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domingo, 22 de dezembro de 2024

Os Subterrâneos da Liberdade

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NÔMADE – Jorge Amado, antigo revolucionário e escritor do povo brasileiro escreveu a trilogia em 1954, na Tchecoslováquia enquanto viajava pelas Repúblicas Populares e a URSS. (Foto: Reprodução/Acervo Fundação Casa Jorge Amado)
Queops Damasceno
Partido Comunista Revolucionário

SÃO PAULO – Recentemente o Partido Comunista Revolucionário (PCR) indicou para toda a militância a leitura da obra “Os Subterrâneos da Liberdade” de Jorge Amado. Sem dúvidas uma leitura muito importante para, olhando o passado, entendermos melhor a conjuntura política em que atuamos, a movimentação das classes, a disposição da burguesia associada ao imperialismo e a tradição de luta do povo brasileiro.

O romance composto por três livros se passa no período do golpe, dado por Getúlio Vargas em 1937, que implanta o Estado Novo, até 1940, quando ocorre o julgamento do líder do partido comunista, Luís Carlos Prestes, preso desde 1936. Jorge Amado descreve com maestria a luta do partido na clandestinidade, os esforços de seus militantes para mantê-lo crescendo, dirigindo as greves operárias, as lutas camponesas, e desenvolvendo o enfrentamento teórico, político e ideológico com os diversos setores da sociedade, mesmo com a intensificação da repressão defendida pela constituição imposta.

Os Ásperos Tempos

No primeiro livro, ganha destaque a luta interna contra os oportunistas de origem pequeno-burguesa que se encontram na direção do partido, influenciando-o e afastando-o da classe operária. O famoso trotskista Hermínio Sachetta é representado pelo personagem Saquila, chefe dessa turma.

Numa luta dupla, o partido enfrentava, por um lado, a ditadura que empapava as ruas de Santos com o sangue dos estivadores. Estes haviam realizado uma greve heroica para impedir o carregamento de um navio que levaria café aos soldados do fascista Franco na Espanha. E de outro lado, lutava internamente contra a fração de Saquila que dificultava ao partido o controle da gráfica, sumia com as finanças de vários apoiadores e colaborava com informações à imprensa burguesa e à polícia.

Em meio a esse enfrentamento, se elevam quadros revolucionários como Carlos Marighella, representado pelo personagem Carlos, e outros membros do secretariado de São Paulo. Juntos conseguem se ligar à base operária do partido, realizar novos recrutamentos, alargar o raio de ação das células, aumentar as lutas e o trabalho de massa, recolher as contribuições e garantir a distribuição da imprensa.

Além da direção, as vitórias do partido eram asseguradas pela entrega total, voluntária e consciente, dos demais militantes. Mariana, Negro Doroteu, Negra Inácia, José Gonçalo e o velho Orestes são personagens que simbolizam a militância de centenas de outros camaradas. Estes dirigiam os sindicatos, as greves, os enfrentamentos armados no campo, a ligação com os intelectuais e a transmissão das orientações da direção às células. Numa via de mão dupla, absorviam e transmitiam a experiência adquirida pelas células à direção. As células funcionavam como verdadeiros sensores para o partido, tão importantes quanto os sentidos para um ser humano.

Agonia da Noite

Com uma imensa sensibilidade, Jorge Amado também descreve personagens de outras classes sociais. O banqueiro Costa Vale que juntamente com Getúlio flerta o capital da Alemanha de Hitler e termina sucumbindo às ordens dos capitais norte-americanos. Retrata os homens e mulheres da burguesia nacional, latifundiários e políticos que aproveitam esse ruído entre os capitais imperialistas e se intrigam na cena política nacional, tentando envolver a classe operária e o conjunto do povo para suas ideias de democracia burguesa, limitada aos marcos do capitalismo. Apresenta os personagens da pequena-burguesia que obtém ganhos econômicos com o novo status quo e outros que entram em decadência. E delineia também os intelectuais, os seus pensamentos, uns comprometidos com a luta do povo brasileiro, outros que se vendem aos poderosos muito facilmente, pela sua própria origem de classe.

A luta de classes é assim retratada com muita riqueza em todos os seus aspectos. As concepções de mundo, de amor, de família, de relacionamento, de solidariedade e de amizade estão todas submetidas a essa luta durante todo o desenrolar da trama. E uma impressão fica muito presente para o leitor: as classes se manifestam em tudo, até nos mínimos detalhes, em todos os aspectos da vida.

A complexidade é tal que a trilogia também aborda o acirramento que leva à Segunda Guerra Mundial, a disputa entre os comunistas e os nazifascistas, a guerra civil espanhola, a ocupação da França por Hitler e, três meses depois de começada a guerra, o ataque dos soviéticos à Finlândia. Boa parte desses acontecimentos contam com a presença ou com o olhar do simpático tenente Apolinário, personagem que representa o histórico Apolônio de Carvalho, transferido pelo partido para a Espanha para combater as falanges franquistas.

A Luz no Túnel

No terceiro tomo, novas batalhas eram travadas no Brasil, o governo e a burguesia se decidiam pelo aprofundamento da repressão. Ocorria a prisão de camaradas do secretariado e de vários outros companheiros. A descrição das torturas realizadas pelos agentes do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS é um dos pontos altos e mais chocantes da obra. A polícia de São Paulo chegava mesmo a fazer incursões em outros estados, como no Mato Grosso, onde a Vale do Rio “Salgado” era inaugurada, para explorar o manganês brasileiro, expulsando os caboclos de suas terras. É que lá também estavam os comunistas lutando. E para lá, havia de se deslocar a repressão.

Por tudo isso e por vários outros motivos, torna-se indispensável essa leitura por parte da nossa militância. As classes se movimentam cada vez mais bruscamente em nossa atual conjuntura. O presidente da república, o ex-capitão Jair Bolsonaro, é um fascista e por trás dele, as mesmas forças armadas que dirigiram todos os Estados de Exceção que subjugaram nosso país no decorrer de nossa história.

Nós comunistas não nascemos ontem, não combatemos de agora, temos uma larga experiência de luta, e somos filhos da mais poderosa de todas as classes, a classe operária internacional. Precisamos, portanto, absorver o máximo de ensinamentos desses livros e dar continuidade à tradição de combatividade e imensa capacidade de organização dos marxista-leninistas de ontem e de hoje.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom artigo de recomendação de leitura do livro do Jorge Amado. Vou procurar ler esse livro. Será fácil achá-lo?

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