Júlia Ew e Jahy Pronsato
FLORIANÓPOLIS – A greve dos trabalhadores da limpeza urbana de Florianópolis iniciou nesta segunda-feira (15), após longo período de estado de greve, para reivindicar a manutenção de seus direitos, que estavam sendo atacados pelo governo Gean Loureiro em meio a pandemia. Os trabalhadores da limpeza urbana, categoria que presta serviço essencial à sociedade e que não teve suas atividades paralisadas em nenhum momento durante a pandemia, estando exposta aos diversos riscos que essa situação implica, exigiram o retorno do pagamento do terço de férias e do décimo terceiro, direitos do plano de carreira da COMCAP, além do direito dos trabalhadores a receber o auxílio-alimentação conforme acordo coletivo sem restrições.
A greve foi deliberada em uma histórica assembleia que reuniu dezenas de trabalhadores na garagem da empresa, mantendo a distância recomendada de segurança, utilizando-se máscaras e álcool em gel. “Foi uma assembleia bem tensa, eu acho. Porque a gente tá vivendo um processo totalmente novo né, a variável da pandemia é uma coisa totalmente nova. Não é um processo simples e rotineiro como uma greve que a gente sempre faz por acordo coletivo por reajuste de salário, não tem nada a ver com isso. Todo passo é um passo novo, porque a situação que a gente tá vivendo, o contexto que a sociedade está inserida hoje é totalmente diferente. Então é um processo que o pessoal sabe que precisa, mas não sabe como vai ser a repercussão, o funcionamento”, afirmou Sandro, trabalhador da COMCAP e conselheiro do conselho deliberativo do sindicato da categoria.
Sobre o reconhecimento dos trabalhadores da categoria nesse momento de pandemia, Ivan, que trabalha há onze anos na empresa, afirma: “nós estamos igual os médicos, trabalhando excessivamente para não deixar o lixo porque se não tiver coleta vai ter rato, vai ter mosquito da dengue, essas coisas, então é tão essencial como a saúde, por isso nós estamos trabalhando tanto, ai pra chegar num ponto desse e cortar nossos direitos, que a gente está dando tanto valor a isso, sendo que de repente viram as costas pra nós porque a saúde é privilégio, pô, nós estamos igual ao pessoal da saúde, merecedores eles como nós também”.
A grande mídia, que até ontem chamava os trabalhadores da limpeza urbana de “heróis”, posicionou-se de forma contrária à greve buscando tornar a opinião pública contra estes, quando lutam por seus direitos. Sobre a repercussão da greve na cidade, Sandro afirma categoricamente: “a maioria da população reconhece nosso trabalho e entende nossas reivindicações. O ataque que vem da mídia… a gente sabe que a mídia é comprada né, infelizmente no Brasil a mídia não é isenta, é tendenciosa e é paga, a mídia serve ao interesse do governo”.
Mesmo enfrentando dificuldades como tentativas de criminalização do movimento e ataques da mídia, os trabalhadores da limpeza urbana conquistaram uma proposta da prefeitura sem perda de nenhum direito e sem punições à categoria, garantindo o pagamento de 1/3 das férias; do adiantamento do 13′ salário até 30/6; do adiantamento do salário aos funcionários que solicitarem; reconhecimento do direito a progressão e da gratificação das férias, com avaliação do pagamento retroativo em setembro, conforme condições financeiras do município e criação de uma comissão de trabalhadores para tratar do Plano de Incentivo aos Aposentados (PIA), como consta nas páginas do SINTRASEM (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis). Sem dúvidas, a greve dos trabalhadores da COMCAP mostra a vital necessidade de organização da classe trabalhadora, pois mesmo em meio à pandemia, a luta de classes não para.
Trabalhadores Deixam Recado para Leitores do Jornal A Verdade
Sandro, trabalhador da COMCAP e conselheiro do conselho deliberativo do sindicato da categoria: “Um recado que eu poderia deixar pros leitores do Jornal A Verdade é que perseverem, que se atentem as lideranças políticas das categorias e não se amedrontem perante esse governo que tá aí hoje. Esse governo que está aí está pressionando, estão fazendo força, eles têm apoio financeiro, os grandes geradores de dinheiro do país estão apoiando eles, mas nós é que tocamos o Brasil, o trabalhador é que toca o Brasil, não é o dono da Havan que toca o Brasil, é quem trabalha, quem recebe e quem vai gastar lá na Havan, nós temos a força, não eles!”
Alexsandro, trabalhador da limpeza urbana presente na assembleia: “Nosso trabalho é por amor ao que a gente faz, então o recado que a gente dá é que nós estamos parando pelo excesso de trabalho que a gente tá fazendo durante a pandemia e não fomos valorizados sendo que ainda querem cortar os direitos que a gente tem, então que a população enxergue pelo lado excessivo de trabalho cansativo que a gente tá tendo”