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sexta-feira, 26 de abril de 2024

A quem serve as drogas?

ALIENAÇÃO DE CLASSE – As drogas são um instrumento chefiado e organizado pela burguesia para alienar a classe operária, criar um névoa que impede a classe trabalhadora de enxergar a revolução na ordem do dia. (Foto: Reprodução/Adam Maida)
Alex Feitosa

NATAL (RN) – Em sua maior parte, o debate que é feito hoje sobre a questão do uso e da descriminalização das drogas é superficial e desconsidera completamente a quem serve o comercio e consumo das drogas no mundo. Quando se levanta o quanto se lucra e quem são as principais vítimas, fica evidente o quanto o tráfico e uso de drogas têm favorecido a burguesia.

Vivemos em uma sociedade dividida em classes sociais. De um lado, a imensa maioria da população, que não tem nada a não ser sua força de trabalho, que vende em troca de um salário miserável e, de outro lado, uma minoria proprietária dos meios de produção que vive da exploração de bilhões de seres humanos. Daí resulta a fome, miséria, desemprego e violência.

Portanto, a causa da violência que aflige as comunidades pobres não provém do tráfico de drogas, mas este é um componente a mais, uma consequência mesmo deste sistema injusto em que vivemos o capitalismo.

Descriminalizar ou mesmo legalizar o uso e comércio das drogas não diminuirá a violência, nem os danos causados pelo seu uso. Isto fica evidente quando os dados revelam que a droga que mais mata no nosso país é o álcool. Na verdade, isso beneficiará as grandes corporações capitalistas que lucraram bilhões com a morte e a destruição de vidas humanas. Ou não é assim com a indústria das bebidas alcoólicas e de cigarros?

Não podemos ser ingênuos e achar que o estado burguês irá agir em benefício dos mais pobres, que são na realidade os que mais sofrem com o tráfico de drogas. Nem muito menos isto irá diminuir a violência contra os pobres e negros das periferias. Como sabemos as atividades criminosas não se restringem ao tráfico e enquanto houver desemprego e miséria o crime organizado encontrará campo fértil para recrutar os jovens das periferias do país. A violência é direcionada a uma classe social e é inerente ao próprio sistema capitalista e isso fica evidente ao verificarmos quem hoje lota os presídios brasileiros.

O nosso papel deve ser esclarecer as causas da violência e não as esconder atrás de um discurso falacioso de que esse seria o caminho de aplacar a violência e os danos causados pelo uso das drogas lícitas ou ilícitas. Ou alguém acredita que assim a miséria, a fome e o desemprego irão acabar? Que o estado capitalista deixará de cumprir o papel de carrasco da classe trabalhadora, ou que a polícia deixará de matar pretos e pobres, ou mesmo que o racismo desaparecerá? Não! Isto não acontecerá enquanto houver capitalismo

Isto não quer dizer as pessoas dependentes devam ser tratadas como criminosas, mas sim como um problema de saúde pública. Devemos atuar na defesa da vida e nossas reivindicações devem apontar no sentido de garantir direito ao tratamento adequado aos dependentes químicos.

Quem lucra com o tráfico?

De acordo com dados do Escritório da ONU contra Drogas e Crimes o comércio ilegal do crime organizado registra ganhos anuais de mais de US$ 2 trilhões. Este número equivale a cerca de 3,6% de tudo o que se produz e é consumido no planeta em um ano, ou a quatro vezes o PIB da Argentina e quase dez vezes o da Colômbia.

O último relatório do Fórum Econômico Mundial fez uma estimativa menor – mais de US$ 1 trilhão – com base em uma pesquisa de 2011 feita pelo Global Financial Integrity (GFI), um centro de estudos de Washington.

O GFI elaborou seu relatório a partir de 12 atividades ilegais e as cinco primeiras são estas.

1º Narcotráfico: US$ 320 bilhões;
2º Falsificação: US$ 250 bilhões;
3º Tráfico humano: US$ 31,6 bilhões;
4º Tráfico ilegal de petróleo: US$ 10,8 bilhões;
5º Tráfico de vida selvagem: US$ 10 bilhões.

Se juntarmos a estas cifras os ganhos com outras atividades criminosas (desde o tráfico de órgãos até a venda de obras de arte) a soma chega a US$ 650 bilhões.

E se levarmos em conta que a maioria das transações são feitas em dinheiro vivo, a lavagem de dinheiro se transforma em um grande negócio que explica a soma total de mais de US$ 1 trilhão citada pelo Fórum Econômico Mundial.

Em 2003 os ganhos com narcotráfico chegavam perto dos US$ 320 bilhões, uma cifra equivalente a 1% do PIB mundial.

A produção se concentra nos países em desenvolvimento e o principal destino são os mercados em países como Estados Unidos e países da União Europeia.

Em 2008 o rendimento econômico do mercado americano de cocaína chegou a US$ 35 bilhões. O cultivo de coca nos países produtores recebeu cerca de US$ 500 milhões.

No Brasil, o negócio gira aproximadamente R$ 15,5 bilhões ao ano, de acordo com levantamento da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados, realizado em agosto de 2016.

Com lucros bilionários é evidente que este negócio está sob controle da grande burguesia internacional e seus sócios, a burguesia dos países dependentes e em particular sob a tutela do capital financeiro que garante a lavagem do dinheiro através dos paraísos fiscais. Não é à toa que até hoje ninguém foi preso por conta de um helicóptero com 450 kg de cocaína flagrado em uma fazenda de deputado no Brasil.

Centenas de milhares de vidas destruídas todos os anos

Por outro lado, quase 200 mil pessoas morrem por ano devido ao consumo de narcóticos ilegais, entre sobredoses e problemas associados e atualmente há 27 milhões de dependentes no mundo, segundo o diretor executivo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, sigla em inglês), Yuri Fedotov.

No Brasil, entre 1996 a 2010, os índices de mortes pelo uso de drogas pularam de 14,2 mil para 22,5 mil, segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, o Datasus. Pior: não estão contabilizadas algumas doenças provocadas pelo abuso de drogas, como o câncer de pulmão, nem os homicídios atrelados ao tráfico de entorpecentes.

Além disso, o Ministério da Saúde estima que há no Brasil 600 mil dependentes de crack, em sua maioria jovens, número que pode chegar a 1.200.000 segundo alguns estudiosos.

O uso de drogas matou 40.692 pessoas no País entre 2006 e 2010, uma média de 8 mil óbitos por ano. Estudo sobre mortes por drogas legais ou ilegais, registradas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, mostra que o álcool é o campeão na mortandade.

As duas principais drogas legalizadas no País, álcool e fumo, juntas, segundo o estudo, mataram 39.198 pessoas em cinco anos – ou 96,2% do total.

Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Mauro Aranha, o problema é bem maior. “Há aí uma clara subnotificação das mortes”, afirma. Segundo ele, o governo precisa melhorar a logística nos municípios para que os médicos possam informar os dados reais. “Isso é fundamental para que se possa trabalhar políticas públicas sobre drogas”, defende Aranha.

Ideologia, eu quero uma para viver!

A burguesia, através de seus meios de comunicação, tenta apresentar o uso das drogas como algo romântico, rebelde e libertador. Tenta apresentar jovens expressões artísticas, que morreram de overdose, como símbolos e ícones para a juventude. Quando na verdade estes foram também vítimas do capitalismo e morreram sem poder desenvolver todo seu potencial intelectual e artístico. Vidas foram interrompidas cedo demais.

Com isso pregam a ideologia burguesa do individualismo, da satisfação do prazer pessoal, do egoísmo como caminho para felicidade enquanto o mundo sucumbe diante da ferocidade do capitalismo imperialista. O que querem na verdade, é alienar parcelas da juventude da sua verdadeira condição de oprimida.

Assim fez a burguesia estadunidense para acabar com o partido Panteras Negras. Introduziram as drogas nos bairros negros para desorganizar a luta contra o racismo e pelos direitos civis nos EUA.

 O que querem é entorpecer a consciência da juventude e da classe trabalhadora com drogas lícitas e ilícitas para que não lutem pelos seus direitos, contra os capitalistas e seus governos. E se com isso ganham bilhões de dólares todos os anos tanto melhor para eles.

Por isso devemos afirmar que nossos heróis não morreram de overdose, mas na luta contra o odioso sistema da morte, da opressão e da violência. Os nossos heróis são Che Guevara, Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Olga Benário, Carlos Lamarca, Margarida Maria Alves, Sônia Angel e tantos que deram o que tinham de mais precioso na luta pelo fim das injustiças, suas próprias vidas.

A verdadeira liberdade está na consciência da necessidade de por fim ao sistema capitalista que só tem a oferecer a morte, a dor e sofrimento a juventude. A verdadeira rebeldia está em ter atitude e fazer com que mais e mais jovens lutem contra a opressão e abracem a causa do socialismo.

Portanto, se queremos ser consequentes na nossa luta contra o capitalismo devemos combater o uso das drogas e de seu comércio porque estas estão a serviço dos capitalistas e não dos trabalhadores e da juventude. Se quisermos que a violência contra a juventude pobre e negra das periferias do país acabe, lutemos contra a sua verdadeira causa, enfim, lutemos para por fim a classe dos capitalistas e seu sistema.

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