Qual frente precisamos construir para enfrentar o fascismo?

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Foto: Jornal A Verdade.

Por Gregório Gould, Salvador

Está cada vez mais evidente a intenção do presidente Jair Bolsonaro, de dar um golpe e pôr em prática seu intento de fascista que é implantar uma ditadura que aprofunde a perseguição aos movimentos sociais organizados, aumente a exploração dos trabalhadores e que seja submissa aos interesses do imperialismo estadunidense e do capital financeiro.

O PCR (Partido Comunista Revolucionário), junto com a CIPOML (Confederação Internacional de Partidos e Organizações Marxista-leninistas), aponta essa tendência no Brasil e no mundo, bem como a necessidade de combatê-la, já há algum tempo, como demonstram as matérias do Jornal A Verdade e a publicação, em 2014, do livro “A Unidade Operária contra o Fascismo” de Dimitrov, pelas edições Manoel Lisboa.

No mesmo sentido apontava a criação do partido Unidade Popular pelo Socialismo – UP, fruto do esforço da militância combativa de nossos movimentos e organizações, como um instrumento político capaz de mobilizar o povo para combater o fascismo e construir o poder popular.

Em meados de 2014, quando apontávamos esse perigo éramos muitas vezes criticados pelas organizações que se encontravam no governo e outras organizações da social-democracia, acusados de superestimar os fascistas e subestimando a força do “Estado Democrático de Direito” ou, precisamente, a democracia burguesa.

Hoje, quando já não é possível ignorar o crescimento do fascismo, percebemos a preocupação mais generalizadas a esse respeito e o surgimento da defesa de que é preciso criar frentes amplas, do ponto de vista partidário, para impedir a ascensão de um possível golpe do fascista.

Recentemente, Marcelo Freixo retirou sua pré-candidatura à prefeitura do Rio e disse em vídeo que apoiaria um nome, seja qual fosse, que permitisse a unidade dos partidos PSOL, PT, PCdoB, REDE e PSB, pois para enfrentar o fascismo ele julga necessário uma frente desse tipo. No mesmo vídeo Freixo elogia Rodrigo Maia e diz que se esforçará para construir frentes dessa amplitude no Brasil inteiro.

É importante lembrar, que no segundo turno das eleições passadas para prefeito no Rio de Janeiro, em 2016, quando enfrentou Crivella, Marcelo Freixo teve apoio do REDE, PCdoB, PSB e PT, além do PCB (desde o primeiro turno) e PSTU, os dois últimos Freixo nem citou em seu vídeo. A Unidade Popular – UP, que estava em processo de legalização também apoiou Marcelo Freixo desde o primeiro turno. Ou seja, não foi por falta da unidade desses setores que Freixo perdeu a eleição para Crivella e não basta unir esses partidos para ganhar uma eleição ou, ainda mais, para enfrentar o fascismo. É preciso ganhar o povo, mobilizar os pobres, aqueles que são os maiores afetados pela política fascista.

Em 2016, Freixo, com todo esse apoio partidário e com o voto dos mais ricos e da classe média (segundo pesquisa de boca de urna do Datafolha), perdeu por não ter o voto dos mais pobres. É o povo pobre e trabalhador de nosso país que pode decidir eleições e enfrentar o fascismo, enquanto os setores progressistas subestimarem isso, qualquer frente ampla que venha dos gabinetes parlamentares ou até da intelectualidade progressista será incapaz de derrotar o fascismo.

É importante lembrar que o fascismo é “a ditadura abertamente terrorista dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro” como definiu Georgi Dimitrov, ainda na década de 1930. Portanto tem um caráter de classe fortemente estabelecido e é inimiga direta dos interesses populares.
Precisamos ainda afirmar que o fascismo é um fenômeno de crescimento previsível em tempos de crise econômica do capitalismo, quando os antagonismos de classe se aprofundam e a burguesia não consegue dominar as revoltas populares contra a exploração e retirada de direitos sem o aumento da repressão contra as camadas populares e os setores progressistas.

Nesse sentido, para estabelecer uma correta política de frente é preciso ter claro que não enfrentaremos o fascismo sem um programa que possa ganhar as massas populares. Não será defendendo uma política de “desenvolvimento nacional” ou de “conciliação dos interesses das classes” que superaremos o fascismo. Primeiro porque isso já foi proposto, implementado e foi nesse contexto que o fascismo brasileiro se fortaleceu. Segundo, porque com a mais profunda crise de superprodução da história da humanidade é impossível falar em recuperação da economia e distribuição da riqueza sem propor a superação do modo de produção capitalista. Portanto, somente a defesa de uma sociedade em que a classe trabalhadora seja dona do que produz, onde as riquezas sejam do povo, onde todas e todos tenham trabalho, alimentação de qualidade, moradia digna, acesso à educação e a saúde é que pode se contrapor de maneira eficiente ao programa dos ricos.

Nesse sentido, por mais importante que seja frentes parlamentares com setores progressistas, a participação desses será sempre vacilante. Sem falar que um congresso nacional profundamente desmoralizado junto ao povo, que aprovou a reforma da previdência, que retira direito dos trabalhadores e trabalhadoras, que aprovou um pacote ante crime que aumenta a mira da polícia contra a juventude pobre e negra, não tem condições de ser o centro da resistência ao fascismo.

Só com a organização do povo poderemos derrubar o fascismo. Foto: Jornal A Verdade.

Só o povo organizado pode derrubar o fascismo!

Já que o fascismo serve aos interesses dos poderosos contra os interesses da classe trabalhadora, é fundamental incorporarmos setores descontentes com o fascismo em uma frente ampla, mas isso é impossível sem uma ação enérgica na luta antifascista da única classe que pode levar essa batalha até as suas últimas consequências: a classe trabalhadora.

A frente antifascista que temos que construir de maneira urgente é com o povo. É preciso avançar com velocidade na organização de nosso povo, fazer com que venha das ruas, das periferias, das fábricas a resistência ao fascismo e isso é possível, como mostram os crescentes panelaços contra Bolsonaro nas favelas organizados pelo MLB e, a partir daí, também por outros movimentos sociais. Mostrar aos trabalhadores e trabalhadoras que esse Governo é inimigo dos pobres, dos trabalhadores, das mulheres, dos negros, da comunidade LGBT, etc. É um governo dos ricos e para os ricos.

A militância da UP e os movimentos e organizações que a construíram, precisam estar nos bairros, nas ruas, nas fábricas, sabendo lidar com a situação da pandemia, para mobilizar o povo brasileiro contra o iminente golpe e para defender um governo popular. É preciso demonstrar, através das medidas adotadas por esse governo, que é um governo anti-povo, mas também um governo fraco, e para que a situação dos trabalhadores não piore ainda mais é preciso derrubá-lo.

É verdade que essa tarefa é mais complicada que organizar uma reunião de partidos, mas é a única forma eficaz de ser consequente na luta contra o fascismo, e é possível! Foi a classe operária que derrubou o fascismo no momento de maior ascensão deste, foram os trabalhadores do mundo vanguardeados pelos trabalhadores soviéticos que derrotaram o exército nazista, tido até então como invencível, e será agora a mesma classe trabalhadora, organizada pelos revolucionários, que colocará o fascismo no seu devido lugar, a lata de lixo da história. É preciso, portanto, como se costuma dizer, colocar o pé no barro.

Então camaradas, trabalhemos. Vamos mobilizar o nosso povo pobre e trabalhador que as custas de muito suor e muito sangue ergueu esse país para construir uma grande unidade popular antifascista e construir o poder popular e o socialismo.