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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Os protestos Black Lives Matter nos Estados Unidos

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O DIREITO A RESPIRAR – Luta contra racismo e contra a violência policial mobiliza milhões de trabalhadores e trabalhadoras negros. (Foto: Reprodução/Yorker)
Celina Guimarães
Correspondente do Jornal A Verdade

NOVA IORQUE (EUA) – Basta estar vivo para sentir a energia que emana das ruas dos Estados Unidos. É uma onda que atinge com força quem participa e até quem não participa dos protestos nas mais de 300 cidades do país. Como destacou Noam Chomsky, o intelectual, ativista, analista político e linguista norte-americano. Em entrevista a Michael Brooks, da revista Jacobin, Chomsky destacou a dimensão dos protestos e o apoio popular que eles têm. Um apoio maior até do que Martin Luther King, o líder do movimento de direitos civis, chegou a ter na época em que fez o histórico discurso “I Have a Dream” (Eu tenho um sonho, em tradução livre), em março de 1963, durante a manifestação por trabalho e liberdade.

Liberdade e trabalho continuam na agenda dos norte-americanos, especialmente os negros. Liberdade para respirar sem medo. Foi a morte de George Floyd, em Minneapolis, asfixiado por um policial que pressionou o pescoço dele, com o joelho, até a morte, que detonou a onda de protestos no país. Mas a movimentação, que, à primeira vista, pareceu brotar do nada, tem história. Vem se adensando com as violências repetidas, gravadas, expostas ao mundo pelos aparelhos de telefone celular. E o que está em jogo agora não é apenas a exigência de mudança nas práticas policiais. Isso é o que alguns meios de comunicação estabelecidos e os políticos desgastados e desconectados da realidade querem fazer parecer. A pauta vai mais fundo na briga contra o racismo estrutural, contra quatro séculos de abusos.

O grande desafio é compreender se a força, palpável, à vista, vai se sustentar nos meses e anos que virão. Porque não vai ser rápido promover as mudanças necessárias. Em entrevista a um canal de TV britânico, o comediante Jon Stewart (comediante que tem força política, faz a cabeça da juventude e é um crítico e analista político sério, no estilo Gregório Duvivier) destacou que vai ser impossível consertar 400 anos de racismo e opressão em três semanas. Vai ser preciso muita disposição e persistência. E ele se perguntou se, nesses tempos efêmeros de Twitter, canais de notícia 24 horas, rapidez e pouca paciência, vai ser possível manter a briga pelo tempo necessário. “Espero que sim!”, concluiu.

Aos 91 anos, com os olhos treinados na leitura das lições da História, Chomsky disse que os protestos hoje são resultado de vários anos de um ativismo intenso. Com destaque para a organização Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que tem forçado o país a olhar com atenção para cada uma dessas arbitrariedades da polícia contra os negros. Ao contrário de John Stewart, Chomsky tem uma perspectiva de prazo mais longo e diz que todo processo tem sempre momentos de avanço e de retrocesso. Foi assim com o movimento de direitos civis, com os direitos dos homossexuais, com os direitos das mulheres. Mas agora o que se vê e que não estava nas ruas antes é uma coalizão mais ampla. E não é à toa.

O Black Lives Matter surgiu durante o governo de Barack Obama e cresceu mobilizando comunidades locais diante de casos concretos de violência. Mas esta é a primeira vez que o movimento, aliado a outros grupos, atingiu essa dimensão nacional. Ele não é o único grupo à frente dos protestos, mas é certamente o mais visível. E lidera a briga pela redução do orçamento dos departamentos de polícia, que são municipais, para que o dinheiro seja aplicado nas necessidades das comunidades negras, especialmente com escolas. O ensino tem todas as marcas da segregação racial. As escolas públicas são municipais também e a maior parte da verba que elas recebem vem dos impostos pagos pela população do distrito onde está a escola. Claro que as escolas públicas dos bairros ricos são também mais ricas, têm melhor alimentação, melhores equipamentos e instalações, etc. Por isso, não basta que as polícias proíbam golpes como asfixiar com o joelho no pescoço ou com uma gravata. Para respirar de verdade, vai ser preciso brigar contra as estruturas que mantém os negros asfixiados de forma bem mais ampla.

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