Imagem: Reprodução
Por Lucas Marcelino
São Paulo
Quando se trata de reinado no rock n’roll é comum se lembrar de Elvis Presley, suas roupas e topete característicos. Para quem curte um pouco mais, este lugar é de Chuck Berry e seu “duck walk”, passo que ficou imortalizado em uma época em que os artistas pouco se movimentavam no palco.
Mas a última semana fez muita gente relembrar de um rei esquecido e talvez mais importante que os outros dois: Little Richard, falecido hoje aos 87 anos de idade, em na sexta-feira (9).
“A wop bop a loo bop a lop bam bomm”
Little Richard não só chegou antes, como criou o grito de guerra do rock n’roll, copiado e cantado por inúmeros rockeiros na história – no Brasil, o rei do rock nacional, Raul Seixas, nomeou um dos últimos discos da carreira com uma versão adaptada.
De tão importante, ficou conhecido como o “arquiteto do rock”, mas seu nome verdadeiro era Richard Wayne Penniman. Antes de construir um estilo que transgrediu todas as regras da sociedade na época, enfrentou a família – principalmente o pai, fanático religioso – que não aceitava seu jeito de ser.
Na verdade, o rock foi criado por uma mulher, Sister Rosetta Tharpe, e foi ela quem descobriu e abraçou Little Richard, convidando-o para abrir seus shows ainda com a influência do R&B, um dos inúmeros ritmos da música negra.
Devido aos preconceitos da época ele largou o rock n’roll para se dedicar à música gospel, mas pouco tempo depois voltou para a “música do diabo”. Durante toda a carreira circulou entre os dois estilos, assim como circulavam dúvidas sobre ele.
O rebelde
Elvis teve suas polêmicas sobre o uso de drogas, sobre ser uma cria da indústria fonográfica para transformar o rock n’roll em música de brancos e até pela estória da sua não-morte. Chuck Berry teve suas polêmicas em um tempo em que músicos eram considerados ou de fato se transformavam em foras-da-lei. Mas Little Richard teve polêmicas mais importantes.
Em primeiro lugar, ele era um negro fazendo uma música dançante, que muitos creditavam ao diabo, mas que atraía brancos e negros para o mesmo espaço em plena segregação racial.
Em segundo lugar, ele era gay. E se hoje ainda convivemos com perseguições e ações absurdas contra a comunidade LGBT, imagine isso em 1950. Tanto que por muito tempo ele negou que fosse homossexual, mas muitas letras dos primeiros sucessos giravam em torno das gírias da comunidade LGBT e de relações homossexuais.
A energia que depositava no piano e a sensualidade nas apresentações renderam polêmicas em um país ultraconservador que tentava vender o sonho norte-americano de família branca com o homem trabalhador e a mulher dona de casa com seus filhos, o carro e o jardim da casa sempre bem cuidado.
Influência
Little Richard mudou a música mundial e isso já é suficiente para o homenagearmos. Mas, além disso, ele foi o responsável por transformar a mentalidade de jovens que vieram a se tornar, entre outros, os Beatles (que abriram seus shows no começo da carreira), Rolling Stones, Otis Redding, James Brown e até Lemmy (vocalista da banda de metal Motorhead), e foi regravado por artistas como Buddy Holly, Gene Vincent, Ed Cochran e muito mais gente.
Mas não foi só isso. Teve em sua banda de apoio Billy Preston e ninguém menos que Jimi Hendrix.
Little Richard carregava com ele uma parte da história da música negra, do rock n’roll, da rebeldia contra o conservadorismo enfadonho. Felizmente deixou gravadas muitas dessas histórias na forma de músicas e vídeos de shows.
A nossa maior homenagem é dançar um bom e velho rock n’roll, pois se ele estiver em algum lugar, estará botando fogo neste lugar com sua energia incomparável.