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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Preservação da memória ou colonização cultural?

Foto: Reprodução

Por Amanda Alves e Milena de Souza.

A burguesia utiliza-se dos seus diversos meios de dominação para se esconder do povo a verdadeira história do nosso país, pelos meios de comunicação e pelos conteúdos passados nas escolas. Conta-se mentiras, a primeira, sobre o descobrimento do país em 1500, negando a existência de lideranças indígenas  antes da colonização e que resistiram durante o período, como Sepé Tiarajú, líder da República Guarani e Aimberê da confederação dos Tamoios, A classe dominante em toda a história é a responsável por representar os setores mais atrasados, e em suas raízes os senhores de escravos, colonizadores e hoje os grandes empresários utilizam a repressão e exploração para impedir a tomada de poder da classe oprimida, que é no nosso país formada majoritariamente pelo povo preto, pobre, indígenas e mulheres. É de interesse de classe a modificação dos valores dos nossos símbolos, o apagamento dos nossos verdadeiros heróis, a criação de uma história verdadeira apenas para uma classe.

Com o advento da segunda guerra mundial foram determinadas, por meio de convenções e acordos internacionais, pela preservação de monumentos em nome da memória. Este foi um importante passo na manutenção das materialidades históricas e que traçou caminhos para avanços como tombamentos e registros de patrimônios classificados como materiais ou imateriais. No entanto, com as grandes organizações internacionais comandadas em peso pelos países imperialistas, as políticas de conservação construídas por elas seguiram sua lógica eurocêntrica, no Brasil o instrumento legal para proteção do patrimônio compreendido institucionalmente enquanto material, através do decreto lei nº25, de 30 de novembro de 1937, instituiu os livros tombo: histórico, de artes aplicadas, de belas artes e o arqueológico, etnográfico e paisagístico. Determinações que em suas próprias nomenclaturas já expressam seu caráter europeizado.

O artigo 1º do decreto lei citado, publicado durante o Estado Novo, época de Getúlio Vargas diz que: a conservação dos bens deverá ser de interesse público e que ele estará vinculado com os fatos memoráveis da história. O território torna-se cerimonial ao conter os símbolos de uma identidade brasileira mascarada nos interesses burgueses, celebra-se esse patrimônio histórico constituído pelos acontecimentos fundadores, os heróis da classe dominante que protagonizam uma história coberta de sangue e genocídio, personagens que possuem a sua imagem resguardada e que  evoca e esconde uma desigualdade e opressão de uma classe pela outra, preservando à origem e a memória de uma história que não é a história que representa  nosso povo.

Precisamos questionar quantos monumentos representando nossos verdadeiros heróis, povos originários, revolucionários, intelectuais progressistas, há em nossas cidades? E comparar quantos bandeirantes, marechais e demais exploradores do povo são retratados em museus, estátuas e até mesmo nomeiam avenidas? Até mesmo as poucas representações simbólicas dos nossos são produzidas de maneira fetichizada e sob o olhar colonial na maioria das ocasiões. Essas construções de narrativa buscam o ocultamento do povo enquanto protagonista da sociedade.

Toda obra artística e produção carrega em si a visão de mundo de quem a produziu ou mandou a produzir, não há como desvincular o fato ideológico por trás de esculturas expostas nas ruas das cidades. Essa fatos memoráveis da história representam uma farsa, a imagem de heróis da burguesia apaga a importante contribuição coletiva de todo um povo para a construção da nação brasileira. O ser humano é um ser social e a nossa história não é formada por indivíduos, produzimos nossa história de maneira coletiva.

Durante um processo revolucionário conservarmos estes bens, como os monumentos e patrimônios impostos pelos opressores será também conservar simbolicamente o que significou as ideias de uma classe dominante. É necessário destruirmos o que hoje são os herdeiros desses personagens assassinos dentro da sociedade, ou seja, destruirmos a burguesia e principalmente, o estado burguês e o sistema capitalista. É necessário lutarmos pela construção de uma sociedade onde o povo exerça o seu poder e com suas próprias mãos pegue de volta todos os símbolos que a ele pertence, que decorre a cidade com a representação da sua verdadeira história, de seus interesses enquanto classe.

Nos recentes levantes populares do Chile os manifestantes levantaram uma bandeira mapuche sobre uma estátua de representação dos militares, no levante antiracista dos EUA a situação se repete. É nítido aí qual a representação e qual o símbolo do povo. Na Bolívia, durante golpe sofrido pelo presidente eleito Evo Morales, foram queimadas whipalas, bandeiras que simbolizam a luta e a resistência dos povos indígenas. O impacto cultural dos símbolos apenas será verdadeiramente representativo quando emanar o poder popular e não for um eco das opressões e dominações do imperialismo e da burguesia.

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