Gregorio Gould
Salvador
Temos visto, desde o início da quarentena um grande trabalho de solidariedade de nosso povo, organizado por movimentos como o MLB, o Movimento de Mulheres Olga Benário, o MLC, a UJR, o Movimento Correnteza e dezenas de DCE’s, Sindicatos e outras entidades pelo país inteiro.
De fato, enquanto o Governo federal tentava impedir o isolamento social, chegando até a dificultar a entrega dos R$ 600,00 de auxílio emergencial ao povo, enquanto as maiores igrejas neo-pentecostais lutavam contra a quarentena para evitar a diminuição da entrada financeira através do dízimo e de “ofertas”, enquanto a grande burguesia falava em salvar CNPJ’s, quem de fato foi organizar a solidariedade para que nosso povo pobre tivesse direito à quarentena foram os movimentos combativos, ou seja, o povo organizado. Em um país marcado pela desigualdade, resultado do modo de produção capitalista, essas campanhas de solidariedade na contramão do governo e do interesse dos poderosos são um exemplo de resistência popular.
Nossas campanhas estão firmes desde o início da pandemia, de norte a sul do país, mas vale ressaltar que elas não estão restritas às favelas onde nossos movimentos já eram organizados antes. Elas se estendem em bairros onde antes não haviam núcleos do MLB. A formação de comitês de solidariedade que, com a participação ativa da comunidade local, organiza a arrecadação de donativos e a entrega aos que mais precisam. É lógico que essas comunidades nunca mais serão as mesmas, já que aprenderam, nesse momento de crise sanitária, a força da organização e da solidariedade.
Nosso povo tem abraçando algumas frases utilizadas na campanha como “Só o povo salva o povo” ou “Eles combinaram de nos matar e nós combinamos de não morrer” e dando vida a elas tem estabelecido um poder paralelo, ainda que muito embrionário. Nessas comunidades algumas famílias passam a procurar mais o movimento que o Estado e também, em alguns casos, outras formas de poder paralelo que servem aos interesses da burguesia como o tráfico e as milícias.
É certo que isso não se iniciou com a pandemia, mas só está possível pela capilaridade que os movimentos já tinham. Mas são nos tempos de crise ou maior confronto que as coisas se desenvolvem mais rápido e fica mais evidente quem está no lado de nosso povo e contra ele.
Outra questão fundamental do trabalho desenvolvido pelos movimentos já citados e pela militância da Unidade Popular, que não permite que o trabalho tenha limite assistencialista, além da participação ativa do povo na arrecadação e distribuição dos donativos, é o trabalho de consciência, que tem no jornal A Verdade sua maior força.
A verdade é que boa parte do campo democrático do país e as forças políticas identificadas como esquerda, contrapõem os intentos fascistas de Bolsonaro à defesa das instituições burguesas, que a muito estão em descrédito com o povo. É claro que precisamos combater o plano golpista do presidente fascista e é melhor democracia burguesa que ditadura burguesa, mas é preciso, mais que nunca, desenvolver a organização popular com a perspectiva de construir uma democracia popular.
Nesse momento, o povo percebe, que organizado pode resolver seus problemas, garantir que ninguém passe fome, se ajudar mutuamente. Assim, fica mais palpável a proposta do poder popular, que é exatamente o povo organizado para dirigir a sociedade de acordo com os interesses coletivos e dirigido pela classe que produz as riquezas, a classe trabalhadora.
Precisamos intensificar esse trabalho e pôr no centro dele o objetivo de organização do povo. As cestas básicas entregues são de muita utilidade para as famílias, mas o avanço do ponto de vista da organização do povo e do crescimento dos movimentos sociais é um passo muito significativo para nossa classe no processo da luta de classes. Lembrando que precisamos derrubar o governo fascista e construir um governo popular, sair mais organizado e mais fortes moralmente dessa quarentena é fundamental para o próximo momento, que dificilmente não será de grandes mobilizações e revoltas.