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quinta-feira, 25 de abril de 2024

O Neopentecostalismo é uma força reacionária

ALIANÇA – Segundo Karl Marx, a religião é o ópio do povo; a aliança de Bolsonaro com as igrejas neopentecostais é uma prova de como a religião é um instrumento da reação contra o movimento trabalhador. (Foto: Reprodução/Alan Santos)
“A tarefa dos comunistas nesse momento consiste em fazer uma defesa aberta e irrestrita do Estado laico e do Fora Bolsonaro; e segundo, não menosprezar ou zombar dos trabalhadores sob influência das igrejas neopentecostais, mas disputá-los, esforçar-se na hercúlea tarefa de educá-los.”
Sued Carvalho

CARIRI (CE) – As igrejas neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus e a Mundial, entre outras, tem se popularizado no Brasil desde meados dos anos 1990 e tem sido responsáveis por uma “virada de jogo” na estatística da comunidade religiosa no Brasil. Desde 2010 o volume de pessoas que se identificam como “evangélicas” vem crescendo 0,8 % ao ano e se prevê que, até 2032, as igrejas protestantes terão superado as católicas em números absolutos.

Obviamente nem todo evangélico é neopentecostal e este artigo direciona-se a este grupo em específico. A fórmula do sucesso destes grandes grupos religiosos neopentecostais está no fato de preencherem o vácuo dos sindicatos enfraquecidos pelas políticas neoliberais e pelo aumento do desemprego nas comunidades periféricas. 

Se antes os sindicatos eram uma associação de trabalhadores, ofereciam cursos técnicos de aprimoramento, churrascos comunitários, entre outros, agora quem constrói este trabalho congregacional são as igrejas neopentecostais. 

Porém não para por aí. A religião, que é uma construção humana e, por tanto histórica, adapta-se ao tempo e às mudanças políticas e socioeconômicas. Isso é explícito no neopentecostalismo, que abraça sem ressalvas a ética do neoliberalismo com a chamada “teologia da prosperidade”, em que se afirma que a acumulação de riqueza é uma dádiva divina e que os fiéis devem admirar aqueles “que chegaram lá”, pois foram abençoados por Deus. Reafirmando assim o ideal de sucesso umbilicalmente ligado à exploração capitalista, além disso, também se propõe que o fiel “invista” na fé, doando quantias para a igreja, para que Deus devolva em “dobro”. 

O culto constitui-se, então, como um grande espetáculo, com pastores carismáticos que falam bonito, com autoridade e misturando estrategicamente uma fala mais informal com linguajar culto em pontos chaves do discurso, expulsando supostos demônios, simulando curas e proporcionando diversão pela música e pela dança, todo o show é pago, no final, com a oferta do fiel que, na esmagadora maioria das vezes, não volta para ele em forma de “sonho da casa própria”.

A assiduidade do fiel é garantida não apenas pelo show e pela ética, mas pela cooptação identitária. A medida que é conquistado pela retórica e sente-se acolhido pela comunidade da igreja, vai sendo conquistado pela ideia de que é um soldado de Cristo na luta contra o mundo, que está dominado por Satanás, sendo aquele grupo um oásis divino em meio à podridão satânica, uma guerrilha de Jesus contra Gogue e Magogue numa guerra espiritual ininterrupta, tornando-se mais identificado com aquela fé do que com sua condição de trabalhador.

Esta estrutura tem apenas um beneficiado: O pastor

Investido de influência sobre um grupo expressivo, o pastor da igreja neopentecostal tem capital político garantido, podendo pensar, por exemplo, em uma carreira política ou beneficiar-se da candidatura de terceiros, usando como garantia o voto dos fiéis que frequentam fervorosamente seus cultos.

Até mesmo políticos de esquerda precisarão moderar o tom para não incomodar os pastores de tais denominações. Sendo a mensagem da “teologia da prosperidade”, ao mesmo tempo, o atrativo da mensagem e o garantidor da riqueza do pastor, tais denominações tornam-se bastiões do reacionarismo, defensores radicais da exploração capitalista e, para garantir ampla penetração nas massas, adeptas das mais conservadoras pautas sociais, difamando quem luta pela legalização do aborto para mulheres trabalhadoras pobres, por exemplo.

Quando encontram entraves ao crescimento de sua influência, as igrejas neopentecostais não pestanejam em se aliar ao que há de mais podre na política. No Brasil apoiaram abertamente o fascista Jair Bolsonaro, um apologista da tortura e assassino dos pobres ligado às milícias do Rio de Janeiro. Na Bolívia os pastores neopentecostais foram linha de frente no golpe contra Evo Morales, que estabeleceu uma ditadura de extrema-direita que proibiu manifestações religiosas dos povos originários. Em Cuba estas igrejas também estão se espalhando e conseguiram barrar artigos da nova constituição que regulamentavam o casamento homoafetivo.

Não nos iludamos, as igrejas neopentecostais não são apenas uma vertente religiosa, são partidos que lutam contra o Estado Laico, que possuem um projeto de poder que está, após anos de gestação, se concretizando da forma mais horrenda e fascista imaginável. Disputando os trabalhadores, alienando-os de sua consciência de classe como braços auxiliares da ideologia neoliberal.

Qual o papel dos comunistas nessa conjuntura?

Primeiro a defesa aberta e irrestrita do Estado laico e do Fora Bolsonaro e segundo, não menosprezar ou zombar dos trabalhadores sob influência das igrejas neopentecostais, mas disputá-los, esforçar-se na hercúlea tarefa de educá-los, lhes mostrando as contradições do capitalismo e construindo, junto com eles e elas, uma consciência de que somos a mesma classe, a trabalhadora, que somos explorados e exploradas e precisamos derrotar este regime nós mesmos.

Juntos e juntas faremos uma nova ética, não baseada na concorrência e no desejo da acumulação de riqueza, mas na solidariedade e na centralidade do trabalho como construtor da vida.

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