Em dezesseis meses de governo do ex-capitão e miliciano, Sérgio Moro, é o sétimo ministro a cair. O paladino da República de Curitiba e garoto de propaganda da Globo foi, durante muito tempo, a síntese da direita nacional. Seus serviços, diretamente ligados a CIA e aos interesses dos EUA, provocaram ao seu redor a reunião de entreguistas e traidores de todos os tipos. Tentarei dividi-los em três grupos. O primeiro formado por milicianos do presidente, generais traidores, neopentecostais, grupos paramilitares, carismáticos, olavistas e alguns empresários; o segundo, integrado por banqueiros, a FIESP, PSDB, DEM, outros partidos liberais, como o NOVO e a alta burguesia nacional; e o terceiro composto por especuladores, latifundiários, a mídia hegemônica e carreiristas de todas as espécies. Juntaram-se em torno do projeto neoliberal, que usou o fascismo para avançar na retirada dos direitos da classe trabalhadora, destruir a economia nacional e entregar o patrimônio brasileiro ao capital internacional.
As contradições entre os interesses de cada grupo provocariam, cedo ou tarde, uma divisão, nutrindo crises e rupturas. Os generais, saudosos da ditadura, cedo assumiram o projeto fascista, inclusive indicaram o vice-presidente. Acreditaram que poderiam ter a tutela do capitão. O general Santos Cruz foi o primeiro a romper, mas isto não alterou o plano do alto comando militar ligado ao capitão. Não imaginavam, entretanto, que não teriam plenamente o controle da família presidencial. Impuseram o general Braga Neto como “Presidente Operacional”. Ainda assim, mesmo com todas as tentativas, não estão conseguindo impedir seguidas fraturas no governo.
Bolsonaro e o seu grupo mais radical, incluído o “gabinete do ódio”, diretamente ligado à milícia e grupos paramilitares, atuam com gosto de sangue e de forma beligerante, característica que ele sempre possuiu. Seus filhos comandam todos os tipos de agressões que se propagam. Primeiro o presidente ou algum ministro fazem um discurso mentiroso, o qual, em seguida, é replicado por milhares de robôs e seguidores, os quais tanto repetem que se tornam verdade para a sua base terraplanista e de setores populares sem acesso ao conhecimento. Incentivam a invasão da Venezuela, ofendem a China, negam a pandemia do Covid-19 e a todo instante criam um novo adversário na cruzada para combater o comunismo e a esquerda que, segundo eles, está em todos os lugares, desde a Organização Mundial da Saúde ou aqueles que até poucos dias atrás eram base do governo ou apoiadores do capitão. Chegam a acusar reacionários e fascistas de integrarem a esquerda por não comporem mais a base do bolsonarismo.
As mentiras alimentam o obscurantismo na sociedade e também provocam cisões na base fascista. Logo no início do mandato, rompeu com a Rede Globo, depois com outras facções, como o PSL, partido que o capitão usou para se eleger. Bebiano, ex-presidente e ex-ministro saiu do governo atirando, mas morreu antes de tornar públicas informações de interesse público, com um enfarto fulminante. A insistência em ressuscitar a ditadura, fechar o Congresso Nacional e do STF também acendeu novas divisões. Com a pandemia vieram outros rachas. Governadores da extrema direita, como Ronaldo Caiado (GO) e Wilson Witzel (RJ) terminaram por romper com Bolsonaro. A demissão do ministro da Saúde, Mandeta, uma indicação do DEM, em pleno avanço do covid-19 causou o afastamento de mais governadores, de lideranças parlamentares e outros grupos políticos da direita. Com o rompimento de Moro e a troca pública de acusações, transmitidas ao vivo pelas redes televisões, aprofunda-se a fragmentação da base que elegeu, sustenta politicamente o capitão e o projeto neoliberal.
Isto não quer dizer que haverá recuo no projeto fascista em curso, pelo contrário. A unidade em defesa do programa neoliberal segue com o apoio do Congresso, governo e mídia. Completa-se a isto que as demissões de ministros, a realização de manifestações públicas, mesmo em tempo de pandemia, com a orientação para o isolamento, significa que a base da extrema direita, formada por milicianos, generais traidores, neopentecostais, carismáticos, olavistas e alguns empresários também seguirá coesa, tudo fará para salvar o mandato do capitão. O projeto fascista é garantia da retirada de direitos e do roubo das riquezas nacionais, para isso precisam aprofundar a violência. Engana-se quem pensa o contrário.
Foram apresentados no Congresso Nacional inúmeros pedidos de afastamento de Bolsonaro, todos segurados por Rodrigo Maia, também estão protocolados pedidos de investigações no STF, algumas em curso, assim como já há uma forte campanha para que o vice-presidente, o general Mourão assuma a presidência. Desta forma a burguesia asseguraria a continuidade do projeto de entrega do patrimônio nacional ao capital imperialista, da retirada de direitos da classe trabalhadora e poderia apertar o cerco a uma possível resistência popular. Os generais entreguistas estão comprometidos com o projeto neoliberal e para isso não vacilarão em seguir com o governo fascista. O que fazer diante de um quadro tão fragmentado e opressivo para a maioria do povo brasileiro? Um governo fascista em tempo de pandemia, o que tem obrigado o isolamento de quem pode realizá-lo, somente assim é possível salvar a vida de milhões de pessoas. A burguesia, resguardada em suas casas e com a garantia de estrutura para se cuidar, exige o fim da quarentena e a retomada dos serviços e da produção, busca evitar o aprofundamento da crise do sistema capitalista e que se intensificará após o fim da pandemia. Se importa manter o controle do capital e as suas propriedades, que os pobres, negros e mulheres da classe trabalhadora assumam a crise e morram para salvar o sistema.
A esquerda tradicional, as centrais sindicais e os movimentos sociais demonstram um abatimento e apatia que interessa somente aos donos dos meios de produção e aos capitalistas. Não mostram ter a capacidade de apontar uma direção que organize, conscientize e mobilize a classe trabalhadora para colocar abaixo o governo antipovo e antinacional. Efetivamente nada fazem para impedir que o governo fascista e a sua base sigam com o projeto neoliberal. As únicas ações realizadas se dão dentro do parlamento, onde a maioria apoia o governo e defende o neoliberalismo como a salvação de todos os males.
Ainda assim, diante das divisões nas bases que apoiam o projeto neoliberal que o governo do capitão encarnou, não se pode negar, há uma crise de governabilidade. Os de cima estão se engalfinhando de maneira feroz, como não se tinha visto antes na história nacional. Vários grupos tentam se salvar ao mesmo tempo, fazem acusações um ao outro, ameaças e intimidações. Uma situação que poderá levar a uma completa instabilidade e caos. Cresce a pauperização das massas trabalhadoras, principalmente com a pandemia, pois já enfrentavam antes a crise do capital, com o desemprego, baixos salários e sem garantias sociais, que foram ou estão sendo retiradas. Principalmente após a aprovação do teto de gastos, durante o governo do golpista Temer.
A esperança da burguesia está nos militares, no STF e nos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.E a classe trabalhadora e as camadas populares o que podem e devem fazer? Sem dúvida é preciso manter todos os cuidados necessários para enfrentar a pandemia, evitar a contaminação do Covid-19, que cresce e aumenta a quantidade de contaminados e mortos. Entretanto, isto não quer dizer omissão, abatimento ou apatia. A realização de programas ao vivo nas redes virtuais, sem dúvida são importantes, estão se tornando a única prática de movimentos e partidos. Como se tivessem a força real de organizar, unir e mobilizar para derrotar o fascismo e fortalecer a luta em defesa de um governo dos trabalhadores e criar as condições para a implantação do socialismo. Sem dúvida que as redes devem ser usadas para fazer a denúncia ao neoliberalismo e ao fascismo, realizar a propaganda do socialismo, animar o combate no enfrentamento ao governo e à burguesia. O mesmo em relação aos panelaços, tão comuns nos anos da ditadura na luta contra a carestia e pela anistia e agora uma ação pela saída de Bolsonaro e seu governo, precisam ser mantidos e ampliados.
Muitos trabalhadores são obrigados a saírem para o serviço ou à produção, não tem como parar o fornecimento de energia, o transporte, a distribuição de alimentos, a saúde e outros serviços necessários. Por que a militância de esquerda também não sai para fazer o trabalho necessário? A militância deve se organizar para também sair e ir fazer o trabalho político necessário. É preciso criar comandos para realizar agitações, denunciar o avanço do fascismo, a retirada de direitos e o desmonte da economia nacional, mostrar que a burguesia se protege e mantem seus privilégios, enquanto a classe trabalhadora é obrigada a trabalhar para manter o funcionamento da sociedade e os lucros dos proprietários e patrões. É preciso formar pequenos comandos, com no máximo três pessoas, que saiam para realizar comícios relâmpagos em pontos de ônibus, entrada de indústrias, porta de hospitais, supermercados, comércios, padarias, onde existir trabalhadores é importante levar uma mensagem que aponte a necessidade da unidade e organização de classe, que se propague o socialismo. É preciso denunciar o capitalismo, o imperialismo e os crimes da burguesia. É hora de fazer um discurso compreensível e que anime a classe trabalhadora à luta. Esta é uma tarefa urgente para toda a militância da esquerda revolucionária.
A história tem nos mostrado que a burguesia não vacila em atacar o povo, encarcerando, caluniando e matando suas principais lideranças e todas as pessoas que lhes desafiam. Nunca foi diferente na história da humanidade, assim como também sempre existiu lideranças que investiram e investem na conciliação, nos conchavos e em acordos entre as classes. Buscam apenas preservar seus privilégios. Fazer diferente é uma exigência que a história nos impõe, criar as condições para romper de uma vez por todas com a conciliação de classes e o peleguismo. É preciso incentivar o debate entre as forças e militantes que tenham este compromisso para que se organizem e se unam, podendo avançar na construção de um projeto nacional soberano, independente e livre, inteiramente a serviço e sob o controle da classe trabalhadora e das massas populares. É preciso criar e formar uma militância e um quartel general comprometido com as verdadeiras lutas pela libertação do povo brasileiro.
PCB, como sempre, concordo com sua colocação sobre a atual conjuntura política, e tb com as reações que necessitamos. Reagir. Não passarão!