Lene Correia e Tiago Santos
SERGIPE – A experiência do sistema capitalista tem sido de exploração e de dizimação dos povos que se rebelam contra ele. Observamos que a expansão do comércio mundial e a busca por novos mercados consumidores resultou na invasão de inúmeros territórios pelos colonizadores, e foi assim com os povos indígenas do nosso território.
Nesse lugar onde a terra era coletivizada entre os indivíduos das tribos indígenas, instaurou-se a propriedade privada. Nas terras que seriam o Brasil, foram implantadas as Capitanias Hereditárias, em que eram escolhidas pessoas ricas e amigas da Coroa Portuguesa para governar. Tal prática privou os nativos do trabalho na terra, instaurando a fome e a miséria para aqueles que já não podiam ter direito ao lugar que sempre fora seu para plantar e comer.
Porém, muitos povos nativos resistiram. Um dos líderes desta resistência foi Serigy. O grande comandante liderou diversas vitórias do seu povo, mesmo lutando por vezes em desvantagem contra um aparato bélico muito superior. Serigy tinha ao seu lado características que todos nós devemos ter: disciplina, espírito de sacrifício e abnegação à causa da luta pela libertação do seu povo.
O Cacique Serigy nasceu no século 16, não se sabe a data correta. Poucos estudos mais profundos foram feitos em específico ao nosso herói. O que se sabe é que sua tribo vivia entre o que hoje são os rios Vaza Barris e Sergipe. Ele era um índio astuto, que na resistência à invasão portuguesa manteve relações com os franceses para conseguir armamentos europeus, a fim de tentar igualar o confronto.
O Cacique Serigy também conseguiu mobilizar outras tribos, como a do Cacique Pacatuba (que também nomeia uma cidade). Era uma luta que tinha tentativas de unificação de forças nativas contra a invasão portuguesa. Cristóvão de Barros, submetido aos mandos de Felipe, rei da Espanha e de Portugal no período chamado de União Ibérica, monta uma esquadra de guerra, investe muito pesado em armamentos para desmantelar os quase dois mil índios providos de táticas de guerrilha e poucas armas europeias, arcos e flechas, mas com muita coragem.
Cristóvão de Barros enfrentou outros caciques como Japaratuba (que também é homenageado dando nome a uma cidade) e Aperipê. Mas, além da bravura desses que tombaram, o mais resistente e astuto foi certamente o Serigy. Serigy, junto a sua tribo, lutou por cerca de 30 anos (1560 a 1590), resistindo contra o poder colonial. Outro ensinamento forte do índio guerreiro Serigy foi o de não delatar e da lealdade a sua causa. Em momento algum aderiu às negociações com o Governo Ibérico e seu enviado, Cristóvão de Barros. Com a derrota das tribos protetoras defendidas pelos indígenas, a conquista do território sergipano significou o triunfo dos grandes latifundiários, como resultado da ganância e da exploração, as terras foram tomadas, os lares destruídos e os índios mortos ou escravizados.
A Força do Exemplo Vive!
Mesmo diante de ofertas do carrasco Cristóvão de Barros, o Cacique Serigy escolheu lutar pela preservação do seu povo, pela justiça e pelo direito à terra. Por esta opção coerente, Serigy foi covardemente assassinado. Porém, como aqueles que, ao longo da história da humanidade caíram em combate na luta, Serigy permanece vivo, mesmo mais de 400 anos depois de sua covarde morte, em cada luta de cada índio deste país. A cada retirada de direitos, ele ressurge da revolta de cada indígena que se rebela contra o podre capital.
Porém, a força de Serigy é tão grande que deu nome ao estado de Sergipe. Também a Frente Antifascista em Sergipe tem como referência histórica este que foi um dos maiores guerreiros do Brasil, que, por isso, chama-se Frente Antifascista Índio Serigy, que luta por resgatar a memória deste herói nacional, revelando a identidade de luta contra a opressão e escravidão por que sofreram e sofrem os pobres sergipanos nas mãos de quem detém o poder da terra.