostrar à população a tragédia humanitária vivida em todo o mundo.

Com seu discurso de ódio, ao vivo, em cadeia de rádio transmitida para toda a Paraíba por meio de concessão pública, o empresário feriu a Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão e de imprensa, vedando “toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística” (Art. 5 – incisos IX, XIII, XIV e Capítulo V – Da Comunicação Social – Art. 220 em diante), e cometeu crimes tipificados no Código Penal (crime de ódio – Art. 140 e incitação ao crime – Art. 286).

Apesar da indignação, a única surpresa que tive em toda essa história foi descobrir que Roberto Cavalcanti é membro da Associação Paraibana de Letras (APL), desde agosto de 2019. Associação cujo patrono é Augusto dos Anjos. Disse o “imortal” Roberto ao tomar posse na APL: “Foi um resultado que encarei como uma lição de humildade e trabalho […]. Tem uma certa formalização, uma ética a ser seguida, palavras a serem medidas, mas serei o mesmo Roberto de sempre”.

Sem seguir a ética e a tradição humanista da APL nem medir as palavras, Roberto Cavalcanti materializou o verso do maior poeta paraibano, acrescentando uma dose de hipocrisia. Explico.

Num episódio bastante conhecido na Paraíba, no dia 04 dezembro de 2013, na mesma emissora de rádio, o radialista (e hoje apenado) Fabiano Gomes também destilou discurso de ódio ao vivo: “OUVINTE: Se eu fosse pai de uma safada dessas, eu tinha até vergonha de procurar a polícia. Tinha que dar uma surra e botar ela nua no meio da rua. FABIANO: Ô Paraíba boa! É isso mesmo, amigo! Vagabunda!”.

Já no dia 09 de dezembro, durante o direito de resposta que obtive por ter sido também agredido verbalmente por Fabiano no programa do dia 05 (ainda repercutindo o dia 04), Roberto Cavalcanti entrou ao vivo para rebater as críticas que eu fazia à linha editorial das suas empresas e passou a defender as ações de “afago” aos empregados. Sobre a verborragia do seu apresentador, nenhuma palavra. Disse Cavalcanti na ocasião: “Tivemos ontem o privilégio de fazermos nosso encontro de final de ano e de Natal. […] Ontem nós estávamos com 780 pessoas abraçadas, de carteira assinada. É muito bacana você fazer jornalismo, fazer comunicação, e ter o privilégio de ter este volume de profissionais com carteira assinada, de empregos diretos […]”.

Os “afagos” do senhor Roberto aos funcionários de suas empresas podem ser resumidos, na verdade, no fato ocorrido no último dia 04 de abril, quando o Jornal Correio da Paraíba foi fechado, gerando dezenas de demissões, entre elas, as de 38 jornalistas. Tudo isso em meio à pandemia de Covid-19. Ou seja, na hora de escolher entre seu farto bolso e o sustento de dezenas de famílias, não restam dúvidas: os capitalistas sempre vão primar por seus lucros.

Num momento em que crescem as agressões aos profissionais da comunicação, inclusive com quase duas centenas de agressões diretamente praticadas pelo Presidente da República, segundo dados da Fenaj, Roberto Cavalcanti (que já foi até senador!) segue desfilando na avenida de mãos dadas com o fascista Jair Bolsonaro e, ao que parece, buscando acobertar seu governo genocida.

Durante a ditadura militar, tão defendida pelo ex-capitão do Exército, os jornalistas eram sequestrados e torturados nos porões do regime, como no caso de Vladimir Herzog. Agora, Roberto Cavalcanti propõe o mesmo em praça pública.

Derrotamos os fascistas do passado e derrotaremos também os fascistas do presente!

Rafael Freire foi presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

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