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sábado, 5 de outubro de 2024

Poesia | Disseram-nos

Pintura: por entre casas e barracões o PCR invade corações – Aquarela e acrílica/ papel fosco | Lene Correira

Disseram-nos

Disseram nos que o partido estava morto

Assim como disseram-nos sobre os poetas

Também disseram-nos que tínhamos direitos…

Disseram-nos, certo dia

Que poderíamos comer pão e beber do leite…

Ou que poderíamos correr pelos verdes pastos…

Disseram-nos também que não haveriam gente vivendo nas ruas,

Enquanto casas se amontoam abandonadas.

Também nos disseram que teríamos uma casa

E que ela seria o nosso lar,

Que nos protegeria do sol e seria um abrigo para a chuva…

Disseram-nos que éramos livres para andar por onde quiséssemos,

E mesmo em qualquer hora,

E que para nós mulheres era permitido escolher tudo que desejássemos e até mesmo ser quem somos….

Disseram-nos que poderíamos comprar o que necessitávamos,

E que poderíamos ir ao cinema e ter acesso a cultura…

Disseram-nos que nossas crianças poderiam correr livremente,

E que até poderiam ir para a escola,

Sem precisarem ser atingidos por balas vindas de quem deveria os proteger…

Disseram-nos que as muitas Agathas e os muitos Marcus Vinicius poderiam viver,

Sem ter que morrer de meningite antes dos 8 anos, como previu o poeta ainda sã.

E nem assassinadas pelo próprio estado

Disseram-nos que não seriamos censurados,

Que seriamos livres e que nada alcançaria ou calaria nossa voz ….

Que a censura nunca mais viria,

Que Margaridas, Manóeis, Amaros, Pedros e tantos outros não mais precisariam morrer por essa censura…

Disseram-nos que a terra era nossa e que nela tudo se daria…

Que chicos, Doreth e Marias também não morreriam sem tê-la um dia

E que o latifúndio não mais existiria,

Que os índios seriam respeitados,

E os quilombos festejados.

Disseram-nos que não precisaríamos de mais presídios,

Pois, teríamos acesso a uma educação profunda e liberadora

Que teríamos direito a vida e não condenação à morte

Que teríamos acesso a um sistema educacional de inclusão e não a uma sentença da exclusão,

Que as periferias seriam o coração das cidades,

Por onde bombeia e passa o sangue da verdadeira revolução

Disseram-nos que a democracia sempre existiria, mais como?

Se esta que está aí sempre foi fingida?

Enamorada do fascismo, como tão bem antecipou Dimotrov.

Disseram-nos que antes dos 2 anos iriamos para uma creche, e teríamos formatura aos dezessete

E que aos 20 anos poderíamos trabalhar,

E ter dinheiro para comprar,

E que o dinheiro estaria sob o nosso julgo e não nós ao julgo dele.

Disseram-nos que teríamos acesso ao solo,

A grama verde, flores e sem asfalto…

Que as chuvas não inundariam as casas e nem derrubariam barreiras,

Ao contrário, elas serviriam apenas para a gente brincar de tomar banho,

E na chuva correr,

Antes de vermos o arco íris nascer.

Disseram-nos que teríamos direitos a diversidade da vida,

E que isso sim, seria realmente a forma de amar.

Disseram-nos que toda a forma de amar valeria a pena,

E não que seríamos recordistas em lgbtfóbia,

Onde a cada 26 horas um lgbt é assassinado.

Disseram-nos que nosso corpo era nosso,

Mas se esqueceram de nos dizer que nem direito a vida temos…

Disseram que eu poderia sair a qualquer hora,

E que dentro da minha casa eu estaria segura,

Mas, vi que os principais abusos ocorrem aqui

E que a cada onze minutos muitas de nós somos estupradas.

Disseram-nos que já nascemos com uma dívida pública que nunca acaba.

Disseram-nos que quem trabalhou a vida toda seria respeitado,

Que os professores e médicos seriam exaltados

E nada disso foi cumprido.

Fomos enganados

Disseram que nossa soberania estava intocada,

E que nossos mares e florestas estavam sob proteção,

Não falaram dos descasos de brumadinho,

Nem da seca do sertão

Nem dos poluentes nas praias do norte e nordeste,

Ou com as queimadas do centro oeste

Também não nos falaram do desmatamento amazônico,

Nem tampouco do seu loteamento

E nem do nosso território sendo vendido.

.

Disseram que teríamos acesso a saúde,

Que a nossa vida seria mais que virtude,

E que teríamos acesso a água e saneamento,

E que muitos dos lares chefiados por mulheres estariam livres da fome,

E do sofrimento,

Não o que vemos hoje com essa fome infame em todo lugar

E em todo momento.

Mas…

Eis que faróis também disseram que juntos somos fortes,

Rochosos

E edificantes

Que existe a lei do real e do formal…

Que apenas para ser transformada na realidade é preciso a nossa ação,

Para construir a evolução,

Onde cada pessoa e cada cidadão possa ter aquilo que se necessita,

Casa,

Comida,

E pão

Onde o julgo a vida não será por dinheiro,

Nem tampouco por sentimento passageiro

Será nossa felicidade por inteiro.

Um sistema onde só haverá felicidade,

Em um lugar onde sempre poderá existir essa felicidade de verdade,

Não mais será preciso ir a outro planeta,

Bastará apenas construir diariamente,

Seguir exemplo de vida e de luta de muita gente,

Gente de bem,

Como Manoel,

Que aos 17 anos percebeu que apenas havia um caminho,

Se juntou com camponeses e a luta fortaleceu,

Construiu o partido e junto a muitos outros venceu,

E com sacrifício

Andando a pé Recife, Camaragibe, Rua real da torre

Por tudo isso o exemplo Manoel nos deu….

Lene Correia, Caruaru-PE

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