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sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A farsa da meritocracia na educação

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Foto: Reprodução

Por Giselle Woolley

PERNAMBUCO – Uma das estratégia do capitalismo é distorcer palavras para que se tornem parte do fortalecimento de sua cultura, um desses termos é a meritocracia. Nos discursos observados na mídia burguesa, a intenção de convencimento é apenas uma: A aprovação do ENEM ocorre pela meritocracia, ou seja, se você foi um aluno estudioso e dedicado, irá ingressar na universidade, caso não entre, o problema está no aluno, que não dedicou tempo necessário a sua educação.

Uma pesquisa realizada em 2017 na UnB (Universidade de Brasília) mostrou que apenas 0,16% de jovens de baixa renda ingressavam na universidade, que dizer, a cada 600 jovens que realizam a prova, apenas 1 consegue a vaga e tem mais, dados do questionário sócio econômico como : cursar o ensino médio em colégio público, não ter carro, não ter computador, não ter acesso à internet nem telefone fixo, frequentado escola com pouca infraestrutura e renda familiar inferior a um terço do salário mínimo, correspondem a um peso de 85% dos fatores determinantes de quem ingressa no ensino superior público, comprovando que a aprovação nada tem a ver com a dedicação pessoal, que a falha está neste sistema econômico que tem como objetivo manter os trabalhadores nos subempregos garantindo a exploração burguesa.

Dentro desse mínimo grupo  (0,16%) , ainda é possível notar que muitos dos cursos optados pelos estudantes não são de fato o curso almejado, já que os cursos mais concorridos nas universidades públicas já estão reservados, em sua maioria, para os alunos vindos de classe econômica alta, um exemplo é o curso de medicina, um estudo que traçou o perfil social dos estudantes do curso de saúde, realizado pela UFPE ,mostra de 96,4% das  pessoas que cursam medicina pertencem a chamada elite da sociedade e apenas 2,9 correspondem a jovens de classe baixa.

E este tipo de sectarismo é demonstrado na sociedade: Falta de médicos no SUS, nos interiores, em aldeias, regiões ribeirinhas, falta médico humanizado, isto porque precisamos garantir que a grande representatividade do povo chegue até estes cursos e nossa representatividade não é esta corja de capitalistas que veem a vida do povo como mercadoria.

O acesso remoto a aulas durante a pandemia, evidenciou a desigualdade social e dificuldade ao acesso à educação, mostrando que a meritocracia no Brasil é apenas ilusão. Pesquisa realizada pela TIC Domicílios 2019, mostra que cerca de 30% das famílias no Brasil não têm acesso à internet destas, 29,3% não tem rede de água e 60% não tem acesso a rede de esgoto, já no grupo de pessoas com renda mensal de até um salário mínimo, metade não consegue utilizar a conexão em casa, enquanto que nas classes sociais mais altas, apenas 1% não tem conexão.

Um outro dado importante: na classe social alta 90% dos alunos têm notebook e 49%, tablet, no que diz respeito as classes sociais mais baixas os índices são de 3% e 4%, respectivamente, fazendo do celular o único meio de acesso as aulas remotas, o que não garante a qualidade na visualização de conteúdo, vídeos, interação com professores e compatibilidade com aplicativos exigidos para aula.

Mesmo diante destas condições nada iguais entre a classe trabalhadora e a burguesia, foi necessária uma mobilização geral dos estudantes pedindo o adiamento do ENEM, protestos e muitas mobilizações virtuais, campanhas e por fim a derrota no senado, com 75 votos a favor do adiamento e 1 contra, vindo do líder de Queiroz, o senador Flávio Bolsonaro. Foi proposta uma votação para decidir o melhor dia do ENEM (entre os meses de Dezembro, Janeiro e Maio/2021), a maioria dos estudantes decidiram pelo mês de Maio (49,6% dos inscritos), porém, como costumeiro deste governo burguês, o resultado da votação não foi respeitado e a opinião pública da maioria foi descartada sem qualquer argumentação plausível.

A reação da maioria das instituições particulares, sobre esta decisão antidemocrática, não surpreendeu, comemoraram a data já que os jovens da classe trabalhadora, pobres e periféricos tiveram sua chance, de concorrer a uma vaga, surrupiada mais uma vez. É necessário perceber que Ingressar numa universidade não implica apenas no significado vendido pela burguesia capitalista de “mudar de vida” baseado no salário depois de formado, ter acesso à educação de qualidade, a ambientes onde o debate é estimulado, onde o indivíduo é encorajado a ampliar sua mente, abre os olhos pra esta exploração e opressão que os trabalhadores sofrem desde a implantação desde sistema econômico covarde e violento, que é o capitalismo. A burguesia deseja manter essa “venda”, pois sabe que um povo livre das amarras capitalistas determinadas durante tanto tempo, não aceitará o descaso e a imposição, e desta forma realizará a grande revolução socialista, se libertando dos grilhões desses opressores podres.  

O fascista Jair Bolsonaro sempre defendeu uma escola sem partido, mas o que a burguesia não deixa claro é que este apartidarismo é seletivo, apenas para classe trabalhadora. Os cursos mais concorridos tem ideologias burguesas muito bem estabelecidas, as instituições particulares são regidas por partidos, o ministro da economia Paulo Guedes e sua família são um dos exemplos, estes são investidores de universidades particulares e desde 2019, início da gestão, as universidade públicas sofrem com cortes de verba, Lenin, sempre atual em suas pontuações, traz  no seu discurso realizado 1919 a essência hipócrita da crença capitalista:  “Hipocrisias da burguesia é a crença segundo a qual a escola pode ser apartada da política.    Vocês sabem tão bem quão falsa essa crença é. A própria burguesia, a qual advoga esse princípio, faz sua própria política burguesa a pedra angular do sistema escolar, e tenta reduzir a escola ao treino de servos dóceis e eficientes à burguesia, reduzir a educação universal para o fim de treinar servos dóceis e eficientes para a burguesia, ou escravos e instrumentos do capital. A burguesia nunca pensou em dar à escola o sentido de desenvolver a personalidade humana.”

Como afirmava Paulo Freire “educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Dito isto, nós trabalhadores precisamos nos organizar, elevar nossa consciência e seguir nossa formação visando a nossa luta de classe. Nosso inimigo é o sistema capitalista, que se esforça diariamente para nos manter longe do conhecimento, determinar nossas escolhas profissionais, este sistema é mentiroso, egoísta e falido, fala de meritocracia mas não nos dá essa igualdade, afirma que educação é “direito de todos e obrigação do estado”, mas esses “todos” não chegam até as ocupações, periferias, zona rural, territórios indígena ou quilombolas. A classe trabalhadora unida irá mudar a sociedade e a educação é um dos caminhos, afinal “ideias são mais letais que armas” (Vladimir Lênin).  

 

 

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